Transformações institucionais e a formação dos quatro Departamentos
Finalmente, Barão Geraldo
Naquela altura, transformações físicas também aconteciam na Unicamp. O campus novo em Barão Geraldo estava sendo construído. O prédio do Instituto de Física no local atual só seria inaugurado em 15 de agosto de 1970. Na verdade, o Instituto mudou-se para o campus um pouco antes, tendo por um curto período funcionado em salas sublocadas do prédio da Engenharia Mecânica.
Em 31 de agosto de 1971, o nome passou a ser Instituto de Física Gleb Wataghin, em homenagem ao pesquisador da USP nascido na Ucrânia e de nacionalidade italiana que introduziu a Física Moderna no Brasil, iniciou as pesquisas experimentais em raios cósmicos (as teóricas tinham um precursor desde 1934 com Bernhard Gross (1905-2002), no Instituto Nacional de Tecnologia do Rio de Janeiro) e é considerado por muitos o "pai da física brasileira", por sua influência decisiva na modernização no ensino e na pesquisa em física no país.
Gleb Wataghin nos anos 1970
Paisagem desértica
Nessa época, o aspecto físico do campus parecia mais um conjunto de instalações "no meio do nada". A imagem abaixo, de 1970, mostra o acesso ao campus, com o IFGW e o Instituto de Química à esquerda e os prédios I e III à direita. Depoimentos de pessoas que trabalhavam naquela época várias vezes usam a expressão "deserto" para o ambiente ao redor. Contam eles também que havia grande quantidade de beija-flores - conseguia-se capturar e soltá-los facilmente. À noite, se a janela ficasse aberta, infestava de borboletas e grandes insetos. Ali próximo, havia um bambuzal que por vezes queimava, enchendo o local de fuligem. O calor era grande, mas o ar-condicionado era uma "mordomia".
Acesso ao campus universitário em 1970. À esquerda, o Instituto de Química (mais à frente) e o de Física. À direita, os blocos I e III. Note-se a distância entre as duas partes da Unicamp
Acervo Histórico do Arquivo Central/Siarq
O ambiente institucional também estava ainda sendo "construído". Zeferino fora nomeado reitor pro tempore enquanto a universidade estivesse em processo de implantação e não havia prazo para isso terminar. Não havia carreira docente e pesquisadores e professores podiam ser contratados e ter sua contratação não renovada pelo reitor sem grandes burocracias. O estatuto permanente ainda não existia; sofreria uma reforma drástica nos anos 1980.
A saída de Damy
Quando o reitorado de Zeferino completou, em 1971, quatro anos - que era o tamanho comum dos mandatos de reitor no Brasil -, oposições internas a essa situação começaram a se agravar. Nesse ano, o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Fausto Castilho, foi afastado do cargo e na sequência teve seu contrato não renovado, por causa de diversas divergências mais antigas com o reitor. O mal-estar foi tamanho que alguns professores se demitiram, entre os quais o diretor do Instituto de Física, Marcelo Damy. Seu mandato terminou na mesma época (início de 1972) e ele não quis renová-lo. Foi sucedido por Rogério de Cerqueira Leite, que passou então a continuar o trabalho de construção do Instituto.
A formação dos quatro Departamentos
Mas alguma alteração no nível institucional dentro do Instituto de Física era inevitável, por causa da chegada do pessoal do estado sólido e da grande diversificação e aumento de escala das pesquisas que se seguiu.
A criação de novos departamentos era a mais visível. A estrutura departamental era uma exigência da Reforma Universitária de novembro de 1968, que extinguiu o sistema de cátedras – comumente visto como oposto ao de departamentos, apesar de os dois terem coexistido na legislação e em casos concretos pelo menos de 1937 a 1968. A razão é que o professor que ocupava o status de catedrático possuía grande autonomia e autoridade dentro de sua instituição e, além de possuir vitaliciedade e inamovibilidade, era o elemento centralizador das decisões (possuindo inclusive a prerrogativa de escolher chefes de laboratório, auxiliares de ensino, assistentes, chefes de clínica). Já o departamento, como concebido, tem como princípio a corresponsabilidade de todos os seus membros.
A Unicamp possuiu estrutura departamental desde o seu início. Com a chegada do pessoal de Sérgio Porto, foi criado o Departamento de Física do Estado Sólido, ao lado do já existente Departamento de Raios Cósmicos (hoje, após mais diversificação das atividades, chamado "de Raios Cósmicos e Cronologia", DRCC). Os físicos do estado sólido ao redor do mundo, após alguns anos, passaram a estudar também líquidos e a expressão "Física do Estado Sólido" ficou anacrônica; a área, assim, passou a chamar-se "Física da Matéria Condensada" e o nome do departamento foi alterado para "Departamento de Física da Matéria Condensada" (DFMC).
Uma das linhas que começaram quase imediatamente depois que os novos pesquisadores chegaram contemplava a pesquisa sobre lasers e semicondutores para as comunicações ópticas e a microeletrônica. Foi criado, para isso, o Departamento de Física Aplicada (DFA) (o primeiro do tipo no Brasil), por José Ripper Filho, que se tornou seu primeiro chefe. Em 1976, como dito acima, foi inaugurado o Departamento de Eletrônica Quântica (DEQ), para acomodar as linhas de pesquisa planejadas por Sérgio Porto. Porto é tido como o responsável pela formação do DEQ.
Estes quatro departamentos formam a estrutura que existe até hoje no IFGW.
O IFGW em 1971