História do IFGW
- Início
- A Instituição
- História do IFGW
Vista aérea parcial do campus da Unicamp em Barão Geraldo no início dos anos 1970 e em 18/08/2004, de ângulos semelhantes. Vê-se o Instituto de Física dentro do retângulo laranja
Acervo Histórico do Arquivo Central/Siarq
O Instituto de Física Gleb Wataghin foi instituído em dezembro de 1966 e começou suas atividades no início do ano seguinte. Este texto pretende elucidar como as primeiras linhas de pesquisa começaram. A maior parte das pesquisas atuais têm suas origens ligadas de uma forma ou de outra a essas primeiras linhas, às vezes após mudanças drásticas de rumos ou grandes diversificações de interesses.
Entre os resultados de mais visibilidade obtidos pelos pesquisadores do IFGW durante sua história, podem ser citados:
Nos últimos 20 anos, as áreas de pesquisa acompanharam a evolução das pesquisas no mundo e se expandiram para temas como a nanociência, sistemas fortemente correlacionados e a biofísica, tendo surgido vários grupos ligados a essas áreas.
O texto a seguir está dividido em duas partes. Primeiro, um resumo das origens do IFGW, cobrindo até o ano de 1972; depois, uma história estendida de sua formação e evolução até 1980.
Os construtores: Marcelo Damy (à esquerda), que organizou o IFGW em seu início, e Zeferino Vaz, reitor da Unicamp de 1966 a 1978
Arquivo Central/Siarq
A universidade de uma só faculdade - A Universidade Estadual de Campinas foi instituída em 28 de dezembro de 1962, então com a sigla UEC. No entanto, era constituída de apenas uma unidade, a Faculdade de Medicina, e assim permaneceu por quatro anos. O que era, aliás, contra a legislação da época, que exigia quatro unidades para que uma instituição fosse considerada uma universidade. O Instituto de Física nasceu por causa de uma grande reforma desencadeada pelo Conselho Estadual de Educação, com o objetivo de sanar esse “defeito”. Assim, em 19 de dezembro de 1966, foram criadas nada menos que nove novas unidades, entre as quais o Instituto de Física.
A fim de instalar tudo isso, foi nomeado reitor pro tempore Zeferino Vaz, que ocuparia o cargo durante 12 anos. Para organizar o Instituto de Física, Zeferino convidou o eminente físico brasileiro Marcelo Damy de Souza Santos.
O IFGW e o projeto da Unicamp - Para acomodar os novos institutos e faculdades, foi planejado um novo campus, a ser construído onde então existia um canavial, numa fazenda perto de Barão Geraldo que foi comprada pelo Estado.
O plano inicial era inserir o Instituto em uma estrutura urbana orgânica com as diversas unidades de forma integrada, que permitisse que a produção científica, cultural e educacional funcionassem de maneira harmônica entre as diversas áreas, compartilhando cursos e recursos. O oposto disso era uma universidade formada pela simples reunião, sob uma mesma administração, de diversas faculdades totalmente autônomas entre si, como foram as primeiras do país. A Unicamp seguiria uma estrutura do geral para o particular, do centro para a periferia:
Essa ideia era a culminação de um processo de experimentos e aprendizados sucessivos sobre estrutura de campus universitários que envolveram, nessa ordem, a USP, o ITA, a UnB e a Universidade do ABC. Grosso modo, o resultado final na Unicamp seguiu em parte esse esquema, ainda que com muitas variações.
O campus orgânico: esquema da concepção inicial da Unicamp, segundo Fausto Castilho
F. Castilho, "O conceito de universidade no projeto da Unicamp", Editora da Unicamp, 2008
Aqui o IFGW iniciou suas atividades: prédio do Ginásio Industrial Bento Quirino, anos 1960
Arquivo Central/Siarq
O IFGW em locais improvisados - A construção dos prédios em Barão Geraldo só deslancharia a partir de 1969. Mas uma universidade é feita primordialmente de pessoas e Zeferino não esperou o fim das construções para contratá-las. Tratou de conseguir os professores necessários alugou prédios e salas em Campinas para alocar as aulas e os laboratórios temporariamente.
A física funcionou inicialmente em um prédio alugado já em janeiro de 1967, recém-abandonado pelo Ginásio Industrial Bento Quirino, que foi para outro local. Hoje, lá funciona o Colégio Técnico de Campians (Cotuca). As primeiras aulas de física começaram em abril. Em agosto, outro prédio foi alugado, o anexo do antigo Colégio Ateneu Paulista (que não existe mais). Nos andares de baixo, eram dadas as aulas de laboratório (as de Química no térreo e as de Física no primeiro). No andar de cima, eram as aulas teóricas, junto com toda a área das Exatas – Física, Química, Matemática e as Engenharias.
As pessoas antes dos prédios: o primeiro corpo docente - Para conseguir um corpo inicial de docentes e pesquisadores, a Unicamp aproveitou os que já existiam em duas outras instituções: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro e a de Farmácia e Odontologia de Piracicaba. Ambas foram simplesmente anexadas à Unicamp, já em janeiro de 1967. Na de Rio Claro, havia um departamento de Física e seus professores foram incorporados ao Instituto na Unicamp.
Porém, quando os docentes de lá começaram a se mudar para Campinas, a sociedade rioclarense alarmou-se, temendo perder sua faculdade. O povo de lá se orgulhava de sua instituição. A reação local foi intensa e envolveu diversos setores – imprensa, poder legislativo, estudantes pré-universitários e até uma loja maçon. A mobilização acabou fazendo com que a anexação fosse revertida em setembro de 1968. Mas os professores que tinham vindo a Campinas ficaram e formaram, com mais três docentes contratados do ITA, o primeiro corpo docente do Instituto de Física. Todos eles eram voltados à física do estado sólido.
Origem dos primeiros docentes do IFGW: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro
Fonte: Unesp
Uma sumidade no IFGW: César Lattes nos anos 1980
foto de Antoninho Perri
A chegada de César Lattes - Para organizar o Instituto de Física, o coordenador Marcelo Damy pensou inicialmente em três áreas principais: os raios cósmicos, a física nuclear e a física do estado sólido. Os raios cósmicos eram uma tradição da pesquisa brasileira desde os estudos de Gleb Wataghin na USP nos anos 1930; a fértil atuação de vários cientistas nacionais nessa área, inclusive do próprio Damy, indicava um futuro promissor. Para formar um grupo nesse tema, convidou seu ex-aluno César Lattes. Este famoso físico já era conhecido internacionalmente por ter descoberto em 1947 o méson pi, confirmando a teoria quântica das forças nucleares de Hideki Yukawa (o que, dois anos depois, rendeu ao japonês o primeiro prêmio Nobel do seu país, seguido no ano seguinte pelo do chefe do grupo de Lattes, Cecil Powell).
Lattes no porão do Cotuca: a origem do DRCC - Na época em que transferiu-se da USP para a Unicamp, Lattes realizava uma sequência de descobertas de “bolas de fogo”, eventos extremamente energéticos nos raios cósmicos, alguns dos quais ainda sem explicação consensual. O cientista chegou em agosto de 1967 e trouxe uma linha de pesquisa já consolidada, uma equipe já experiente, um nome de peso e uma colaboração internacional, entre Brasil e Japão, firmada em 1962.
Como o campus ainda não estava pronto, seu grupo trabalhou inicialmente nos porões do atual edifício do Cotuca. Lattes ia com alguns colegas até o pico Chacaltaya, nos Andes bolivianos, e colocava ali chapas fotográficas especiais para captar raios cósmicos. Após algum tempo, elas eram trazidas ao porão do Cotuca para serem reveladas e analisadas, em busca de informações sobre esses raios e sobre a física das partículas. O grupo de Lattes foi a origem do atual Departamento de Raios Cósmicos (DRCC) do Instituto de Física da Unicamp.
Os primórdios do Deptº de Raios Cósmicos: cientistas do IFGW trabalhando no porão do colégio Bento Quirino nos anos 1960
Antoninho Perri/Siarq/ - Acervo de Edison Shibuya
A física do estado sólido no IFGW: Zoraide Argüello (anos 1970), que produziu os primeiros cristais semicondutores da América Latina
A física do estado sólido - E os outros grupos de pesquisa? Vimos acima que Damy planejou três grandes áreas para o Instituto de Física: raios cósmicos, física nuclear e física do estado sólido. A dos raios cósmicos foi implantada graças a César Lattes. A física nuclear não foi organizada, pois Damy saiu antes disso, em março de 1972. A de física do estado sólido foi construída a partir de 1970 por Sérgio Porto e Rogério Cezar de Cerqueira Leite e originou vários grupos de pesquisa (aos quais se juntaram os pesquisadores vindos de Rio Claro). A ideia inicial era produzir cristais, caracterizá-los e construir dispositivos com os mesmos (microeletrônicos, lasers etc.). Logo parte da equipe dedicou-se ao estudo do laser e suas aplicações – já que grande parte dos brasileiros que passaram pelo Bell Labs lidavam com esse tema. Todas essas equipes originaram os outros três departamentos do IFGW.
Sérgio Porto - Assim como Damy e Lattes, Sérgio Porto também já era um físico renomado quando chegou na Unicamp vindo da Universidade do Sul da Califórnia, onde trabalhava. Havia dado inclusive uma contribuição fundamental à física em 1961, quando conseguiu fazer espectroscopia Raman com laser. Até então, o efeito Raman era obtido com lâmpadas de gás de mercúrio; a descoberta de Porto tornou essa técnica de investigação da estrutura da matéria muito mais precisa e potencializou seu uso em pesquisas científicas. Era nessa área que ele trabalhava ao vir para Campinas. Acontece que Porto também havia formado, durante os anos 1960, um grupo de físicos brasileiros trabalhando nos Laboratórios Bell, nos EUA. Em 1970, eles já estavam dispersos pelos Estados Unidos, mas ainda se relacionando e com a ideia de voltar ao Brasil. Foi essa equipe que foi para a Unicamp nos primeiros anos da década de 1970 para formar os grupos de estado sólido.
Sérgio Porto, um dos líderes da equipe de física do estado sólido que chegou a partir de 1970
Paisagem desértica: vista aérea parcial do campus de Barão Geraldo nos anos 1970
Arquivo Central/Siarq
As dificuldades - Tudo isso pode parecer bastante simples contado desta forma, mas na realidade era preciso dinheiro para implantar tudo isso. Lattes chegou com uma equipe pronta e suas pesquisas não demandavam muitos equipamentos caros, mas o que aconteceu a partir de 1970 foi a formação de grande número de grupos, com muitos equipamentos, a ponto de Porto ter exigido um prédio inteiro para o que planejava (ocupado pelo atual Departamento de Eletrônica Quântica). Além disso, a Unicamp, na época, parecia um deserto – o campus de Barão Geraldo já estava sendo construído, mas a paisagem era lunar. Como profissionais competentes e estudantes foram atraídos para um tal local?
Conjunturas favoráveis - A resposta à última pergunta passa pela fama de Zeferino, Damy, Lattes e Porto, pela reconhecida importância das pesquisas que os dois últimos realizavam, e também pelo projeto urbanistico da Unicamp, considerado muito moderno. Havia um clima de entusiasmo entre alunos e docentes que chegavam e que sentiam estar participando de um projeto muito promissor desde o seu nascedouro. Mas, além de tudo isso, havia também a tranquilizante constatação de que o dinheiro estava fluindo para a nova universidade, o que lhe garantia um futuro promissor.
E estava fluindo em boa parte de recursos governamentais, como Fapesp, CNPq, Ministério do Planejamento e, pouco depois, Finep. Esta última, aliás, teve participação muito importante no orçamento do Instuto de Física nos anos 1970. Recursos também vinham da própria Unicamp e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Uma das razões para que isso pudesse acontecer é que o governo federal da época da ditadura militar (1964-1985) tinha uma ideologia desenvolvimentista e centralizadora e apostava nas pesquisas científicas em prol do avanço tecnologia. Assim, em 1967, foi lançado um Programa Estratégico de Desenvolvimento; um dos seus objetivos era reduzir a dependência do país em fontes externas de conhecimento cientifico e técnico. Em 1968, foi decretada a Reforma Universitária e instituídos os Centros Regionais de Pós-Graduação. Além disso, a economia vivia a fase pujante do Milagre Econômico, que durou até 1974. Portanto, a conjuntura econômica e política era favorável ao desenvolvimento de um projeto como o do Instituto de Física da Unicamp – e ainda mais porque Zeferino tinha trânsito tanto na linha dura quanto na linha moderada do regime.
Desta vez, as pesquisas custariam mais dinheiro: equipamentos para experimentos com laser e o físico Sérgio Porto, anos 1970
Arquivo Central/Siarq
Os físicos do IFGW nos anos 1970
Foto de Antônio Lúcio
Rápido crescimento - Com a conjuntura propícia e gente capaz de aproveitá-la, o Instiuto de Física da Unicamp expandiu-se rapidamente. Em março de 1970, iniciou-se efetivamente a sua pós-graduação, organizada por Nelson de Jesus Parada. Em março de 1971, havia, além de Damy e da equipe de Lattes, 20 professores, 12 instrutores, 13 bolsistas e 10 técnicos. Durante esse ano, foram admitidos mais 19 docentes, 7 instrutores e 3 técnicos. Em março de 1972, havia nove grupos de pesquisa, sendo um de raios cósmicos (que se desdobrava no grupo de Lattes e no grupo da colaboração Brasil-Japão) e oito de física do estado sólido. Naquele momento, havia 40 alunos inscritos na pós-graduação. Tudo isso, apesar de, no início de 1972, grande parte dos equipamentos de pesquisa ainda não terem sido recebidos e de as instalações dos laboratórios e da biblioteca terem sido iniciados no ano anterior. O que não impediu que, em novembro daquele ano, fossem produzidos no Instituto os primeiros cristais semicondutores da América Latina.
A implantação da infraestrutura - O aluguel dos prédios improvisados em Campinas terminou em 1969 e o Instituto de Física ficou algum tempo funcionando temporariamente nas dependências da Engenharia Mecânica. A partir de fevereiro de 1971, começou a mudança do Instituto para os novos prédios no novo campus. As instalações incluíam não só laboratórios e as salas de professores, do pessoal administrativo e de aulas, mas também laboratórios de aulas práticas, a biblioteca, vidraria e oficina mecânica. O nome passou a ser “Instituto de Física Gleb Wataghin” em agosto de 1971, em homenagem ao físico ucraniano radicado na Itália considerado o pai da física no Brasil.
O IFGW em 1971
Arquivo Central/Siarq
Montagem com os prédios principais dos quatro departamentos do IFGW
A formação dos departamentos - Assim, os quatro departamentos que hoje formam o IFGW formaram-se nos seus primeiros anos:
O IFGW e a crise do petróleo - A partir de 1973, com a crise do petróleo, vários grupos se aplicaram na pesquisa de fontes alternativas de energia: fusão nuclear, enriquecimento de urânio a laser, hidrogênio, energia solar e até produção de derivados do petróleo a partir do carvão, sem precisar do “ouro negro”. Apareceram também pesquisas para relacionadas a combustíveis tradicionais, como as sobre catálise para aumentar a eficiência dos motores de carro. Com o fim da crise dos combustíveis, alguns desses grupos desviaram seus interesses para pesquisas mais básicas. Outros continuaram na mesma linha, como o do hidrogênio, que chegou a construir o protótipo de um carro a hidrogênio.
Energia alternativa: o Vega II, carro elétrico movido a célula combustível, feito no IFGW
Fonte: Laboratório de Hidrogênio (LH2)
Fibras ópticas produzidas no IFGW
Fonte: Grupo de Fenômenos Ultrarrápidos e Comunicações Ópticas (GFURCO)
O IFGW desde 1980 - Nosso resumo das origens do Instituto de Física Gleb Wataghin termina aqui. Nas décadas seguintes a 1980, o Instituto continuou crescendo, trazendo várias constribuições importantes, como a tecnologia do nióbio, as fibras ópticas, a primeira cirurgia oftalmológica do país, as primeiras células solares da América Latina, o carro a hidrogênio. Apesar de o setor de física nuclear não ter sido implantado de início, essa área desenvolveu-se naturalmente no Instituto. As pesquisas acompanharam a abertura de novas áreas, como a nanociência, e expandiram-se para outras, como a biofísica, a física médica e a teoria e a história da ciência. Observou-se também uma expansão dos grupos teóricos nos últimos 20 anos. Entre as novas infraestruturas foram construídas, destacam-se o Centro de Computação, em 1984, e o Laboratório Integrado de Ensino de Física, nos anos 1990. Enquanto isso, as pesquisas em tecnologia contribuíam decisivamente para a transformação de Campinas em um pólo tecnológico. Nas páginas a seguir, há uma narrativa expandida da história do Instituto desde seus primórdios até 1980.
O Instituto de Física Gleb Wataghin esteve entre os primeiros a serem instituídos na Unicamp. O início de sua formação está indissociavelmente ligado ao modo como a própria universidade se constituiu.
A Unicamp surgiu a partir de uma campanha em Campinas para ser construída na cidade uma faculdade de medicina. O movimento vinha pelo menos desde 1946, quando o jornalista Luso Ventura (falecido em 1975), editor-chefe do jornal campineiro "Correio Popular", começou a escrever artigos defendendo que uma instituição assim fosse fundada no local.
Após idas e vindas e alguns decretos que ficaram só no papel, a Universidade Estadual de Campinas (então "UEC") foi finalmente criada em 28 de dezembro de 1962. Sua única unidade, então, era a Faculdade de Medicina, que funcionava na maternidade, pois o campus atual ainda não havia sido construído (sua pedra fundamental seria lançada apenas quase quatro anos depois, em 5 de outubro de 1966). A lei de criação (lei 7655/1962), em seu Artigo 28, previa: “a Universidade de Campinas iniciará suas atividades didáticas no ano de 1963, com os seguintes órgãos” – e enumerava oito faculdades e institutos, entre os quais um de Física. Essas unidades, porém, só vieram a ser construídas a partir de 1966, no novo campus.
Edifício da Maternidade de Campinas, local onde se instalou inicialmente a Faculdade de Medicina. Campinas, SP. 1963
Acervo Histórico do Arquivo Central/Siarq
A Comissão de instalação das outras unidades - Do modo como foi criada, porém, a Unicamp não estava em situação totalmente regular segundo a legislação da época, pois esta exigia pelo menos quatro unidades para que a instituição pudesse ser considerada uma universidade. Diante disso, o Conselho Estadual de Educação propôs ao governador de São Paulo a criação de uma comissão para organizá-la e formar novas faculdades e institutos. Desta iniciativa sairia o Instituto de Física, entre outros.
A comissão foi criada em 9 de setembro de 1965. O cargo de reitor da Unicamp, que já tinha sido ocupado por dois professores – Cantídio de Moura Campos (1889-1972) e Mário Degni (1911-1996) – foi suspenso e o presidente da comissão acumulou a função de reitor pro tempore até que a nova universidade estivesse plenamente instalada. Seu nome era Zeferino Vaz.
O polêmico Zeferino Vaz - Zeferino (1908-1981) era um homem extremamente dinâmico e tinha experiência no ramo - já tinha criado a Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto. Mas era também polêmico. Não só porque tinha sido nomeado pelo governo federal interventor na Universidade de Brasília, em abril de 1964, quatro dias após a mesma ser invadida por tropas do Exército; mas também porque Zeferino, nos anos 1950, havia se manifestado explicitamente contra a instalação de uma faculdade de Medicina em Campinas e em 1959 uma comissão presidida por ele acabou preferindo criá-la em Botucatu (o argumento era que a cidade estava a apenas 100 km de São Paulo e era preciso descentralizar o ensino médico). As pessoas que estiveram envolvidas na campanha pela opção campineira não o viam com bons olhos.
No entanto, o novo reitor entrou de cabeça na nova atividade e, nos 12 anos em que ficou no cargo, gerenciou a formação de uma das mais importantes instituições de ensino superior do país. Além disso, com trânsito tanto na linha dura quanto na linha moderada do governo militar (1964-1985), conseguiu trazer pessoas de todo o espectro ideológico ("dos meus comunistas cuido eu", teria dito a autoridades militares), chegou mais de uma vez a ir pessoalmente às prisões do Dops para soltar estudantes encarcerados por motivos políticos e conseguiu evitar que a Unicamp sofresse intervenções federais. Tudo isso durante o período mais duro do regime, a presidência de Emílio Médici (1969-1974), enquanto instituições congêneres como a USP e a UnB convulsionavam.
Na verdade, Zeferino não era facilmente enquadrável em esquemas no estilo "bom-mau", "positivo-negativo". Várias pessoas que o conheceram testemunham que ele era uma pessoa autoritária, um "senhor de baraço e cutelo" capaz de atropelar quem se punha no seu caminho. Outras pessoas que igualmente o conheceram testemunham indignadas que isso não é verdade e que era alguém afável e compreensivo, ainda que firme. Todos concordam em que tinha grande carisma pessoal e dinamismo.
Zeferino Vaz (à direita) e Gleb Wataghin durante a visita deste último à Unicamp, em 1971
Interação com os empresários - Outra característica de Zeferino foi fundamental para o desenvolvimento posterior do Instituto de Física: a crença em que parte da pesquisa acadêmica deveria estar estreitamente articulada com a produção industrial. Desde o início, ele fomentou essa interação. A primeira reunião sua com empresários foi em 13 de setembro de 1966. Nesse encontro, explicou-lhes o que era a nova universidade e como seria a aproximação da mesma com a indústria, solicitou o uso de oficinas por estagiários e pediu-lhes que formassem um grupo de trabalho para preparar um anteprojeto dos cursos de Engenharia Elétrica, Mecânica e Química, levando-se em conta as necessidades do setor produtivo. Várias outras reuniões se seguiram.
Zeferino Vaz
Fonte: 35 anos Unicamp: Ciência e Tecnologia na Imprensa
Essa idéia ia de encontro à concepção desenvolvimentista do governo militar que se instalou em Brasília em 1964. Interessado em melhorar e centralizar setores estratégicos, como comunicações e produção e distribuição de energia, e também afim com a idéia de que o progresso da ciência e da tecnologia é condição essencial para o desenvolvimento, o regime passou a agir tanto na frente institucional, criando órgãos como a Telebrás e a Eletrobrás, como na da independência tecnológica, financiando cursos universitários e instituições de pesquisa que formariam os cientistas e engenheiros necessários para isso.
Essa consonância de objetivos facilitaria a cooptação de cientistas de renome, gente experiente, com boa visão das linhas de pesquisa mais promissoras dentro das possibilidades do Brasil e com boa noção de como implementá-las. Por exemplo, quando Sérgio Porto (1926-1979), então já um físico conhecido internacionalmente na área de lasers, foi convidado por Zeferino para deixar seu emprego nos Estados Unidos e vir para a Unicamp, condicionou sua ida a um financiamento de 2 milhões de dólares para que pudesse construir um novo departamento (o de Eletrônica Quântica). A soma foi-lhe garantida pelo ministro do Planejamento, José dos Reis Veloso, e ele foi.
Consequências para o Instituto de Física e para Campinas - Parte do Instituto de Física seria influenciada por essa conjuntura. O viés desenvolvimentista de Zeferino e as boas possibilidades de financiamento ligadas à área tecnológica - bem como o magnetismo pessoal do reitor, "capaz de vender geladeira a esquimó dizendo que faz hambúrguer", nas palavras de José Ellis Ripper - foram capazes de cooptar uma primeira leva de pesquisadores que contribuiu para levar adiante o paradigma de pesquisa aplicada.
O resultado foi uma intensa interação com empresas, um equilíbrio entre a pesquisa básica e aplicada e o envolvimento direto do Instituto na formação de diversas indústrias de tecnologia. Entre 1983 e 2006, foram geradas 12 empresas a partir dos quadros do IFGW, segundo a agência Inova Unicamp. A atuação do Instituto, conjuntamente com outros da Unicamp, tornou Campinas um pólo de atração para outras empresas se instalarem ao redor da cidade.
É instalado o Instituto de Física - A Unicamp passou quatro anos tendo como única unidade a Faculdade de Medicina. A nomeação de Zeferino como reitor pro tempore foi justamente para que ela fosse expandida e pudesse ser caracterizada legalmente como universidade. Em 19 de dezembro de 1966, o Conselho Estadual de Educação deu autorização para que fossem instalados as primeiras novas unidades: os Institutos de Física, Biologia, Matemática e Química e as Faculdades de Engenharia, Tecnologia de Alimentos, Ciências e Enfermagem.
Naquele momento, a universidade contava com sete prédios espalhados em Campinas e mais um em Piracicaba e outro no distrito campineiro de Sousas - todos ocupados total ou parcialmente pela Faculdade de Ciências Médicas. O principal era a Maternidade da cidade. O Instituto de Biologia pôde funcionar provisoriamente em alguns desses prédios, especialmente na maternidade. Mas era preciso construir ou adquirir imóveis para as outras unidades.
Zeferino, porém, não queria esperar que os novos prédios fossem concluídos para começar as atividades das novas faculdades e institutos. Passou imediatamente a contratar professores e pesquisadores e a nomear diretores das novas unidades para organizarem as suas equipes docentes. No entanto, era preciso locais onde eles pudessem trabalhar. Para isso, Zeferino passou a sondar possibilidades de alugar salas, andares ou prédios inteiros pelo centro de Campinas.
O prédio do Bento Quirino - O primeiro novo local - que viria também a ser o primeiro ocupado pelo Instituto de Física - foi um belo prédio na região central de Campinas, bem ao estilo do início do século XX, construído em 1916 e 1917 e preservado até hoje. Ali funcionava o Ginásio Industrial Bento Quirino.
Porém, havia um problema: Zeferino não podia usar o imóvel exclusivamente para as suas prioridades na nova universidade, pois a legislação exigia que ele fosse usado especificamente para o ensino profissional. O caso é que o prédio do Colégio havia sido construído para cumprir as exigências do testamento de um próspero comerciante campineiro, Bento Quirino dos Santos (1837-1915). Ele reservou parte da sua herança em dinheiro para a construção e manutenção de vários estabelecimentos de cunho social, como escolas, maternidades, asilos, igrejas e orfanatos. Em particular, mil contos de réis seriam destinados à construção de um instituto de ensino profissional masculino em Campinas. Cafeicultores e profissionais liberais campineiros financiaram então a construção de um prédio para tal instituto, que veio a ser a Escola Profissional (posteriormente Ginásio Industrial) Bento Quirino.
Por isso, para poder ocupar o prédio, Zeferino instalou ali um colégio técnico. Assim foi que a segunda unidade da Universidade de Campinas, depois da Faculdade de Medicina, foi o Colégio Técnico Industrial, atual Cotuca. Nos seus primeiros dos anos, a Física teve que dividir o espaço com ele, assim como a Matemática, a Engenharia Civil e a Adminstração da instituição.
Por que o Ginásio Bento Quirino liberou o espaço para a Unicamp - A mudança do Ginásio Industrial Bento Quirino para outro lugar (no bairro Vila Estanislau), liberando espaço para a Unicamp, relaciona-se com certa conjuntura econômica e social na época. Como o prédio do Cotuca foi o primeiro a ser ocupado pelo Instituto de Física, vale a pena analisá-la. As principais fontes são a dissertação de mestrado de Lúcia Pedroso da Cruz, de 2008, e os arquivos do Siarq.
Bento Quirino dos Santos (1837-1915)
Fonte: Colégio Politécnico Bento Quirino
A instalação de um colégio técnico na Vila Estanislau era uma reivindicação das indústrias da região, da Câmara Municipal e dos representantes das entidades de classe da cidade. Associações de engenheiros industriais de São Paulo também se mobilizaram. Tratava-se do reflexo em Campinas de um processo econômico mais amplo, o aumento na industrialização do país que vinha desde os anos 1930, no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), e que teria um salto durante o governo de Juscelino Kubitschek (1955-1961). No período JK, três regiões do Estado de São Paulo se envolveram mais intensamente nessa conjuntura: a capital, Santos (com seus pólos petroquímico e siderúrgico) e Campinas. Nesta, o aumento da população e os desenvolvimentos industrial, nas redes de esgotos e em indicadores sociais como alfabetização e mortalidade infantil a colocavam em posição vantajosa como alternativa à Grande São Paulo.
No entanto, com o desenvolvimento da indústria e dos processos tecnológicos, o ensino industrial nacional tornou-se obsoleto e afastado da realidade, necessitando de profundas alterações em sua estrutura. Os setores industriais sentiam a ameaça da escassez de técnicos industriais de grau médio do segundo ciclo.
Diante disso, foi desenvolvido um amplo programa de instalação de colégios técnicos no Estado. Os promotores desse esforço foram o poder público federal e estadual, coadjuvados por associações de engenheiros industriais de São Paulo. Para se ter uma ideia da força da orientação em prol dos cursos técnicos, o MEC chegou a defender que todos os tipos de cursos ginasiais da época (tradicional, vocacional, industrial, agrícola e comercial) fossem transformados em um único tipo, o Ginásio Orientado para o Trabalho.
Escola Profissional Bento Quirino. Campinas, SP, ca. 1919. Col. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas
Centro de Memória - Unicamp
A transferência do colégio para o Estado - Nesse contexto, em 24 de julho de 1951, a Escola Industrial Bento Quirino - que até então mantinha cursos básicos e industriais - foi transformada em escola técnica, que constituiria o primeiro ciclo da Escola Técnica Bento Quirino, criada pela mesma lei.
Para que essa transformação pudesse acontecer, o governo estadual propôs que a escola expandisse seu espaço físico com a construção de novos pavilhões. Porém, durante os anos 1950, o prédio começou a apresentar crescentes problemas físicos e problemas financeiros. A Associação Instituto Profissional Bento Quirino acabou doando o imóvel ao Estado, em 1958.
Para essa transferência para o Estado, pode ter contribuído o enfraquecimento do ideal dos membros originais da Associação. Nas primeiras décadas de existência do colégio, os cargos na Diretoria eram alternados dentro do mesmo grupo de pessoas. Os sócios eram membros da elite local e aguns deles eram descendentes diretos dos fundadores do Instituto. Lúcia Pedroso da Cruz (2008) vislumbra a possibilidade de o interesse dos membros pela escola, baseada inicialmente em laços de amizade profunda que unia os primeiros sócios, ir ficando gradativamente mais tênue com o passar do tempo.
O Bento Quirino deixa o Centro - Diante da má conservação do prédio, o Estado propôs que ele fosse transferido para a Vila Estanislau, na rua Orozimbo Maia, quase esquina com José de Souza Campos. A construção do novo prédio começou em 1962. Inicialmente, a Diretoria do colégio era contra a sua transferência para outro local e também contra a transformação do seu curso ginasial num curso técnico. No entanto, rapidamente mudou de opinião. Se em setembro de 1966 o diretor substituto Álvaro França de Barros se opunha às mudanças na carta ao deputado Almeida Barbosa, em janeiro do ano seguinte ele assinava embaixo de opinião inteiramente oposta. O que aconteceu nesse meio-tempo foi o agravamento das condições físicas do colégio - eram frequentes quedas de pedaços de argamassa das paredes, as trincas aumentavam constantemente e havia forte infiltração de águas de chuva, e tudo isso pareceu imune a uma pequena reforma financiada pelo governo em 1965 - e a adesão à transformação de seus cursos ginasiais em técnicos, que demandam espaço maior do que o permitido pelo prédio da Culto à Ciência.
Nesse ínterim, entrou em cena Zeferino Vaz. Se o prédio do Bento Quirino seria desocupado, era uma oportunidade para ele colocar ali as primeiras instalações da nova Universidade de Campinas. Foi proposto que a própria universidade bancasse as reformas que o governo estadual não havia conseguido fazer durante o ano e meio anterior.
No dia 10 de janeiro, o reitor visitou o colégio junto com o presidente do Conselho Estadual de Educação, Arnaldo Laurindo, e em seguida enviou uma carta à Secretaria de Negócios de Educação pedindo a imediata transferência dos cursos do Bento Quirino para o novo prédio e a entrega do edifício na rua Culto à Ciência aos cuidados da Universidade de Campinas. Demoraram apenas duas semanas para que tudo fosse feito. O convênio entre a universidade e a Secretaria foi assinado no dia 27.
O que Zeferino colocaria no novo espaço? Primeiro, a Administração da nova universidade. No entanto, o termo de doação do prédio da Associação Instituto Profissional Bento Quirino para a Fazenda do Estado de São Paulo, aquele de 1958, requeria que ele fosse usado para uma escola profissional. Entre as unidades que o governo havia autorizado a universidade a instalar, na lei de criação da UEC de dezembro de 1962, estava um colégio técnico industrial. Zeferino, então, instalou-o lá.
Eis então que no fim de janeiro de 1967 já se tinha o espaço necessário pelo menos para as auas teóricas do Instituto de Física (as de laboratório tiveram que esperar alguns meses). Porém, para as aulas acontecerem, eram precisos professores!
A incorporação da FAFI de Rio Claro - A solução veio já no fim de janeiro. No último dia, entrava em vigor a lei que incorporava à Universidade de Campinas a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, juntamente com a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Piracicaba. Acontece que Rio Claro era um dos poucos lugares do país que tinham cursos de graduação em Física na época, tendo sido instalado lá em 1963. Na época, a maioria dos físicos brasileiros saía de cursos de Química ou de Engenharia.
No início, a nova situação pareça satisfazer as necessidades rioclarenses. Desde meados dos anos 1960, sua faculdade vinha sofrendo problemas financeiros, com consequente falta de docentes e de equipamentos. Os cursos de Física e de Matemática eram os que mais sofriam. A falta de instrumentos de laboratório era parcialmente suprida por convênios entre a faculdade de Rio Claro e de Araraquara e a Escola de Engenharia de São Carlos; equipamentos da USP também eram usados. Várias defesas de teses em Rio Claro tinham suas pesquisas feitas inteiramente em São Carlos ou na USP.
Prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro
Fonte: Unesp
Os problemas não se resumiam a falta de professores e de verbas. Havia também problemas na procura da faculdade pelos estudantes e no baixo índice de aprovação nos vestibulares. No vestibular do início de 1967, foram preenchidas pouco mais do que um quarto das vagas disponíveis. O curso de Física era o que tinha menor procura: apenas 22 inscritos nos exames, para 40 vagas - e foram aprovados apenas três (no entanto, havia a possibilidade de as vagas remanescentes serem preenchidas por excedentes de outras instituições, notadamente a USP – em Campinas, não sobraram excedentes).
A incorporação à Unicamp, portanto, parecia inicialmente um excelente negócio para os dois lados. Ainda assim, Rio Claro era apenas uma parte da solução. A marca de Zeferino na formação do pessoal docente de todas as unidades da universidade era a atração de pesquisadores de gabarito, alguns bastante famosos, inclusive estrangeiros. Para isso contribuíram o renome do reitor, o seu carisma proverbial e o próprio conceito do novo campus. Esses cientistas muitas vezes vinham de instituições bastante conceituadas. Logo na mesma época em que vieram os professores rioclarenses, chegaram também três do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA): Germano Braga Rego, João Martins e Raul Cavalheiro.
Marcelo Damy entra em cena - Mas, em 9 de fevereiro de 1967, Zeferino contratou um "peixe" realmente "graúdo", um expoente da ciência brasileira, e o colocou como coordenador do Instituto de Física: Marcelo Damy de Souza Santos. Sua tarefa era organizar o instituto virtualmente inexistente.
Naquele momento, Damy já era dono de um currículo invejável. Havia sido responsável pelo desenvolvimento do primeiro reator nuclear brasileiro e pela construção da primeira máquina nuclear do país, um betatron (um acelerador de elétrons para pesquisas em física das partículas e física nuclear). Havia fundado o Instituto de Estudos Atômicos, hoje Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e ganhado a medalha do Mérito Naval por ter desenvolvido um sonar para a Marinha brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1940, participou, com Gleb Wataghin (1899-1986) e Paulus Aulus Pompéia (1911-1992), de uma das mais importantes descobertas brasileiras no campo dos raios cósmicos, a dos chuveiros penetrantes - um tipo de raios cósmicos com alto poder de penetração na matéria, algo novo na época e que não podia ser explicado pelos mecanismos então conhecidos de produção de partículas por raios cósmicos.
Marcelo Damy (à esquerda) e seu professor, Gleb Wataghin, durante a visita deste último ao IFGW em 1971
Em 30 de janeiro de 1967, entrou em vigor a lei que incorporava a Faculdade de Ciências e Letras de Rio Claro à Unicamp. Como visto acima, em princípio era uma bênção para a instituição rioclarense. No entanto, logo apareceu a ideia de que os cursos de Física e Matemática da faculdade de Rio Claro teriam que ser transferidos para Campinas. A sociedade rioclarense reagiu, temendo perder seus cursos.
Inicialmente, vários professores e alunos de Rio Claro eram simpáticos à ideia; afinal, a Unicamp contava com recursos em termos de pessoal e de equipamentos de que a faculdade carecia. Já foram analisadas acima as dificuldades financeiras que vinham desde meados dos anos 1960, as quais se refletiam em falta de material e de docentes, no não-oferecimento de disciplinas e na diminuição do ingresso de alunos, sendo o curso de Física o mais prejudicado por este último problema.
Uma greve de estudantes rioclarenses exigindo a solução da falta de professores levou ao início do processo de integração dos cursos de sua faculdade com os da Unicamp. No entanto, paralelamente também surgiu e cresceu, entre professores e estudantes da faculdade, a ideia de simplesmente transferir os cursos de Física e Matemática de Rio Claro para Campinas. A faculdade corria o risco de perder seus cursos. Ameaça semelhante já havia acontecido em 1964, quando tentou-se transferi-los para a nascente Escola de Engenharia de São Carlos. Parte do corpo docente chegou a se mudar para lá. Houve uma reação forte da sociedade local e o processo foi suspenso.
Para várias pessoas, parecia que o mesmo estava voltando a acontecer. Em 29 e 30 de maio, dois abaixo-assinados, um de professores e um de estudantes de Rio Claro, pediam a imediata transferência dos cursos para Campinas. Foi a gota d’água. Nos poucos dias seguintes, apareceram manifestações de diversos setores da sociedade, várias em linguagem exaltada: estudantes pré-universitários, vereadores, a imprensa e até de uma loja maçon. Um mês depois, um abaixo-assinado de 3 mil assinaturas de estudantes pré-universitários levou a imprensa rioclarense a subir subitamente o tom em solidariedade aos manifestantes. O medo contaminou até a cidade vizinha de Limeira, onde o jornal local especulou se as faculdades de engenharia que iam ser construídas para serem incorporadas à Unicamp o seriam de fato. A situação se polarizou a ponto de um secretário da prefeitura reclamar que ele e sua família não podiam andar nas ruas da cidade.
A situação piorou quando começou um êxodo de professores de Rio Claro para Campinas que se estendeu pelo ano de 1967. A Diretoria da faculdade reagiu em termos duros e tentou impedir a transferência dos cursos. Em janeiro de 1968, a situação havia evoluído para uma crise com a Reitoria, que desejava a transferência dos cursos. Após cerca de um ano de reuniões entre a Diretoria, de um lado, e Zeferino e os coordenadores dos cursos de Física e Matemática, do outro, três propostas foram apresentadas ao Conselho Diretor e este decidiu pela transferência gradual dos cursos.
A Diretoria reagiu pedindo a interferência do governador do Estado, que enviou uma carta a Zeferino pedindo a suspensão do processo de integração enquanto os motivos de cada lado eram analisados pelo Conselho Estadual de Educação e pedindo propostas alternativas. Entre estas, foi aventado o desligamento da faculdade da Unicamp.
Zeferino não esperou a decisão do CEE. Enviou já em março uma carta ao órgão sugerindo o desligamento, aceito pelo Conselho dois dias depois. Foi efetivado em setembro de 1968, quando o respectivo projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Deputados estadual.
A crise acabou, mas os professores de Física de Rio Claro ficaram em Campinas, junto com vários estudantes. Foram eles o primeiro grupo de docentes do IFGW.
Veja mais detalhes sobre o caso na Conclusão.
Com espaço para as atividades universitárias e um corpo docente já em fevereiro de 1967, a primeira aula de Física da Unicamp pôde acontecer já em 25 de abril do mesmo ano, como consta no caderno de registros do Instituto. O assunto era "Introdução histórica à Óptica Clássica". Seguiu-se, no mesmo dia, "A Óptica do ponto de vista da Física Moderna" e, nas aulas seguintes, desenvolvimentos de aspectos específicos da Óptica.
O anexo do Ateneu Paulista - Mas o prédio do Bento Quirino era pequeno demais para as novas instalações da Unicamp. Durante o segundo semestre de 1967, outros aluguéis foram sendo feitos. Para as aulas da área de Exatas, foi alugado o prédio anexo do Colégio Ateneu Paulista, no centro da cidade, na esquina da rua Dr. Quirino com a 14 de Dezembro. Até então, naquele edifício de três andares funcionavam os laboratórios da escola. O contrato de aluguel foi feito em 3 de agosto de 1967 e estipulava que a Unicamp poderia utilizá-lo por 23 meses, com prorrogação automática por mais seis.
O anexo do Colégio Ateneu Paulista, onde funcionavam as aulas das Exatas da Unicamp em 1967 e 1968
Fonte: Museu da Imagem e do Som de Campinas, apud Nascimento (2007), pág. 20
Nos dois andares de baixo funcionavam as aulas de laboratório – as de Química no térreo e as de Física no primeiro. As aulas teóricas aconteciam no segundo andar, num grande auditório de 50 metros. Estas eram dadas para as turmas de toda a área de Exatas juntas – Física, Química, Matemática e Engenharias Elétrica, Mecânica, Civil e de Alimentos. Os alunos ingressavam por meio do vestibular no curso para Exatas e só no terceiro ano optavam entre uma das áreas. Havia aulas de Matemática, Estatística, Desenho Técnico, Sociologia, Biologia, Física, Química e Estudo de Problemas Brasileiros.
Os estudantes, por sua vez, eram em sua maioria de fora de Campinas e por isso moravam em diversas repúblicas no centro da cidade, na rua Culto à Ciência e nas suas proximidades.
As primeiras construções do novo campus - Enquanto isso, eram construídos os novos prédios no campus em Barão Geraldo. Os primeiros foram dois blocos, chamados I e III, onde hoje são, respectivamente, a Diretoria Geral da Administração (DGA) e o Ciclo Básico das Engenharias (o Bloco II foi construído posteriormente). No primeiro, inaugurado em 16 de agosto de 1968, foi instalado o Instituto de Biologia, que até então funcionava em dependências da maternidade. A construção do resto do campus, porém, só teve um progresso real a partir de fins de março de 1969.
Vista de parte da Unicamp, mostrando os dois primeiros prédios construídos (os blocos I e III, à direita, e outras unidades, incluindo o IFGW
Eram necessários também grupos de pesquisa e laboratórios. Para isso - para construir as bases do Instituto de Física da Unicamp -, Zeferino chamou, como vimos, um dos maiores físicos do país, Marcelo Damy de Souza Santos (1914-2009).
Damy planejou o Instituto de acordo com o que ele percebia que seriam as tendências das pesquisas em física dali para a frente, tendo em vista também as tradições acadêmicas brasileiras. Assim, 50% do espaço seria para a Física do Estado Sólido, 25% para os raios cósmicos e 25% para a Física Nuclear, sua própria área.
As tradições acadêmicas brasileiras eram representadas pelos raios cósmicos e pela Física Nuclear, dois ramos da física no qual o Brasil já tinha realizado boas contribuições, com gente como Berhard Gross (1905-2002), Gleb Wataghin, César Lattes e o próprio Damy. A Física Nuclear, na verdade, não chegou a ser implementada, pois Damy saiu do Instituto antes disso.
Marcelo Damy de Souza Santos e Zeferino Vaz no campus com os prédios ainda sendo construídos, no início dos anos 1970
Fonte: Acervo Histórico do Arquivo Central (Siarq)
Raízes da Física do Estado Sólido no Brasil - Já a Física do Estado Sólido era uma inovação, apesar de ser um assunto quentíssimo para a pesquisa tecnológica de ponta (pois lidava com os fundamentos dos lasers, transistores e circuitos integrados). Havia muito poucas pesquisas sobre isso no Brasil, ainda que tenham se destacado precursores importantes como (novamente) Berhnard Gross e Hans Stammreich.
Uma tentativa de retomar a tradição desses precursores já tinha sido feita pelo grupo de Sérgio Porto no ITA nos anos 1950, mas as dificuldades levaram a ele e, depois, outros cientistas do seu grupo a emigrarem para os EUA. Lá, passaram a fazer pesquisas com o recém-inventado laser na mesma instituição em que ele foi criado (em 1958), a Bell Laboratories. Em 1961, Porto, junto com D. L. Wood, deu uma contribuição fundamental à área, ao realizar pela primeira vez espectroscopia Raman com o laser, possibilitando o uso do efeito Raman para as pesquisas sobre estado sólido.
Conforme se verá mais adiante, vários desses pesquisadores acabaram formando o Departamento de Física do Estado Sólido do IFGW no início dos anos 1970 - isso após um de seus alunos, Rogério Cerqueira Leite, ter construído o primeiro laser do Brasil, no ITA, em 1965.
César Lattes muda-se para Campinas - A primeira área a iniciar as pesquisas foi a de raios cósmicos. Era um ramo da física das partículas que poderia ser estudada com pouco dinheiro e que permitia, apesar disso, explorar fenômenos com energias muito maiores do que com os caros aceleradores de partículas dos laboratórios (a vantagem dos aceleradores, porém, é que neles os experimentos são muito mais controláveis).
Damy chamou ninguém menos que seu antigo aluno, César Lattes, então já um físico conhecidíssimo por ter descoberto o méson pi. Segundo Eustáquio Gomes, no livro O Mandarim, Lattes havia recebido, na USP, uma cadeira catedrática feita só para ele, a de Física Superior; porém, alguns anos depois, por exigências de um dos acordos entre o MEC e a Usaid, foi preciso fazer eleições para a cátedra e Lattes perdeu-as para Jayme Tiomno. Perder uma cátedra não era uma derrota fácil de se assimilar, pois era uma instituição de bastante prestígio e, após a primeira recondução ao cargo, o catedrático poderia ficar nele vitaliciamente. Aborrecido, Lattes aceitou ou convite de Damy e transferiu para a Unicamp não só todo o seu grupo de pesquisa, como também a colaboração entre Brasil e Japão na área dos raios cósmicos, que vinha desde 1962. As pessoas que Lattes trouxe da USP incluíam Armando Turtelli Júnior, Áurea Rosas Vasconcellos, Cláudio Santos, Edison Shibuya, Margarita Ballester e Marta Mantovani.
O prestígio de Lattes somou-se ao de Damy e ao de Zeferino e foi um fator importante para atrair outros físicos competentes e experientes para o Instituto de Física da Unicamp.
César Lattes nos anos 1980
Foto de Antoninho Perri
As pesquisas de Lattes antes da Unicamp - Pois Lattes também tinha um currículo e tanto. Como as suas pesquisas na Unicamp são uma continuação do que havia feito até então, vale a pena olhar sua trajetória com mais detalhe. A sua observação do méson pi, em 1947, com Giuseppe Occhialini (1907-1993) – e usando um aperfeiçoamento nos detectores feito por Cecil Powell (1903-1969), chefe da equipe, em Londres – confirmou uma previsão teórica de 1935 do japonês Hideki Yukawa (1907-1981). Este havia formulado uma teoria quântica para as forças nucleares, que só seria consistente se existisse uma partícula nunca antes observada, hoje conhecida como "méson pi" ou "píon". Com a observação desse méson por Lattes num observatório nos Pirineus franceses, estava confirmada a previsão de Yukawa. O resultado foi que, dois anos depois, este tornava-se o primeiro japonês a ganhar um prêmio Nobel e, no ano seguinte, Cecil Powell ganhava o seu, por causa do aperfeiçoamento nos detectores (que abriu portas para a descoberta de várias outras partículas).
César Lattes e um colega preparam equipamento para deteção de raios cósmicos em Chacaltaya
O próximo passo lógico seria produzir as partículas artificialmente em um laboratório na Terra. Lattes intuiu que isso já deveria estar acontecendo, sem ninguém perceber, num acelerador em Brookhaven, nos EUA. Foi para lá e confirmou essa suposição. Pouco depois, construiu um observatório no alto do monte Chacaltaya, nos Andes bolivianos, a 5220 metros de altitude. Observatórios altos facilitam a observação de raios cósmicos porque estes sofrem menos interferência da atmosfera antes de atingir os detectores. Os japoneses se interessaram – o pico era mais alto que os que usavam no Japão – e passaram a colaborar com o Brasil na análise dos dados coletados na Bolívia.
Voltando ao Brasil, criou, junto com José Leite Lopes (1918-2006) e Jayme Tiomno, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) no Rio de Janeiro, atualmente um centro de excelência. Posteriormente, montou um grupo de pesquisa sobre raios cósmicos na USP. Em 1961, esse grupo observou pela primeira vez um fenômeno extremamente energético relacionado com a interação entre raios cósmicos e a matéria predito teoricamente por Wataghin em 1941, as "bolas de fogo". Outras observações semelhantes, ainda mais energéticas, seguiram-se - inclusive, mais tarde, no Instituto de Física da Unicamp. Alguns deles são fenômenos ainda não inteiramente explicados e ainda não observados em laboratórios na Terra, pois os aceleradores de partículas ainda não possuem energia para isso.
Site sobre César Lattes do Arquivo Central da Unicamp (Siarq).
Lattes instala-se na Unicamp - Foi essa linha de pesquisa que Lattes transferiu à Unicamp. Como os prédios do campus novo da universidade ainda não existiam, o reitor falou para o grupo se instalar nos porões do prédio do antigo Ginásio Industrial Bento Quirino. Esse grupo era o antigo Grupo de Emulsões (GE).
Fachada do Colégio Bento Quirino (atual Colégio Técnico de Campinas, Cotuca), nos anos 1960, onde começaram as atividades do Instituto de Física da Unicamp
Fonte: Arquivo Central da Unicamp (Siarq)
Ali embaixo, eram reveladas as chapas fotográficas trazidas de Chacaltaya (outras chapas eram também reveladas no Japão). Poucos meses depois de chegar, o grupo de Lattes anunciou a observação de mais uma bola de fogo, a que chamou "açu". Em 1969, foi observado a maior de todas, a "Andrômeda", que repercutiu na imprensa.
Um testemunho de um dos alunos de Lattes, Armando Turtelli, transmite uma imagem viva de como era a vida nos porões do Cotuca naquela época:
O fato de Lattes ter transferido seu grupo para a Unicamp tornou possível dar impulso às pesquisas sem grandes somas de dinheiro, pois os equipamentos já existiam, e também o observatório de Chacaltaya, os recursos humanos e a cooperação internacional, e era um tipo de pesquisa possível de ser feita no prédio do Bento Quirino. O resultado foi que, apenas dois anos depois de instalado o Instituto, este já era notícia em grandes jornais e nas edições de 4 e de 25 de junho da revista Veja - por causa das descobertas das bolas de fogo por Lattes, especialmente da Andrômeda.
Cientistas do IFGW trabalhando no porão do Colégio Bento Quirino nos anos 1960
Foto: Antoninho Perri/Acervo do Arquivo Central da Unicamp (Siarq)/Acervo de Edison Shibuya
Depois de Lattes - As pesquisas sobre raios cósmicos no IFGW aumentaram e se diversificaram ao longo de sua existência. Em meados dos anos 1990, as detecções com chapas fotográficas foram substituídas por detecções eletrônicas, que levaram ao envolvimento estreito do Instituto com o projeto internacional Pierre Auger. O objetivo deste projeto é descobrir que fenômeno astronômico pode ser capaz de produzir os chamados raios cósmicos ultra-energéticos. Uma única partícula desses raios (do tamanho de um núcleo atômico) pode ter tanta energia quanto uma bola de tênis a 100 km/h. Isto ainda não tem explicação consensual. Para encontrá-la, foram construídos dois grandes observatórios nos Hemisférios Norte e Sul.
Apesar de o observatório de Chacaltaya ter sido desativado nos anos 1990, as chapas fotográficas ainda possuem muito material não analisado ou possível de ser revisitado e os cientistas da Unicamp continuam trabalhando com elas. Além disso, as pesquisas passaram a incluir também a outra vertente da física das partículas experimental, os aceleradores de partículas, por meio de cooperações internacionais com grandes laboratórios dotados desses equipamentos, como o Fermilab, o de Brookhaven (EUA), o LVD (Itália) e o CERN (França/Suíça). Nas duas vertentes, a partir dos anos 1980, passou-se a realizar pesquisas intensas com os neutrinos, partículas envolvidas em vários fenômenos físicos cruciais, desde a astrofísica até a física fundamental. Todas essas novas vertentes são investigadas atualmente também pelo Grupo de Léptons (GL), Grupo de Estudo de Física e Astrofísica de Neutrinos (GEFAN) e Grupo de Física Teórica (GFT).
Também merece menção uma outra pesquisa iniciada por Lattes em 1970 que resultou em diversas linhas de estudos sobre Física Nuclear. Ele queria testar uma hipótese levantada pelo físico inglês Paul Dirac (1902-1984) em 1937, segundo a qual as constantes universais, como a carga do elétron, a constante de Planck, a velocidade da luz no vácuo e a constante gravitacional, não seriam totalmente constantes, mas variariam no tempo, especialmente no início da história pós-Big-Bang. Para isso, a idéia era verificar se havia algum desvio entre a observação de alguns fenômenos relacionados à Física Nuclear feita por diferentes métodos. Não se obteve precisão suficiente para se observar qualquer suposto desvio, mas isso gerou várias outras linhas de pesquisa na Física Nuclear, como as medidas de contaminação radioativa, terapias contra câncer, termocronologia (determinação das temperaturas das rochas no passado remoto) e fissão nuclear. Essa é a origem do atual Grupo de Cronologia (GC).
Metade do espaço planejado por Damy era para a Física do Estado Sólido e era necessário trazer cientistas também dessa área. Apesar de o país não ter tradição nisso, felizmente havia se formado nos Estados Unidos, ao redor do físico Sérgio Porto, um grupo de cientistas brasileiros que trabalhavam naquele país com laser e suas aplicações. Essas pessoas haviam emigrado do Brasil por falta de condições para fazer esse tipo de pesquisa aqui - e que estavam ávidos para retornar para casa. A formação desse grupo teve participação ativa de Porto: depois que ele foi promovido a supervisor de pesquisas na Bell Labs, em 1964, conseguiu que vários brasileiros fossem aceitos lá para fazer pós-graduações e pós-doutorados.
Entretanto, o que se devia fazer naquele momento no Instituto de Física seria algo em escala bem diferente do que transferir da USP para a Unicamp uma equipe pronta com tudo já disponível, entre equipamentos, cooperação internacional e linha de pesquisa consolidada (como foi o caso com Lattes). Era preciso investimento em novos e caros equipamentos. O resultado, como se verá mais adiante, foi surpreendente: um novo edifício construído, a formação de três novos departamentos, a construção de vários laboratórios equipados, a contratação de vários professores brasileiros e estrangeiros e o financiamento de pesquisa de ponta. Para entender como isso pôde acontecer - não se trata apenas de "efeito Zeferino", "efeito Lattes", “efeito Damy” ou "efeito Sérgio Porto" -, é preciso compreender a conjuntura política e econômica do Brasil da época e o que estava acontecendo na ciência no resto do mundo, especialmente com relação ao laser.
Um dos fatores-chave foi que os militares que deram o golpe de Estado iniciado em 31 de março de 1964 acreditavam na importância da ciência e da tecnologia no desenvolvimento do país. Era uma ideologia que se desenvolvia no meio militar pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando se tornou bastante evidente o impacto do desenvolvimento científico-tecnológico na capacidade de um país garantir sua soberania.
É verdade que o vínculo entre ciência & tecnologia e desenvolvimento já era percebido muito antes de 1964. O próprio processo de substituição de importações iniciado nos anos 1930, responsável por boa parte do desenvolvimento da indústria nacional, demandava formação de pessoal qualificado e pesquisa em tecnologia. Além disso, a corrida armamentista com armas atômicas entre EUA e União Soviética durante a Guerra Fria (1945-1991) reforçou a lição da Segunda Guerra sobre a relação entre ciência e soberania. Assim, a partir dos anos 1940, o governo brasileiro passou a investir na área de C&T, principalmente na Física Nuclear - e, por tabela, na Física das Partículas. Essas áreas se desenvolveram bastante no Brasil a partir dos anos 1940 e produziram a tradição nacional que inaugurou as pesquisas no IFGW com o grupo de César Lattes.
É verdade também que iniciativas importantes em políticas públicas de ciência e tecnologia já vinham sendo tomadas bem antes de 1964, como a criação do CNPq (1951) ou a do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (Funtec), no âmbito do BNDES, que foi instituído já no regime militar mas cuja proposta, redigida por José Pelúcio Ferreira (1928-2002), foi concebida e enviada ao governo pouco antes do golpe.
José Pelúcio Ferreira (1928-2002)
Porém, durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o apoio à pesquisa científica decresceu sensivelmente (o orçamento do CNPq caiu de 0,28% do orçamento da União em 1956 para 0,11% em 1961). A demanda da substituição de importações por pesquisa também diminuiu nesse período, paradoxalmente quando Juscelino inaugurou uma nova fase das substituições que se centrava em setores que exigiam alta tecnologia - produção de bens de consumo duráveis, bens intermediários e de automóveis. Seguindo o raciocínio de Regina Lúcia de Moraes Morel, uma das razões foi que, para realizar esse objetivo, "o know-how necessário será obtido nas matrizes das empresas estrangeiras, não havendo portanto demanda para as atividades científicas e tecnológicas internas" (Morel, 1979:49).
De qualquer forma, as ações pré-1964 em prol de C&T descritas acima eram iniciativas desvinculadas de um programa nacional científico e tecnológico consistente. A primeira vez em que o governo brasileiro propôs explicitamente uma tal política foi no Programa Estratégico de Desenvolvimento, apresentado em julho de 1967. A idéia era capacitar o país a desenvolver tecnologia própria e reduzir sua dependência a fontes externas de conhecimento científico e técnico. Sua importância não pára aí: suas linhas gerais, nesse item, seriam reproduzidas nos planos de desenvolvimento das duas décadas seguintes.
A ênfase nessa política era, assim, voltada ao aumento da produtividade da economia - em detrimento (mas sem causar a eliminação) da pesquisa básica e das ciências humanas. Segundo o Programa, a pesquisa deveria ser feita preferencialmente em empresas estatais. Assim, os principais locais de pesquisa tecnológica no governo militar foram instituições não-universitárias, a maioria criada durante os anos 1970 pelo governo, como Embraer, Telebrás, Cobra (computadores), Nuclebrás e Embrapa, ou então centros de pesquisa em empresas estatais, como na Usiminas, na Petrobrás (o Cenpes), na Eletrobrás (o Cepel) e na Telebrás (o CPqD).
Porém, isso não significa que o ensino universitário não foi contemplado pelo regime. Iniciativas nessa área foram tomadas desde 1964 e aprofundadas pela Reforma Universitária, decretada em 29 de novembro de 1968. Além disso, foram instituídos, em outubro do mesmo ano, os Centros Regionais de Pós-Graduação. Seguiu-se uma proliferação de cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras, que deu impulso ao desenvolvimento das pesquisas dentro das mesmas - apesar da ênfase do governo nas pesquisas extra-universitárias. Segundo uma matéria de Álvaro Kassab no Jornal da Unicamp de 2003, entre 1971 e 1975, o IFGW recebeu uma quantia estimada em 50 milhões de dólares, vindos principalmente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), mas também do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo (Badesp) etc. O dinheiro enviado pela Finep chegou a ser nove vezes maior que o orçamento do Instituto. Na época, a diretoria da Fundo era ocupada pelo engenheiro José Pelúcio que, apesar de não ter experiência direta com pesquisa científica, era um profundo entusiasta da sua importância no desenvolvimento econômico.
A fuga de cérebros também era assunto bastante discutido na época. Nas décadas de 1950 e 1960, houve grande migração de cientistas brasileiros para o exterior, principalmente para os Estados Unidos. Segundo uma pesquisa do Instituto de Ciências Sociais da UFRJ em colaboração com a Academia Brasileira de Ciências, entre 1950 e 1965 emigraram 261 pesquisadores, egressos de 152 institutos brasileiros. O próprio Sérgio Porto mudou-se do Instituto Técnico da Aeronáutica (ITA) para a Bell Labs, em 1960. Rogério Cézar de Cerqueira Leite, que trabalhou com Porto nos EUA, tentou voltar ao Brasil e instalar-se no ITA, onde construiu o primeiro laser do Brasil, em 1965, e depois na UnB e na USP; mas acabou voltando à Bell Labs - com uma equipe de professores e estudantes do ITA.
O governo interessava-se em trazer de volta essas pessoas. Algumas iniciativas foram tomadas, com resultados não muito bons, como a Operação Retorno, feita em 1967, quando o Ministério das Relações Exteriores fez um mapeamento dos cientistas brasileiros radicados no exterior, dos motivos de sua saída e das condições que consideravam necessárias para voltar e foram oferecidos benefícios aduaneiros aos que quisessem retornar. A pesquisa do Ministério indicou que essas pessoas concentravam-se na maioria em Engenharia, Medicina e Física.
O debate estendia-se a outros setores da sociedade, como o próprio Congresso Nacional. O senador Arnon de Mello (1911-1983) chegou a visitar diversos líderes científicos brasileiros no Exterior, inclusive Sérgio Porto nos EUA. Além disso, a diplomacia dos intercâmbios também se desenvolvia. Por conta dos acordos entre o MEC e a USAid, milhares de brasileiros seriam treinados nos Estados Unidos durante a sua vigência, entre 1969 e 1977, enquanto peritos estado-unidenses, por sua vez, instalavam-se no MEC. Tudo isso lubrificava os canais no governo brasileiro para se levar a equipe de Porto para a Unicamp.
Enquanto isso, uma conjuntura favorável de outra ordem se desenvolvia na academia no resto do mundo. Relacionava-se ao grande crescimento da importância do laser, o objeto de estudo de Sérgio Porto e seus alunos e ex-alunos. O primeiro laser havia sido descoberto em 1958 por Charles Townes e Arthur Schawlow (1921-1999), na Bell Labs, e uma versão mais estável, utilizável em pesquisas, foi construída em 1960 por Theodore Maiman (1927-2007), no Hughes Research Laboratories, nos EUA. Primeiramente vistos como "uma solução em busca de um problema", suas aplicações multiplicaram-se rapidamente, primeiro na pesquisa científica, depois nos usos cotidianos. Logo depois da invenção de Maiman, o laser já era largamente usado em estudos físicos. Já em 1961, o próprio Sérgio Porto deu uma contribuição fundamental ao mostrar, juntamente com D. L. Wood, como fazer espectroscopia Raman com laser.
Logo, o novo artefato começou a chegar também na vida das pessoas fora da academia. A primeira cirurgia oftalmológica com laser foi feita já em 1963. Em 1974, ele passaria a fazer parte do cotidiano de homens em mulheres em geral, quando as leitoras de código de barras passaram a funcionar em supermercados.
Charles Townes
Fonte: Nobel Foundation
Mas, para a situação brasileira, talvez os pesquisas mais importantes sobre o laser estivessem na área das comunicações ópticas. No fim dos anos 1960, quando começaram os contatos entre a Unicamp e o pessoal de Porto, davam-se passos importantes nos EUA para conseguir uma fibra óptica capaz de ser usada maciçamente para comunicações. Em 1970, conseguiu-se uma fibra com perda suficientemente pequena para viabilizar essa aplicação. Logo que começaram a chegar no IFGW, os membros da equipe de Sérgio Porto sugeriram ao governo investir em pesquisas sobre comunicações ópticas.
Um sistema de comunicações eficiente ia perfeitamente de encontro aos interesses estratégicos sobre segurança nacional do governo militar, que incluíam a centralização dos sistemas de comunicação e de geração e distribuição de energia, para a integração do país e a ocupação dos territórios pouco povoados e de fronteira. Na época, não existia uma empresa estatal que controlasse todo o processo e havia uma quantidade de usinas elétricas, empresas telefônicas etc. espalhadas pelo país, prestando serviços muitas vezes de má qualidade. O governo militar começou a reverter essa situação com a criação de empresas estatais para centralizar a administração desses setores, como a Eletrobrás e a Telebrás e logo passou a investir em pesquisas para capacitar tecnologicamente o país nessas áreas - que incluíram a sugestão dos unicampestres de fibras ópticas e lasers.
Uma terceira conjuntura favorável veio somar-se às das políticas públicas e da científica internacional: a financeira. O país vivia o chamado Milagre Econômico, um período de grande crescimento que se seguiu à aguda crise na economia e na política durante a presidência de João Goulart (1961-1964). Os investimentos em infra-estrutura, quase parados até 1964, puderam retornar - inclusive os necessários para a desejada integração nacional. A conjuntura internacional também estava favorável e o governo pôde fazer empréstimos. Isso duraria até 1974, quando a economia brasileira entraria em colapso na esteira da crise mundial iniciada com o Primeiro Choque do Petróleo, desencadeado em 1973 durante a guerra na Palestina.
Tudo isso, evidentemente, eram fatores favoráveis não só ao desenvolvimento do Instituto de Física, mas de toda a Unicamp - e das outras universidades por todo o país, pelo menos de suas áreas tecnológicas (ainda que faculdades de ciências humanas também fossem contempladas pelos programas governamentais de pós-graduação).
Um quarto fator favorável foi um específico: a existência do grupo articulado de ex-alunos brasileiros altamente qualificados que Sérgio Porto conseguiu levar para a Bell Labs e que estavam ávidos para voltar. Emigraram em grande parte durante o período de intensa fuga de cérebros do período JK, descrito acima. Em 1968, eles já estavam espalhados por várias instituições dos EUA, mas continuavam se comunicando. Segundo um depoimento de um deles (José Ripper Filho, para a pesquisadora Daniela Cristina Lot Lavandeira), eram liderados informalmente por Rogério Cézar de Cerqueira Leite. Ligava-os a trajetória comum - a maior parte deles se conheceu no ITA e trabalhou na Bell Labs - e o interesse em retornar ao seu país em conjunto para formar uma "massa crítica" já desde o início, tendo em vista a dificuldade em pesquisa em estado sólido aqui. A vinda desse grupo transformaria radicalmente o perfil e a dimensão das pesquisas no IFGW.
Sérgio Porto
Porto, então, já era um cientista de prestígio internacional, como já visto acima. Desde 1967, trabalhava na Universidade do Sul da Califórnia (USC). Os contatos com a Unicamp já existiam: um dos físicos unicampestres vindos de Rio Claro, Carlos Argüello, tinha, na mesma época, sido seu aluno de doutorado na Bell Labs; pouco depois, Zoraide Argüello também o seria (defendeu sua tese em 1970). Articulações entre ele, Zeferino Vaz e Marcelo Damy para trazer o grupo todo para o IFGW começaram pelo menos desde 1968.
Alguns membros do grupo procuraram voltar ao Brasil antes. Já se falou das tentativas de Cerqueira Leite no ITA, na UnB e na USP por volta de 1965. Os intentos de vários dos membros restantes colapsaram de vez com a decretação do AI-5, em dezembro de 1968, que fechou drasticamente o regime político no país.
Mas as coisas acabaram dando certo. Vimos acima as gestões do próprio governo para trazer de volta cientistas emigrados para o estrangeiro. Cerqueira Leite chegou no início de 1970 e começou a preparar o terreno para a vinda dos outros, que foram aparecendo ao longo dos dois anos seguintes. Carlos Argüello, quando estava nos Estados Unidos pouco antes, também participou dos convites, tendo chamado Roberto Luzzi em março de 1969; este chegou na Unicamp em janeiro de 1971 e começou a trabalhar com a parte teórica da Física do Estado Sólido. Nelson de Jesus Parada, que instituiria o curso de pós-graduação no Instituto, chegou no mesmo ano (tinha voltado ao Brasil antes, só que para a USP) e passou a participar das articulações.
Sérgio Porto disse a seus colegas e alunos que primeiro "arrumassem a casa" e que viria só quando isso estivesse feito – conforme consta na memória de várias pessoas que testemunharam aqueles tempos. Impôs condições: laboratórios com edificação própria para pesquisas em Eletrônica Quântica (como se chamava, na época, esta sub-área da Física do Estado Sólido), verba de 2 milhões de dólares para as pesquisas e a aquisição de equipamentos, ida para a Unicamp de cerca de 30 PhD em Física brasileiros e estrangeiros que trabalharam e trabalhavam com ele na Bell Labs e na USC.
As condições foram aceitas pelo ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso, e, em março de 1974, Sérgio Porto retornava efetivamente ao Brasil. O prédio que ele exigiu passou a ser construído e, em 11 de setembro de 1976, era inaugurado do Departamento de Eletrônica Quântica, já no novo campus, em Barão Geraldo.
Inauguração do Departamento de Eletrônica Quântica (DEQ), em setembro de 1976. De costas, em primeiro plano, o reitor Zeferino Vaz
Outros nomes importantes desse grupo foram José Ripper Filho (que fundaria pouco depois o Departamento de Física Aplicada), Regis Scarabucci (que foi para a Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp, que ajudou a fundar), José Busnardo Neto e Paulo Sakanaka (que iniciou a área de plasma no IFGW).
A maior parte desses cientistas iniciou linhas de pesquisa envolvendo lasers de alguma forma, incluindo o estudo de propriedades de materiais e o uso do laser na medicina - e também a pesquisa sobre os diversos tipos de lasers em si, para aperfeiçoá-los. Mas também houve pesquisas com Física da Matéria Condensada teórica e várias outras linhas, como veremos nas seções 11 e 12.
Naquela altura, transformações físicas também aconteciam na Unicamp. O campus novo em Barão Geraldo estava sendo construído. O prédio do Instituto de Física no local atual só seria inaugurado em 15 de agosto de 1970. Na verdade, o Instituto mudou-se para o campus um pouco antes, tendo por um curto período funcionado em salas sublocadas do prédio da Engenharia Mecânica.
Em 31 de agosto de 1971, o nome passou a ser Instituto de Física Gleb Wataghin, em homenagem ao pesquisador da USP nascido na Ucrânia e de nacionalidade italiana que introduziu a Física Moderna no Brasil, iniciou as pesquisas experimentais em raios cósmicos (as teóricas tinham um precursor desde 1934 com Bernhard Gross (1905-2002), no Instituto Nacional de Tecnologia do Rio de Janeiro) e é considerado por muitos o "pai da física brasileira", por sua influência decisiva na modernização no ensino e na pesquisa em física no país.
Gleb Wataghin nos anos 1970
Nessa época, o aspecto físico do campus parecia mais um conjunto de instalações "no meio do nada". A imagem abaixo, de 1970, mostra o acesso ao campus, com o IFGW e o Instituto de Química à esquerda e os prédios I e III à direita. Depoimentos de pessoas que trabalhavam naquela época várias vezes usam a expressão "deserto" para o ambiente ao redor. Contam eles também que havia grande quantidade de beija-flores - conseguia-se capturar e soltá-los facilmente. À noite, se a janela ficasse aberta, infestava de borboletas e grandes insetos. Ali próximo, havia um bambuzal que por vezes queimava, enchendo o local de fuligem. O calor era grande, mas o ar-condicionado era uma "mordomia".
Acesso ao campus universitário em 1970. À esquerda, o Instituto de Química (mais à frente) e o de Física. À direita, os blocos I e III. Note-se a distância entre as duas partes da Unicamp
Acervo Histórico do Arquivo Central/Siarq
O ambiente institucional também estava ainda sendo "construído". Zeferino fora nomeado reitor pro tempore enquanto a universidade estivesse em processo de implantação e não havia prazo para isso terminar. Não havia carreira docente e pesquisadores e professores podiam ser contratados e ter sua contratação não renovada pelo reitor sem grandes burocracias. O estatuto permanente ainda não existia; sofreria uma reforma drástica nos anos 1980.
Quando o reitorado de Zeferino completou, em 1971, quatro anos - que era o tamanho comum dos mandatos de reitor no Brasil -, oposições internas a essa situação começaram a se agravar. Nesse ano, o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Fausto Castilho, foi afastado do cargo e na sequência teve seu contrato não renovado, por causa de diversas divergências mais antigas com o reitor. O mal-estar foi tamanho que alguns professores se demitiram, entre os quais o diretor do Instituto de Física, Marcelo Damy. Seu mandato terminou na mesma época (início de 1972) e ele não quis renová-lo. Foi sucedido por Rogério de Cerqueira Leite, que passou então a continuar o trabalho de construção do Instituto.
Mas alguma alteração no nível institucional dentro do Instituto de Física era inevitável, por causa da chegada do pessoal do estado sólido e da grande diversificação e aumento de escala das pesquisas que se seguiu.
A criação de novos departamentos era a mais visível. A estrutura departamental era uma exigência da Reforma Universitária de novembro de 1968, que extinguiu o sistema de cátedras – comumente visto como oposto ao de departamentos, apesar de os dois terem coexistido na legislação e em casos concretos pelo menos de 1937 a 1968. A razão é que o professor que ocupava o status de catedrático possuía grande autonomia e autoridade dentro de sua instituição e, além de possuir vitaliciedade e inamovibilidade, era o elemento centralizador das decisões (possuindo inclusive a prerrogativa de escolher chefes de laboratório, auxiliares de ensino, assistentes, chefes de clínica). Já o departamento, como concebido, tem como princípio a corresponsabilidade de todos os seus membros.
A Unicamp possuiu estrutura departamental desde o seu início. Com a chegada do pessoal de Sérgio Porto, foi criado o Departamento de Física do Estado Sólido, ao lado do já existente Departamento de Raios Cósmicos (hoje, após mais diversificação das atividades, chamado "de Raios Cósmicos e Cronologia", DRCC). Os físicos do estado sólido ao redor do mundo, após alguns anos, passaram a estudar também líquidos e a expressão "Física do Estado Sólido" ficou anacrônica; a área, assim, passou a chamar-se "Física da Matéria Condensada" e o nome do departamento foi alterado para "Departamento de Física da Matéria Condensada" (DFMC).
Uma das linhas que começaram quase imediatamente depois que os novos pesquisadores chegaram contemplava a pesquisa sobre lasers e semicondutores para as comunicações ópticas e a microeletrônica. Foi criado, para isso, o Departamento de Física Aplicada (DFA) (o primeiro do tipo no Brasil), por José Ripper Filho, que se tornou seu primeiro chefe. Em 1976, como dito acima, foi inaugurado o Departamento de Eletrônica Quântica (DEQ), para acomodar as linhas de pesquisa planejadas por Sérgio Porto. Porto é tido como o responsável pela formação do DEQ.
Estes quatro departamentos formam a estrutura que existe até hoje no IFGW.
O IFGW em 1971
Em 1970, começou a ser organizada a pós-graduação no IFGW, por Nelson de Jesus Parada, mais tarde com o apoio financeiro principalmente da Finep (mas também do CNPq e da Fapesp). Esse apoio fazia parte de um programa para fomentar esse tipo de curso no país, que começou a ser planejado e articulado já no início do governo militar. O processo culminou em outubro de 1968 com a instituição dos Centros Regionais de Pós-Graduação, articulados com a Capes, o CNPq e o Funtec. De acordo com o plano do governo, projetos de cursos seriam feitos pelas instituições de ensino superior em todo o país e, se aprovados, receberiam financiamento federal.
Os primeiros cursos a serem aprovados foram o mestrado e o doutorado no Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Paraná, já em janeiro de 1969. Os primeiros de Física a receberem a aprovação foram o mestrado e o doutorado do Centro Técnico-Científico da PUC-RJ, em março do mesmo ano. O primeiro da Unicamp foi o mestrado da Faculdade de Tecnologia de Alimentos, em julho de 1970.
Nelson de Jesus Parada, que organizou a pós-graduação no IFGW.
O mestrado e o doutorado em Física do IFGW foram aprovados em 23 de novembro de 1971, quando então o apoio financeiro essencialmente da Finep foi formalizado no âmbito do programa. Mas as pós-graduações já estavam sendo feitas havia já algum tempo. O início efetivo foi em 31 de março de 1970, quando foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo o regulamento do Instituto para esses cursos. Em 1971, foi defendida a primeira pós-graduação orientada por César Lattes (1924-2005). Em 1972, começam a serem defendidas as orientadas pela equipe de Estado Sólido.
A pós-graduação no IFGW só foi instituída em 1971, mas no acervo de teses e dissertações da sua biblioteca há oito defendidas em 1969 e 1970. Isso pôde acontecer porque naquela época, em que o Instituto ainda estava sendo formado, era possível fazer um doutorado com muito mais informalidade do que hoje; muitas vezes, as coisas eram combinadas apenas verbalmente.
Desse conjunto de oito doutorandos pré-1971, porém, apenas um, Zoraide Argüello, trabalhava na Unicamp. Nas outras, as pesquisas e as aulas aconteceram em outros lugares e apenas a defesa foi realizada em Campinas. Mesmo na de Zoraide, as pesquisas ocorreram na Bell Laboratories, nos EUA, onde trabalhava seu orientador, Sérgio Porto, que então já interagia bastante com o Instituto de Física.
Os outros sete doutorandos fizeram todo o trabalho no Instituto de Energia Atômica (IEA), hoje Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN), em São Paulo, e tiveram as aulas no IPEN e no Instituto de Física da USP. Foram orientados por Marcelo Damy de Souza Santos, que trabalhava lá (enquanto era também diretor do IFGW).
Quem eram essas pessoas e por que defenderam suas teses na Unicamp?
Dessas sete teses, quatro foram defendidas por membros de um dos grupos de pesquisa do IPEN, o Grupo de Espectroscopia de Nêutrons (Silvio Herdade, Laércio Vinhas, Antônio Fulfaro e Cláudio Rodrigues). As outras o foram por Laïs Pimenta de Moura, Achilles Suarez (de um grupo de dosimetria de nêutrons) e Manuel de Abreu (que trambém trabalhava com seções de choques de nêutrons, mas em outro grupo). A primeira a ser defendida o foi em 7 de maio de 1969 por Silvio Bruni Herdade (atualmente pesquisador do Instituto de Energia e Eletrotécnica - IEE -, na USP).
O que esses cientistas pesquisavam? Os estudos do Grupo de Espectrometria de Nêutrons usavam os nêutrons produzidos pelo reator nuclear do IPEN para a Física do Estado Sólido - os nêutrons eram usados como "sondas" que, ao atravessarem um material, saíam pelo outro lado carregando informações sobre a estrutura sua atômica e molecular. O grupo foi constituído justamente porque, na época, alguns pesquisadores avaliavam que um reator nuclear não seria adequado para estudar física nuclear, pois esta precisa de nêutrons com energia bastante precisa e as partículas produzidas pelos reatores apareceriam com energias demasiadamente dispersas para isso. Para esse fim, segundo esses cientistas, seria melhor usar aceleradores de partículas, como o betatron construído por Damy no IPEN, pois eles podiam produzir nêutrons com energias mais precisas. A Física do Estado Sólido, por outro lado, não precisava de energias tão específicas assim, de modo que o reator do IPEN poderia ser usado para essa área. Constituiu-se então um grupo cujo objetivo era usar os nêutrons para esse fim. Além dos pesquisadores citados, também fizeram parte da formação inicial Lia Amaral e Carlos Parente. Para adquirir know-how nas técnicas necessárias, convidaram um pesquisador do Instituto de Tecnologia de Estocolmo, K. E. Larsson. N Nereson, de Los Alamos, nos EUA, também integrou o grupo, como professor visitante.
É difícil saber por que Damy decidiu defender essas teses na Unicamp. Ele era responsável pela implantação do Instituto de Física e pensava em um departamento de Física Nuclear. Uma possibilidade plausível é ele ter usado a defesa das teses para dar mais solidez ao futuro do Instituto. Essas sete defesas, porém, não parecem ter tido consequências importantes na evolução do IFGW, pois seus doutorandos permaneceram no IPEN ou na USP e, com a saída de Damy do IFGW, a parte de física nuclear acabou não sendo implementada.
Nem todas as pessoas que chegaram nos anos 1970 trabalharam com laser, mas a maior parte delas, sim. Os primeiros lasers de porte profissional do Brasil foram construídos no IFGW: um laser de CO2 de corrente contínua longitudinal, feito por Dimitrios Bozinis, e um laser de CO2 pulsado TEA por Artemio Scalabrin.
É possível classificar as principais aplicações do laser em que Porto investiu logo de início em: estudo da estrutura e das características dos materiais (inclusive novos), Física Médica, separação de isótopos (para enriquecimento de urânio) e comunicações ópticas (por meio de fibras ópticas). Os primórdios das duas primeiras linhas estão descritas na dissertação de mestrado de Walker Lins Santana (2006) sobre Sérgio Porto e a história do laser no Brasil.
A investigação da estrutura e das características dos materiais é a principal aplicação do laser na pesquisa científica em Física. Observando-se as frequências absorvidas ou reemitidas quando o laser incide sobre um material, pode-se determinar sua composição química e diversas propriedades físicas. Vários pesquisadores trabalhavam com isso no IFGW, como Carlos Argüello, Carlos Rettori e Elion Vargas (os dois últimos fundaram, respectivamente, os atuais Grupo de Propriedades Ópticas e Magnéticas dos Sólidos, GPOMS, e Grupo de Fototérmica e Ressonância Magnética, GFRM). Esse tipo de estudo, na verdade, é um instrumento fundamental em inúmeras linhas de pesquisa e, nas décadas seguintes, diversos grupos experimentais do IFGW passaram a usá-lo, notadamente no projeto de novos materiais com propriedades interessantes (semicondutores, supercondutores, materiais com propriedades magnéticas e ópticas singulares etc.).
Dessa classe faz parte o assunto que tornara Sérgio Porto famoso em 1961, o espalhamento Raman por laser, que foi iniciado na Unicamp pelos três físicos citados acima. Rettori e Vargas trabalhavam também com a ressonância magnética (uma área que não tem a ver com o laser). Nos primeiros anos, foram feitas inclusive parcerias com outros Institutos da Unicamp, como o de Química, na área de espectroscopia, fotoquímica e outras aplicações do laser; e com o de Biologia, o Projeto de Seleção de Sementes Oleaginosas, para selecionar sementes a partir da avaliação de seu teor de óleo por meio da ressonância magnética (da qual participou também o físico Gaston Barberis).
Sérgio Porto
em experimentos com lasers no IFGW,
nos anos 1970.
Fonte: Acervo Histórico do Arquivo Central/Siarq.
Nas décadas seguintes, os estudos se diversificaram e atualmente os grupos de pesquisa herdeiros dessa linha trabalham também com fotoacústica, fototérmica, efeito magnetocalórico e absorção e emissão de raios-X. Boa parte das pesquisas atuais nesses grupos é voltada à produção e caracterização de novos materiais ou de material biológico. Outros grupos atuais herdeiros dessas linhas, além dos citados acima, são o Grupo de Propriedades Ópticas (GPO) e o Laboratório de Óptica (LO).
Com relação à Física Médica, uma equipe formada pelos físicos unicampestres Dimitrios Bozini e Fernando Penna e pelo médico-cirurgião João Alberto Holanda de Freitas realizou, em 13 de dezembro de 1975, a primeira cirurgia oftalmológica a laser do país, no Instituto Penido Burnier, em Campinas – cauterização e coagulação de sangue em artérias danificadas da retina. A equipe de Porto passou a ofertar tratamentos a instituições brasileiras e estrangeiras interessadas. Cirurgias de tímpanos também foram feitas (com o auxílio de fibras ópticas desenvolvidas no próprio Instituto), e também trabalhos relacionados ao combate ao câncer na mama e no colo de útero, estes em parceria com o médico José Aristodemo Pinotti (1934-2009), que posteriormente foi reitor da Unicamp.
Equipe multidisciplinar para o controle do câncer de mama. Sentados, Sérgio Pereira da Silva Porto, José Aristodemo Pinotti e Regina de Castro Pisani. Em pé, Henrique Brenelli, Luis Carlos Teixeira, Maurício Knobel, Sônia Borges e Regina Sarmento, 1978. Foto: Vic Parisi.
Fonte: Unicamp 35 anos: Ciência e tecnologia na imprensa.
O laser também foi aplicado no IFGW à Física Nuclear. Mesmo que Damy não tenha iniciado a parte de Física Nuclear na Unicamp, essa área era uma tradição do país e interesse estratégico do governo desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Assim, pesquisas ligadas a esse tema apareceriam dentro do Instituto em diversos grupos - incluindo os dedicados ao laser. Por volta de 1973, começaram pesquisas sobre enriquecimento de urânio a laser. Havia um grupo teórico, que possuía cientistas brasileiros e estrangeiros (como William Harter, Christopher Patterson e, pouco depois, György Czanak) e um grupo experimental, formado por, entre outros, por Artêmio Scalabrin, Elza Vasconcelos, Alberto Lima e Carlos Alberto Ferrari.
Em 1978, parte dos estudos experimentais foram transferidos para o Centro de Lasers e Aplicações do IPEN. Os pesquisadores dessa área que permaneceram na Unicamp passaram a aperfeiçoar os lasers propriamente ditos, mais voltados para a pesquisa básica (os lasers para a pesquisa aplicada seriam feitos no Departamento de Física Aplicada, como mostrado na seção seguinte). Esta é a origem do atual Grupo de Lasers e Aplicações (GLA). O grupo teórico, por sua vez, desviou suas atividades para a pesquisa básica sobre Física Atômica e Molecular, inicialmente na espectroscopia. Depois que Harter e Patterson voltaram a seus países, em 1976, a pesquisa voltou-se para as colisões entre elétrons ou pósitrons e átomos ou moléculas, sem conexão com a Física Nuclear, originando o atual Grupo de Física Atômica e Molecular (GFAM).
Os maiores frutos das pesquisas com laser, porém, aconteceram na área das comunicações ópticas. Já vimos acima que o governo tinha interesses estratégicos em melhorar a eficiência, centralizar e estender por longas distâncias os sistemas de comunicação nacionais. Para alcançar esse objetivo, em 1965 foi criada a Embratel e, em 1972, a Telebrás - que passou então a controlar a própria Embratel e as operadoras estaduais.
José Ripper Filho, fundador do primeiro Departamento de Física Aplicada do Brasil, no IFGW.
Fonte: foto de Neldo Cantanti
A Telebrás planejava também investir no desenvolvimento de pesquisas para a formação de um parque industrial brasileiro nessa área. Quando souberam dessa intenção, pesquisadores do IFGW, já em 1972, entraram em contato com o presidente da empresa. A partir daí, começaram diversos convênios da mesma com a Unicamp e outras universidades nacionais. Um deles foi o Projeto Sistema de Comunicação por Laser, com a Unicamp, coordenado por José Ellis Ripper Filho. Os lasers seriam desenvolvidos pelo Laboratório de Pesquisas em Dispositivos (LPD), liderado por ele e pelo indiano Navin Patel. Esse laboratório passou a constituir o início do Departamento de Física Aplicada, o primeiro desse tipo no Brasil, fundado por Ripper.
Na mesma época, Sérgio Porto sugeriu ao governo pesquisar fibras ópticas. Era uma idéia de ponta: apenas dois anos antes, em 1970, cientistas nos EUA haviam conseguido alcançar o grau necessário de aperfeiçoamento das fibras para viabilizar a construção de sistemas de comunicações ópticas. O primeiro sistema desse tipo começaria a ser instalado naquele país em 1978. O Brasil, portanto, começou a investir em fibras ópticas no momento do seu nascimento.
A Telebrás aceitou financiar o projeto das fibras e, em janeiro de 1974, foi firmado um novo contrato entre a empresa e a Unicamp, que incluiu, no Projeto Sistema de Comunicação por Laser, um Sub-Projeto Fibras Ópticas. A ideia era que as fibras fossem produzidas no IFGW e os lasers pelo LPD. Estes - o laser e as fibras - são os dois elementos fundamentais para as comunicações ópticas (no laser se codifica a informação; a fibra transmite laser - e a informação - para os destinos). Além disso, foram envolvidos também grupos da Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp. O grupo de fibras ópticas no IFGW originou o atual Grupo de Fenômenos Ultrarrápidos e Comunicações Ópticas (GFURCO).
O objetivo do projeto era desenvolver a tecnologia de fabricação de fibras ópticas e em seguida transferi-la à indústria nacional. Para isso, a Telebrás fundou um núcleo de pesquisa seu, o Centro de Pesquisas em Desenvolvimento e Telecomunicações (CPqD), instalado em Campinas em 1976.
A primeira fibra ficou pronta em abril do mesmo ano. O próximo passo foi a assinatura de um novo contrato entre a Telebrás e a Unicamp, o Projeto Sistemas de Comunicações Ópticas, coordenado por José Mauro Leal Costa. A ideia era que os estudos acadêmicos ocorressem na universidade e os projetos de interesse aplicado fossem feitos no CPqD. Este, por sua vez, transferiria esse conhecimento aplicado para as indústrias. O grupo de fibras ópticas foi dividido e parte dos pesquisadores foi para o centro da Telebrás.
Chegada dos primeiros equipamentos de fibra óptica no Departamento de
Eletrônica Quântica, em 1976
O primeiro teste prático de uma fibra óptica feita no Brasil aconteceu em 1981, nas instalações elétricas da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) em Americana e São José do Rio Preto, para monitoramento de disjuntores. Em 1982, foi testado o primeiro trecho longo de comunicação por fibras ópticas (o primeiro "enlace"), chamado ECO-1, com 4 quilômetros de comprimento, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Fibra óptica fabricada no IFGW em 1978.
O CPqD, então, começou a fase de transferência para as indústrias do conhecimento tecnológico que adquiriu - no caso, para a ABC-Xtal, em 1983. Essa empresa também se estabeleceu em Campinas e vários pesquisadores do Grupo de Fibras Ópticas da Unicamp (e do CPqD) foram trabalhar lá. O primeiro acordo entre a Telebrás e a ABC-Xtal previa a produção de 2 mil quilômetros de fibra óptica em 12 meses. Em agosto de 1984, foi entregue o primeiro lote, que somava 500 km.
Finalmente, no mesmo ano, começou a funcionar o primeiro sistema de comunicações ópticas não-experimental totalmente desenvolvido e produzido no Brasil, entre duas estações telefônicas de Uberlândia, MG. A partir de então, outras empresas juntaram-se à ABC-Xtal para fabricar as fibras no Brasil.
Na Unicamp, então, os pesquisadores envolvidos com as fibras passaram a fazer pesquisa de perfil mais acadêmico para as novas tecnologias nas comunicações ópticas que então despontavam, incluindo estudos sobre fenômenos ultrarrápidos e pontos quânticos. Os envolvidos com o laser diversificaram suas pesquisas com investigações sobre novos materiais (produção, caracterização e processamento), incluindo nanoestruturas semicondutoras, e a fabricação de dispositivos microeletrônicos e optoeletrônicos feitos com semicondutores. Nos anos 1980, começaram pesquisas teóricas com óptica quântica, incluindo comunicações quânticas e computadores quânticos.
A partir dos anos 1990, vários desses pesquisadores envolveram-se intensamente com projetos grandes como o Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (CePOF), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fotônica e Comunicações Ópticas (Fotonicom) e a Kyatera (uma internet avançada para pesquisas acadêmicas que engloba vários institutos de pesquisa do Estado de São Paulo). Ripper, por sua vez, fundou uma empresa dedicada a tecnologias de comunicação, a AsGa.
A vinda do CPqD e da ABC-Xtal a Campinas iniciou um processo que fez de Campinas um pólo de tecnologia avançada no país. Dezenas de empresas instalaram-se nas proximidades da cidade, entre as quais - vinculadas com o projeto de comunicações ópticas – a Padtec, a Fotônica, a AsGa, a Optolink, a Fiberwork e a KomLux.
Não só o laser foi contemplado pelos novos cientistas do IFGW. Além das já descritas, apareceram, na primeira metade da década de 1970, estudos sobre semicondutores; sobre supercondutores de nióbio e produção de nióbio puro; sobre teoria da Física da Matéria Condensada; sobre Cristalografia; e sobre fontes de energia renováveis, sendo esta última, na verdade, um conjunto de linhas de investigação surgidas ao longo de toda a década e que serão descritas na próxima seção.
As pesquisas com semicondutores começaram na mesma época que as com laser. Em novembro de 1972, Zoraide Argüello produziu os primeiros cristais semicondutores da América Latina.
Zoraide Argüello (em foto dos anos 1970) produziu os primeiros cristais semicondutores da América Latina, no IFGW.
Outro físico que chegou nessa época, Daltro Pinatti, montou em 1970 um grupo para pesquisa de tecnologia baseada em nióbio. O nióbio é importante na produção de ligas especiais, como o aço, e é o supercondutor mais usado, por sua conveniência. Além disso, o Brasil possui as maiores reservas desse metal do mundo e atualmente é o maior produtor de nióbio puro do globo. As pesquisas desse grupo foram fundamentais para que a Companhia Brasileira de Mineração e Metais, CBMM, das minas de nióbio de Araxá, em Minas Gerais (as maiores do mundo) pudesse exportar nióbio de alta pureza, como faz hoje. A partir de 1985, os estudos deslocaram-se para a pesquisa básica em baixas temperaturas e em materiais nanoestruturados com características magnéticas peculiares (magnetorresistência gigante e magnetoimpedância gigante) e passou a se chamar Laboratório de Materiais e Baixas Temperaturas (LBMT).
Em 1986, foram descobertos nos EUA os supercondutores de alta temperatura - acima de -196 graus Celsius, o que permite o uso do nitrogênio líquido para resfriá-lo. Antes, era preciso o hélio líquido, proibitivamente caro; a nova descoberta permitiu vislumbrar a viabilidade econômica dos supercondutores. Diversos grupos do IFGW, novos e já existentes, passaram a incluir nas suas linhas pesquisas a procura por novos materiais supercondutores de alta temperatura crítica.
As pesquisas com teoria da Física da Matéria Condensada vieram com Roberto Luzzi, que chegou em janeiro de 1971, origem do atual Grupo de Mecânica Estatística de Sistemas Dissipativos (MESD). As investigações envolveram a mecânica estatística de processos irreversíveis (ou seja, para situações longe do equilíbrio), que era o ramo necessário para a aplicação na Física do Estado Sólido e que ainda não estava completamente estabelecida. Investigavam o formalismo teórico, mas voltado para aplicação tecnológica, principalmente propriedades ópticas e de transporte (de corrente elétrica, de calor etc.) em semicondutores; mais tarde os interesses foram diversificados (hidrodinâmica, biofísica, auto-organização). A partir dos anos 1980, outros grupos de pesquisa teóricos se instalaram no Departamento de Física da Matéria Condensada e começaram a investigar fenômenos de muitos corpos, incluindo fenômenos emergentes, auto-organização, caos clássico e caos quântico.
A cristalografia foi iniciada na Unicamp pelo físico uruguaio Stephenson Caticha Ellis (1930-2003), um físico e poeta uruguaio, posteriormente membro da Academia Campineira de Letras e Artes. Quando chegou no Brasil, Caticha trabalhou inicialmente no IPEN e, a partir de 1973, no IFGW, no atual Grupo de Cristalografia Aplicada e Raios-X (GCARX). Anos mais tarde, as pesquisas em cristalografia com raios-X foram diversificadas para outras aplicações dos raios-X, como no estudo de polímeros e materiais orgânicos. Nos anos 1980 e 1990, os pesquisadores dessas linhas tiveram participação importante na construção do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que começou a ser implementado em 1986 e teve suas instalações postas à disposição dos usuários em 1997. Dessa linha também originou-se o Laboratório de Preparação e Caracterização de Materiais (LPCM), que também usa a tecnologia de difração de raios-X.
Um outro conjunto de linhas de pesquisa iniciadas no IFGW nos anos 1970 teve suas origens influenciadas pela conjuntura econômica internacional da época. Em 1973, os países exportadores de petróleo do Oriente Médio elevaram os preços do produto, em retaliação ao apoio do Ocidente a Israel na guerra contra os países árabes. O episódio desencadeou, por um lado, uma grande crise econômica internacional e, por outro, um surto de pesquisas sobre novas fontes de energia em vários pontos do país e do globo. A Unicamp não foi exceção. Diversos grupos surgiram para investigar essa área e, mais tarde, com a redução da urgência energética e a descoberta de mais poços de petróleo no Brasil, desviaram suas pesquisas para outros temas.
Uma das primeiras linhas nesse setor apareceu com Carlos Luengo, que estava na Universidade da Califórnia em San Diego e foi convidado por Rogério de Cerqueira Leite para voltar ao Brasil para trabalhar com a produção de derivados de petróleo a partir da hidrogenação do carvão (ou seja, sem precisar do petróleo). Fundou então Grupo de Combustíveis Alternativos (GCA). Mais tarde, o grupo passou a investigar os nanotubos de carbono (minúsculas estruturas com apenas algumas dezenas de átomos cujas propriedades singulares e aplicações estão sendo investigadas extensivamente pelo mundo). Inicialmente tentava-se aprovietar o fato de eles poderem armazenar o hidrogênio necessário para a produção dos derivados; depois, a ênfase passou para a pesquisa básica sobre os próprios nanotubos. Os pesquisadores teóricos, por sua vez, também passaram algum tempo investigando a hidrodinâmica do fluxo de petróleo em dutos (vide seção anterior).
Detalhe do laboratório para produção de derivados do petróleo a partir do carvão, em 1981
(foto de Antoninho Perri).
Em 1975, um grupo específico de pesquisa sobre o hidrogênio (o Grupo de Energia, Laboratório de Hidrogênio, LH2) foi fundado por Marcus Zwanziger e João Meyer, depois que o primeiro veio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1975 (Zwanziger seria mais tarde diretor do IFGW, de 1983 a 1987). Esse laboratório foi o responsável pela produção do primeiro carro a hidrogênio no Brasil.
O problema energético afetou uma outra linha de investigação que havia começado com força no Brasil no início da década de 1970, pouco antes do choque: a catálise. Inicialmente ligada à intensificação da indústria petroquímica no país (o primeiro pólo petroquímico, o de Capuava, em São Paulo, começou a funcionar em 1972), as pesquisas no Brasil logo se diversificaram bastante, pois trata-se de um processo químico presente em inúmeras aplicações; após a crise de 1973, passou a englobar também a catálise em carros para aumentar a eficiência da produção de energia pelo motor. Nesse contexto, começaram pesquisas sobre catálise no IFGW, iniciadas por John David Rogers (1932-1984), que chegou no Instituto em 1975, vindo da UFRGS. A ênfase era na química de superfícies catalíticas, em especial na transformação de monóxido de carbono (expelido pelos automóveis, que é venenoso) em dióxido de carbono (que não é venenoso). A partir dos anos 1980, a ênfase desses pesquisadores deslocou-se para a pesquisa básica em física de superfícies e originou o atual Grupo de Física de Superfícies (GFS).
Plasma obtido numa máquina tokamak no IFGW.
Na mesma época, começaram as pesquisas sobre fusão nuclear na Unicamp - outra vertente da busca por uma fonte alternativa de energia. A fusão nuclear, uma fonte muito mais limpa e praticamente inesgotável, usa como combustível o plasma de hidrogênio - plasma é o quarto estado da matéria, além do sólido, líquido e gasoso, e que, no caso da fusão, deve ser elevado a uma temperatura de alguns milhões de graus. O Grupo de Física de Plasmas e Fusão Termonuclear Controlada (GFPFTC) do IFGW foi fundado por Paulo Sakanaka, que chegou em 1974, vindo da New York University. Investigava inicialmente as possibilidades do uso da fusão nuclear para produzir energia, com pesquisas teóricas e experimentais. Após 1980, passaram a trabalhar num prédio próprio, o Laboratório de Plasma. Em 1996, receberam do Japão uma máquina tokamak, um equipamento-chave para esse tipo de estudo.
Mas o plasma não serve apenas para produzir fusão nuclear. Os chamados "plasmas térmicos", bem mais frios (alguns milhares de graus) possuem várias aplicações tecnológicas, como a eliminação de resíduos de diversos processos industriais. As pesquisas sobre isso no Brasil começaram com Aruy Marotta em 1980, primeiro na mesma equipe de Sakanaka e, mais tarde, num grupo independente, com intensa interação com a indústria, no Grupo de Física e Tecnologia de Plasma (GFTP).
Em 1979, começaram as pesquisas sobre conversão de luz solar em energia elétrica no Instituto de Física, com Ivan Chambouleyron, que chegou do Instituto Politécnico Avançado do México e fundou o Laboratório de Pesquisas Fotovoltaicas (LPF). Em 1982, começaram a ser produzidas no IFGW as primeiras células solares da América Latina.
Este texto pretende discutir as origens do IFGW até 1980. Esta seção, portanto, terá um breve resumo do que ocorreu após esse período.
Os microscópios de tunelamento, que permitem visualizar os próprios
átomos, causaram grande impacto na física da matéria condensada na Unicamp
e no mundo. Aqui, imagens de um nanofio de ouro se rompendo obtidas por um
microscópio desse tipo (HRTEM).
Fonte: Dissertação de mestrado de Maureen Joel Lagos Paredes (2007), IFGW.
As pesquisas continuaram a se diversificar e acompanharam os novos temas que surgiam ao redor do mundo e as inovações técnicas que possibilitaram novos tipos de investigações. Em 1981, a criação do microscópio de varredura por tunelamento eletrônico (STM, scanning tunneling microscope), por Gerd Binning e Heinrich Roher, na IBM em Zurique, abriu todo um novo campo de estudos sobre novos materiais, pois permitia distinguir os átomos individualmente. Inovações posteriores permitiram manipular átomos e moléculas. A ciência dos novos materiais feita no IFGW foi fortemente influenciada por essas inovações. As possibilidades aumentaram bastante em 1997, quando os membros do Instituto passaram a ter acesso às instalações do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), planejado e construído com participação do Instituto.
Além disso, os enormes avanços nos computadores das últimas décadas também tiveram impacto nos estudos do Instituto de Física em diversos campos. Acompanhar essas inovações nem sempre foi fácil. Destacam-se os esforços, nos anos 1970, de John David Rogers, George Kleiman e Alvin Kiel (1928-2005), que conseguiram trazer um computador VAX para o IFGW no início dos anos 1980, o que representou grande salto nas suas possibilidades computacionais. Esses esforços foram o germe do Centro de Computação do Instituto, com o nome de John David Rogers, fundado pouco depois do seu falecimento, em 1984.
Durante a década de 1980, o avanço na capacidade computacional da universidade e do IFGW provocou mudanças de rumos em algumas linhas de pesquisa - por exemplo, o Grupo de Física Atômica e Molecular, até então restrito a colisões entre elétrons e átomos, passou a estudar também com moléculas (e nos anos 2000 passou a trabalhar com pequenas moléculas orgânicas); outro grupo de colisões surgiu na mesma época (o Grupo de Propriedades Eletrônicas a Partir de Primeiros Princípios, GPEPPP). A partir de 1994, os físicos passaram a usar também os computadores do Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad) em São Paulo, criado em março daquele ano, um dos oito centros semelhantes que formam a o sistema de alto desempenho criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Novas áreas apareceram nos anos 1980. Um Grupo de História e Teoria da Ciência foi fundado por Roberto de Andrade Martins. Vários pesquisadores teóricos dedicados a sistemas fortemente correlacionados e auto-organização instalaram-se principalmente no Departamento de Física da Matéria Condensada. Nos anos 1990, diversos grupos experimentais e teóricos (novos e antigos) passaram a dedicar-se à nanociência - o estudo de estruturas de apenas algumas dezenas de átomos. Isso foi possibilitado pelas técnicas de microscopia descritas acima, que permitiram ver e manipular átomos e moléculas individuais, pegando-os em um ponto e levando-os a outro - o que levou à abertura de uma nova área no mundo todo, a nanociência, com inúmeras aplicações, da computação à farmacologia e grande impacto na pesquisa básica. O assunto se insere na área dos novos materiais, outro grande tema das pesquisas do IFGW que vem se expandindo desde sua fundação.
A partir da década de 1990, vários grupos passaram a incluir nos seus interesses sistemas biológicos (estudos sobre fotossíntese, câncer, efeitos da radiação, efeitos de produtos químicos em membranas celulares etc.), sendo um deles, o Grupo de Biofísica (GB), inteiramente voltado ao assunto. Nesse âmbito, destaca-se o aprofundamento do envolvimento do Instituto com a Física Médica. No início da década de 2000, surgiu um Grupo de Neurofísica articulado com a Cooperação Interinstitucional de Apoio a Pesquisas sobre o Cérebro (CinAPCe) e voltado principalmente ao estudo da epilepsia. Em 2003, foi instituída na Graduação as modalidades Física Médica e Física Biomédica, ao lado dos já existentes Bacharelados em Física e em Física Aplicada e da Licenciatura em Física. De 2007 a 2011, funcionou um grupo voltado a pesquisas com radiofármacos (Grupo de Diagnóstico e Terapia com Radionuclídeos e Dosimetria das Radiações, GDTRDR).
Biofísica no IFGW. Células endoteliais bovinas obtidas com a espectroscopia multifóton.
Fonte: Dissertação de mestrado de André Alexandre de Thomaz, IFGW/Unicamp (2007)
Outro aspecto relevante que se iniciou nos anos 1980 foi o envolvimento estreito do IFGW com grandes projetos e organizações científicas, como o LNLS, o Projeto Pierre Auger (sobre raios cósmicos ultraenergéticos), o Cepof, a Kyatera, o Fotonicom (voltados às comunicações ópticas) e a CinAPCe. Além disso, destaca-se também o envolvimento de diversos físicos unicampestres na formação de empresas de tecnologia de ponta. De 1983 a 2006, foram geradas 12 empresas por pesquisadores do Instituto.
Houve diversas transformações institucionais pelas quais a Unicamp e o Instituto de Física passaram desde os anos 1980. Em 1978, Zeferino Vaz recebeu sua aposentadoria compulsória, terminando, assim, o período considerado de implantação da Unicamp. Mas permaneceu na instituição, na diretoria da Funcamp. Logo após sua morte, em 1981, houve uma tentativa de intervenção estadual do governo de Paulo Maluf. Alguns diretores de institutos foram removidos do cargo, entre os quais o da Física, Carlos Argüello. Mas a veemência da reação da comunidade e a entrada de alguns dos destituídos na Justiça reverteu a intervenção e os afastamentos e a situação voltou à normalidade, após meses de turbulência.
O final da era Zeferino não significou que a universidade não continuasse se expandindo - em 1986, após a gestão do reitor José Aristodemo Pinotti, a área construída havia mais que dobrado. Seguiram-se também profundas reformas institucionais, inclusive no Estatuto. Isso, em relação à Unicamp como um todo; houve também reformas específicas do Instituto de Física, como a instituição da coordenação entre os cursos de Graduação no início dos anos 1990, a reforma da Graduação do fim da década e a formação do Laboratório Integrado de Ensino de Física (LIF), acessíveis a alunos do ensino médio da rede pública.
Nos últimos 20 anos, o IFGW tornou-se um centro de atração de pós-graduandos vindos de toda a América Latina. Vários professores argentinos já haviam chegado no início da década de 1980 por causa da crise econômica e política em seu país. As pesquisas teóricas e básicas cresceram, alcançando um equilíbrio com as experimentais e aplicadas, predominantes nos primeiros anos do Instituto.
Por que o Instituto de Física da Unicamp conseguiu crescer e se consolidar tão rápida e eficientemente?
A resposta mais comum a esse tipo de pergunta refere-se aos talentos individuais, homens de visão que estiveram no lugar certo na hora certa. De fato, candidatos a isso não faltam: Zeferino, Damy, Sérgio Porto, Cerqueira Leite e, fora da universidade, José Pelúcio, na Finep. Mas essas pessoas nada poderiam fazer e não houvesse conjunturas e oportunidades favoráveis. De fato, vimos como Sérgio Porto e Cerqueira Leite foram aos EUA após não conseguirem ambiente adequado para suas pesquisas no Brasil, seguidos por várias pessoas que se tornaram seus alunos, durante o período de maior fuga de cérebros do governo JK. O governo militar, apesar da violência e do fechamento político, reverteu essa situação tanto (temporariamente) na área econômica - falamos do período de bonança interna e externa da época do Milagre Econômico (1967-1973) - quanto na política - colocando nos postos-chave pessoas que compartilhavam a ideologia segundo a qual o desenvolvimento depende dos avanços científicos e tecnológicos.
Entre a pessoas colocadas (ou mantidas) nesses cargos estavam o ministro do Planejamento, José Paulo dos Reis Veloso, o diretor da Finep, José Pelúcio Ferreira, e o reitor pro-tempore da Unicamp, Zeferino Vaz. Na figura José Pelúcio convergiram duas das conjunturas favoráveis: a ideologia da pesquisa em prol do desenvolvimento e o potencial real de investimento devido à fartura econômica na época do Milagre.
A intenção do Planalto de investir em programas considerados estratégicos, como as comunicações, convergiu com as possibilidades do grupo de Estado Sólido que chegou a partir de 1970. Mesmo após o fim do Milagre, com a crise do petróleo de 1973, passaram a ser financiadas pesquisas em fontes de energia alternativas. Tudo isso fez com que as pesquisas do IFGW, depois de 1970, dessem ênfase à parte aplicada e experimental. Isso tornou o Instituto uma exceção no Terceiro Mundo, onde a maior parte das pesquisas em Física tende a ser teórica. Décadas mais tarde, foi atingido um equilíbrio com a parte teórica e a pesquisa básica, por causa de novos grupos de pesquisa e de reorientações nos grupos já existentes.
Nesse processo, é interessante como vários grupos que começaram com assuntos direcionados às necessidades estratégicas do país na época de sua formação mais tarde evoluíram para outras linhas de investigação. As pesquisas com separação de isótopos de urânio passaram à pesquisa básica sobre física atômica e molecular e sobre lasers; as sobre catálise para carros se deslocaram para a física básica e aplicada de superfícies; as de conversão de carvão em derivados de petróleo evoluíram para o estudo dos nanotubos de carbono.
Por outro lado, as oportunidades e conjunturas favoráveis por si só não são suficientes se não há pessoas que saibam aproveitá-las. Nesse sentido, as escolhas feitas pelas pessoas incumbidas de determinar quem ocuparia os cargos mais relevantes foram fundamentais. Pesquisadores extremamente experientes como Marcelo Damy e Sérgio Porto fizeram diferença por pelo menos quatro razões.
Concentração de experiências.
Físicos reunidos na escadaria do Instituto de Física nos anos 1970, entre eles
Marcelo Damy de Souza Santos,
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Zoraide Primerano Arguello,
Nelson Parada e Carlos Alfredo Arguello. O chamado "Grupo de Campinas"
era composto por mais de 50 físicos. Foto: Antônio Lúcio
Primeiro, claro, porque tinham grande competência técnica. Segundo, porque tinham fino tino para que estudos seriam adequados para a conjuntura internacional e nacional do momento. E combinavam isso com a ousadia, necessária para qualquer inovação. Assim, Damy reservou 50% da área dos prédios de pesquisa do Instituto à Física do Estado Sólido, sendo que, na época, havia pouquíssimos grupos estudando-a no país.
Terceiro, por darem peso para a instituição, uma impressão de destino promissor, o que facilitava a cooptação de pessoas para trabalharem lá - o IFGW era o lugar onde ninguém menos que César Lattes estava descobrindo "novos estados da matéria", as bolas-de-fogo, que retumbaram pela imprensa. E quarto, porque possuíam redes sociais muito ricas em pessoas igualmente experientes e podiam, assim, alcançar e convencer esses profissionais a irem para a Unicamp. Além disso, isso os permitia identificar e aproveitar oportunidades a tempo, como a indisposição de César Lattes na USP ou a existência de um grupo de ex-alunos brasileiros de Sérgio Porto na Física do Estado Sólido, dispersos geograficamente mas coesos em seus interesses em voltar em conjunto ao Brasil. Isso é particularmente importante em áreas em que o país não tem tradição, como era no caso do estado sólido, pois, nessa situação, foi preciso "importar" conhecimento de fora (no caso, por meio de Sérgio Porto, que fez sua pós-graduação na Universidade John Hopkins e depois trabalhou na Bell Labs e na Universidade do Sul da Califórnia). Trata-se de um fenômeno que acontece frequentemente na história da ciência no Brasil e em outros países que tentam pegar o "bonde da História" na pesquisa científica.
Os itens "peso" e "redes sociais" valem também para Zeferino Vaz, uma pessoa com experiência no ramo de construir instituições de pesquisa, tendo montado a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e possuidor de uma rede social muito boa: além de ter bom trânsito tanto na ala moderada quanto na ala dura do governo militar, ele conhecia e era amigo de cientistas muito experientes, como Marcelo Damy.
As pessoas que chegavam eram profissionais experientes, já com carreiras consolidadas e por vezes iam com equipes inteiras. Lattes simplesmente transferiu seu grupo todo da USP para a Unicamp, incluindo a colaboração Brasil-Japão em raios cósmicos. Porto levou seus ex-alunos espalhados pela América do Norte. O pessoal de Rio Claro ficou também todo na Unicamp. E, quando se fala em equipes, não se trata só de profissionais: vários alunos foram transferidos para o IFGW junto com essas pessoas, tanto de Rio Claro quanto no grupo de Lattes.
Portanto, o sucesso do Instituto e Física Gleb Wataghin pode ser em boa parte explicado pela convergência entre as conjunturas favoráveis e pessoas capazes de identificá-las e aproveitá-las.
Em janeiro de 1967, a Faculdade de Ciências e Letras de Rio Claro era incorporada à Unicamp. Um ano e meio depois, a Câmara dos Deputados estadual revertia a incorporação. Entre os dois eventos, houve uma intensa reação de vários setores da sociedade rioclarense, incluindo a imprensa, e uma crise institucional entre a Diretoria da faculdade e a reitoria da Unicamp. O episódio está documentado nos arquivos do Siarq. Baseado nessa fonte, foi redigida esta narrativa deste episódio, cuja importância para a história do Instituto de Física Gleb Wataghin é que dele saiu o primeiro grupo de professores do Instituto.
Argumentos para os que defendiam a transferência dos cursos de Rio Claro para Campinas não faltavam, tanto da parte da Unicamp quanto da rioclarense. A universidade tinha muito mais facilidade de contratação de docentes, a procura dos estudantes era maior e havia mais equipamentos. Enquanto isso, a faculdade de Rio Claro sofria uma crise financeira crescente desde meados dos anos 1960, que se refletia na falta de equipamentos, na quantidade insuficiente de docentes, no não-oferecimento de algumas disciplinas e na decrescente procura da faculdade pelos estudantes e no baixo índice de aprovação nos vestibulares – sendo que o curso de Física era o que tinha menos procura.
Além disso, o próprio conceito de universidade da nova instituição em Campinas implicava em que os cursos básicos fossem ministrados pelos seus Institutos Centrais (Física, Matemática etc.), enquanto os profissionalizantes o seriam nas faculdades correspondentes.
Isso era uma consequência das discussões sobre o conceito de universidade a ser aplicado na instituição, derivado dos acertos e erros das tentativas da USP, do ITA, da UnB e da Universidade do ABC. Havia uma argumentação sólida por detrás da necessidade da integração dos cursos básicos nos institutos correspondentes; ela era necessária não só para promover uma universidade que funcionasse como um todo orgânico, mas também para evitar que as forças centrífugas desintegrassem essa estrutura, como aconteceu com a USP e a UnB. Por isso, a necessidade da integração de cursos básicos era exigida na própria lei de criação da Universidade de Campinas, de 1962, no seu Artigo 5.o. Como consequência, os cursos de Física e Matemática deveriam em tese ser transferidos para as vizinhanças dos Institutos correspondentes no campus em Campinas. A própria Secretaria da Fazenda do Estado de Sâo Paulo havia, já em março, condicionado a liberação de verbas para a faculdade de Rio Claro à integração dos seus cursos de Física e de Matemática com os da universidade. O problema era a interpretação do que fosse “integração”: “entrosamento” ou “integração física e geográfica”?
Do lado do pessoal docente de Rio Claro, a Universidade de Campinas parecia também bastante interessante, pois, apesar de ainda muito jovem, prometia condições muito melhores de pesquisa. A fama de uma universidade com estrutura moderna atraía muita gente; a presença de personalidades de peso em seu comando, como Zeferino Vaz e Marcelo Damy, idem; a contratação de docentes famosos pelo Brasil e mesmo pelo mundo, também, assim como os equipamentos que conseguia.
No caso da física, a capacidade de atração da Unicamp recebeu confirmações em grande estilo nos meses seguintes. Logo em agosto, chegou à jovem universidade ninguém menos que César Lattes, a maior celebridade científica do país, e aterrisou no aeroporto de Congonhas o computador IBM 1130, encomendado em abril à empresa estado-unidense, o primeiro do interior de São Paulo. Os três meses decorridos entre o pedido e o recebimento eram extraordinários, dada a demora proverbial desse tipo de processo - outras instituições haviam solicitado máquinas semelhantes havia dois anos e ainda não as haviam recebido. No fim do ano, a Reitoria alardeava a contratação de 6 a 8 pesquisadores "de grande experiência e renome" para 1968 (havia uma certa "boa vontade excessiva" nesses números; os estrangeiros mais famosos, os japoneses Mituo Taketani e Tekao Tati e o italiano Adriano Gozzini, não vieram).
Nos primeiros meses, a transferência dos cursos ficou só na ideia. Não só ela: as “promessas” da incorporação também demoravam a aparecer. Mas um episódio no primeiro semestre de 1967 deu impulso a que as coisas fossem além da palavra e do papel. Estourou na faculdade de Rio Claro uma greve de estudantes que exigiam a solução da falta de professores. Não tinha havido contratação de docentes para substiuir os que saíram e muitas disciplinas simplesmente não estavam sendo ministradas.
O movimento alarmou o Poder Legislativo, que se pôs do lado dos estudantes. No fim de abril, uma moção de urgência da Câmara dos Vereadores para o secretário da Educação do Estado de São Paulo pedia uma solução rápida para a crise. Três dias depois, conseguiu-se que o movimento fosse suspenso com a condição de que o reitor resolvesse os problemas em 45 dias. Mais uma semana e o Conselho Diretor universitário se reuniu e durante 1967 a universidade contratou 24 docentes para Rio Claro e indicou para lá três instrutores do Instituto de Física e sete do de Matemática.
A partir daí, a integração começou a tomar rumo, em parte pela iniciativa da própria diretoria da faculdade rioclarense. No mesmo dia da reunião do Conselho Diretor, o diretor Paulo Sawaya pediu a Damy e Zeferino uma série de reuniões para o que chamou de “entrosamento” dos cursos. Os encontros duraram cerca de um ano.
Mas logo as coisas começaram a tomar outro rumo. Algumas pessoas dentro da faculdade estavam impacientes e começou a ser ventilada a ideia de transferência imediata dos dois cursos. Rumores alcançavam os estudantes e o resto da sociedade riclarense. Sawaya era contra isso; a mudança teria que ser paulatina, para que houvesse tempo de adaptação. Além disso, a possibilidade de mudança imediata soava como uma simples extinção dos cursos de Rio Claro e a transferência dos seus professores para Campinas.
Os rioclarenses tinham suas razões para alarmar-se, pois a sua Faculdade de Ciências e Letras tinha lembranças desagradáveis de episódios anteriores semelhantes. Em 1964, tentou-se transferir os mesmos dois cursos para a Escola de Engenharia de São Carlos. Um grupo de professores e alunos rioclarenses chegou a escrever um memorial propondo a transferência, que acabou não acontecendo após forte reação da sociedade local. O povo da cidade tinha do que se orgulhar: o curso de Física da faculdade era o quarto a ser instalado no Estado de São Paulo, depois do da USP, da Sedes Sapientiae e do Mackenzie. A mudança de alguns desses professores para a Universidade Federal de Goiânia no início daquele ano - e sua volta à faculdade de Rio Claro no começo do ano seguinte, quando os vencimentos das faculdades do interior foram equiparados aos da USP - não ajudou em nada a melhorar a percepção dos rioclarenses sobre o que estava acontecendo.
Por isso, quando alguns dos mesmos professores e alunos apareceram entre os 11 docentes e 26 estudantes que lançaram um abaixo-assinado nos dias 29 e 30 de maio pedindo ao diretor a transferência imediata dos cursos de Física e Matemática para Campinas, uma forte reação da sociedade e da imprensa de Rio Claro irrompeu em apenas dois dias. Apesar de Zeferino ter reagido cautelosamente, dizendo que o assunto estava "em estudo" e aguardava "oportunidade", a percepção de muitos era que havia uma espécie de conspiração contra a faculdade que vinha de longe. Um grêmio de alunos pré-universitários denunciava um "movimento subterrâneo" para concretizar a medida, em prol de interesses particulares de alguns docentes (dia 2 de junho); a loja maçon "Estrela de Rio Claro" se dizia "estarrecida" com as "maquinações" dentro da faculdade para transferir os cursos e acusava os professores envolvidos de "manipuladores da inexperiência dos jovens estudantes" (dia 3); a Câmara de Vereadores convocou o diretor Sawaya para dar explicações (dia 3); os jornais Cidade de Rio Claro e Diário do Rio Claro vincularam o episódio com a tentativa de transferência para São Carlos em 1964 e teceram fortes acusações contra os docentes signatários do abaixo-assinado (dia 4).
A reação de maior visibilidade veio de um setor inesperado da sociedade rioclarense: estudantes pré-universitários. No dia 23 de junho, nada menos que três mil deles enviaram um abaixo-assinado ao governador Abreu Sodré protestando contra a transferência e fazendo fortes ataques aos professores que pediram a mudança imediata para Campinas no outro abaixo-assinado, de maio. A maioria desses alunos era do Instituto de Educação Estadual Joaquim Ribeiro (o mesmo cujo grêmio havia se manifestado no dia 2). Os jornais saudaram estrepitosamente a iniciativa. Três dias depois, um editorial do Diário do Rio Claro denunciava um "hábil trabalho de desmantelamento da FAFI" [como era conhecida a faculdade] e chamava os cursos que Rio Claro ganharia em troca de "brinquedos de matéria plástica, cursos sem expressão, bitolados" (eram de Geologia e de Florestas e mais um colégio técnico).
A apreensão logo chegou a espalhar-se para Limeira, cidade vizinha, onde se planejava construir uma faculdade de engenharia (elétrica e mecânica) para ser incorporada à Universidade de Campinas assim que as obras terminassem. Os planos eram que, após cursarem temporariamente os dois primeiros anos num prédio no campus de Barão Geraldo, os alunos se mudassem para aquela cidade, com a faculdade já pronta. Em agosto, a Gazeta de Limeira publicou uma nota na qual expressou seu medo de que as obras jamais começassem e que os curso permanecessem para sempre em Campinas (no entanto, os planos originais aconteceram; as engenharias de Limeira, às quais se somou a Civil, mudaram-se para Campinas apenas em 1988).
Apesar de garantias que Zeferino deu para tranquilizar os rioclarenses numa visita que fez à faculdade em agosto, o temor dos rioclarenses logo começou a concretizar-se. Iniciou-se um êxodo de professores de Física de Rio Claro para Campinas, que se estendeu ao longo do ano de 1967 e que parecia ameaçar esvaziar o curso. Vários estudantes os seguiram. A diferença entre a atmosfera no curso de Física de Rio Claro e o que esses docentes esperavam com a mudança foi sintetizadas numa carta que um deles mandou para o reitor Zeferino Vaz, na qual pedia que sua residência fosse transferida para Campinas: disse ele que queria "viver e respirar Física - não viver ilhado, cercado por não-Física por todos os lados."
Diante disso, Sawaya também reagiu e mandou em janeiro de 1968 um comunicado a Zeferino em termos duros. O episódio transformou-se em uma crise que envolveu, de um lado, a administração da universidade e, de outro, a diretoria da faculdade, respaldada por manifestações cada vez mais polarizadas de diversos setores da sociedade rioclarense (um secretário do governo chegou a dizer que ele e sua família não podiam andar nas ruas da cidade). Aos ânimos cada vez mais exaltados somava-se a incerteza dos professores e alunos da faculdade, que passaram um ano sem saber se o curso seria transferido para Campinas ou não.
Enquanto isso, a situação financeira da faculdade se agravava. Os pagamentos de seus docentes e funcionários nos dois últimos meses de 1967 e em janeiro de 1968 tiveram que ser feitos pela universidade, com dinheiro retirado dos seus Institutos Centrais. Para 1968, as perspectivas eram sombrias. O próprio diretor Sawaya escreveu, numa carta a Zeferino de 23 de janeiro, que a Diretoria se achava "incapacitada de estabelecer qualquer programa de trabalho" para aquele ano.
Na mesma carta, Sawaya ameaçava demitir-se caso vingasse a tese da transferência imediata dos cursos. Três dias depois, assinava sua carta de demissão. No entanto, ainda teria que assistir, demissionário, ao desenrolar do processo até seu fim.
Enquanto tudo isso acontecia, prosseguiam as reuniões entre Sawaya e os coordenadores dos Institutos de Física e de Matemática da universidade, para "entrosar" os cursos de Rio Claro com eles. Finalmente, em 8 de fevereiro de 1968, os coordenadores apresentaram ao Conselho Diretor da universidade sua proposta de como realizar esse "entrosamento". Sawaya não havia conseguido convencer Damy e Marques de fazer uma transferência paulatina. Segundo a proposta, haveria uma mudança parcial dos cursos de Física e Matemática para Campinas: as cadeiras básicas seriam transferidas e permaneceriam em Rio Claro as de Licenciatura, que eram ministradas na quarta série dos dois cursos. Além disso, a universidade se comprometeria a suprir as aulas de física e matemática em Rio Claro para quaisquer cursos que precisassem dessas disciplinas. Para sustentar a necessidade dessas medidas, Marcelo Damy apresentou os abaixo-assinados e cartas dos professores e dos alunos de Rio Claro o documento do CEMAFI e, ironicamente, até as avaliações do próprio Sawaya sobre as condições ruins da Faculdade. Além disso, havia o ônus de manter cursos duplicados em Campinas e Rio Claro.
O diretor, evidentemente, se opôs. Contrapôs a proposta de os cursos serem transferidos apenas quando estivessem devidamente instalados, em Rio Claro, os novos cursos de Geologia e Superior de Florestas e o colégio técnico. O vice-diretor, Antônio Buschinelli, preferia manter os cursos como estavam, na faculdade. A proposta de Damy e Marques venceu por 6 votos a 4, com três abstenções (curiosamente, o mesmo placar com que perderam as outras duas, só que invertido).
No entanto, três dias depois, Zeferino recebia uma carta do governador do Estado, Abreu Sodré, questionando a "extinção" dos cursos de Física e Matemática da faculdade de Rio Claro ("extinção" era uma expressão usada por Paulo Sawaya, o que indica a sua influência na postura do governador). Como, pela lei, esse tipo de reorganização da estrutura de uma universidade só podia ser feita por decreto do Executivo, pedia à Reitoria para sustar a transferência, enquanto enviava ao governo estadual um relatório com os motivos pelos quais os cursos estariam sendo transferidos e alternativas à transferência, caso ela não acontecesse. Além disso, o governador queria escutar o Conselho Estadual de Educação a respeito.
Zeferino imediatamente enviou um ofício ao CEE informando os motivos da transferência. Uma semana depois, no dia 19 de fevereiro, o Conselho analisou o relatório do reitor, com a presença de Sawaya, que foi convidado por deferência. Este, ao saber do conteúdo, reagiu enviando a Zeferino "Informações" contestando o que ele tinha escrito.
Era necessário ainda, porém, deliberar no Conselho Diretor da universidade sobre os outros pedidos de Abreu Sodré. O coordenador geral dos Institutos, Paulo Gomes Romeo, redigiu quatro alternativas para o caso da transferência dos dois cursos não se concretizar totalmente. A quarta alternativa era a não-transferência total seguida do desligamento da faculdade da universidade, revertendo-a à sua situação anterior à incorporação.
A reunião foi no dia 22 de fevereiro. Paulo Sawaya não compareceu; para representar a Diretoria, foi o diretor associado, Antônio Buschinelli. Os presentes não se resumiram a aprovar as alternativas de Romeo; houve também uma interessante discussão entre, de um lado, Zeferino e Damy e, de outro, Buschinelli, a qual parece dar uma boa ideia de como o debate vinha se desenrolando. Como bem notaram alguns dos presentes, as argumentações dos dois lados eram de ordens muito diferentes: Zeferino e Damy pensavam em termos exclusivamente técnicos, invocando a eficiência e a fidelidade à letra da legislação; Sawaya e Buschinelli apelavam à tradição da faculdade e ao impacto da transferência dos cursos sobre o espírito dos rioclarenses. Ou seja, as duas argumentações não se articulavam, o que dificultava muito alcançar qualquer consenso. Ao mesmo tempo, a posição da Diretoria se enfraquecia por causa da natureza do que tinha que defender, que os obrigava a dois tipos de argumentos conflitantes: de um lado, a lembrança da situação calamitosa das finanças e do corpo docente da faculdade, para justificar o socorro da universidade; e, de outro, e o argumento de que ela vinha conseguindo desempenhar satisfatoriamente sua função e por isso não poderia ser desmantelada. Enquanto isso, os argumentos de Zeferino e Damy eram matematicamente unificados e focados.
Não bastasse isso, havia também problemas sobre o significado dos termos usados – “transferência”, “entrosamento”, “integração” –, o que em geral prejudicava a Diretoria. A expressão "transferência imediata" praticamente não apareceu na ata; ao que parece, ninguém queria pronunciá-la, mas entendia-se que estava implícita na proposta de Damy e Marques. No entanto, a ambiguidade que isso poderia gerar foi utilizada por Zeferino quando insistia em que o próprio Sawaya defendia a "transferência" e agora tinha mudado de ideia e usava contra o diretor seus próprios argumentos de dois meses antes. Na verdade, Sawaya havia escolhido desde muito antes o termo “entrosamento”, que indicava que ele não pensava em integração física e geográfica.
Zeferino enviou ao CEE não só a lista de alternativas pedida pelo governador, mas também a crítica de Sawaya; mas anexou uma contracrítica sua na qual desmontava um a um os contra-argumentos do diretor. O conjunto todo de documentos, desde o relatório de Zeferino ao CEE do dia 13, forma uma sequência de arrazoados entre a Diretoria, de um lado, e o reitor ou os coordenadores dos dois Institutos Centrais, do outro, cada um contestando os argumentos do anterior. Nesse conjunto, os argumentos da reitoria em defesa da transferência dos cursos parecem massacrantes.
Enquanto o CEE não dava sua resposta aos papéis que Zeferino enviou, a mobilização rioclarense continuava, agora com a novidade de manifestações antitransferência vindas de dentro da faculdade. No dia seguinte ao da reunião do dia 22, foi enviado à reitoria outro abaixo-assinados de alunos da faculdade de Rio Claro, desta vez pedindo para os cursos de Física e Matemática ficarem na cidade. Entre eles, havia três que haviam assinado também o abaixo-assinado pedindo o contrário, no início de junho. No dia 8 de março, o presidente da Câmara Municipal de Rio Claro, Antônio Maria Marrote, mandou uma carta ao deputado federal Antônio Sylvio da Cunha Bueno, pedindo para, junto com outro deputado, Hamilton Prado, trabalhar para evitar a transferência dos cursos, mesmo que isso significasse o seu desligamento da universidade.
Mesmo assim, é de se surpreender que, duas semanas depois de Zeferino ter enviado os últimos papéis ao CEE, o reitor tenha mandado ao Conselho outra carta, desta vez defendendo o desligamento da faculdade da Universidade de Campinas. Dois dias depois, em 13 de março de 1968, o Conselho decidia pela não-transferência dos cursos e pela reversão da faculdade a Instituto Isolado de Ensino Superior, desligando-o da universidade. O projeto de lei para o desligamento foi enviado em 8 de junho e foi aprovada pela Câmara estadual em 10 de setembro. Na sequência de documentos do calhamaço do Siarq sobre Rio Claro, este desfecho parece tão súbito quanto deve parecer nesta narrativa.
Apesar do desligamento, os professores que foram a Campinas não voltaram, assim como alguns estudantes rioclarenses. Esses formaram o primeiro corpo docente do Instituto de Física, juntamente com três professores do ITA que se transferiram para a Unicamp na mesma época.
Vice-diretor: Germano de Braga Rego
09/02/1967-16/05/1972
(Obs.: entre 16/05/1972 e 24/07/1972, Germano Braga Rego respondeu pela Diretoria)
Vice-diretor: Nicolao Januzzi (1929-2006)
25/07/1972-20/09/1975
Vice-diretor: Carlos Alfredo Argüello
21/09/1975-30/04/1976
(Obs.: entre 01/05/1976 e 01/07/1978, Carlos Argüello respondeu pela Diretoria)
Vice-diretor: Helmut Kart Böckelmann
01/07/1978-30/06/1982
Vice-diretor: Curt Egon Hennies
03/06/1982-28/03/1983
(Obs.: entre 29/03/1983 e 05/05/1983, Curt Egon Hennies respondeu pela Diretoria)
Vice-diretor: Armando Fernandes da Silva Moreira
03/05/1983-03/05/1987
Vice-diretor: Ricardo Enrique Medano (1937-2004)
04/05/1987-02/05/1991
Vice-diretor: Luiz Marco Brescansin
03/05/1991-17/07/1994
(Obs.: entre 29/04/1994 e 17/07/1994, Luiz Marco Brescansin respondeu pela Diretoria)
Vice-diretor: Daniel Pereira
18/07/1994-17/07/1998
Vice-diretor: Carola Dobrigkeit Chinellato
18/07/1998-17/07/2002
(Obs.: entre 19/04/2002 e 17/07/2002, Carola Dobrigkeit Chinellato respondeu pela Diretoria)
Vice-diretor: Julio Cesar Hadler Neto
18/07/2002-03/05/2005
(Obs.: de 03/05/2005 a 17/07/2006, Julio Cesar Hadler Neto passou a ser o diretor e o prof. Eduardo Miranda, diretor associado)
Vice-diretor: Francisco das Chagas Marques
18/07/2006-17/07/2010
Diretor associado: Newton Cesário Frateschi
18/07/2010-17/07/2014
Diretor associado: Luis Eduardo Evangelista de Araujo
18/07/2014-17/07/2018
Vice-diretora: Mônica Alonso Cotta
01/08/2017 – 31/08/2021
Vice-diretor: Marcos Cesar de Oliveira
01/08/2021- Atual
1946 - Artigo do jornalista Luso Ventura, então editor-chefe do jornal de Campinas "Correio Popular" começa a campanha na imprensa pela instalação de uma faculdade de medicina em Campinas. Luso escreveria mais de 200 artigos sobre o assunto, primeiro no "Correio Popular" e depois no "Diário do Povo".
1956 - Zeferino Vaz, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (fundada por ele em 1951), pronuncia-se contra a criação de uma faculdade de medicina em Campinas. A declaração teve impacto, porque estava, na prática, nas mãos de catedráticos da USP (por meio do seu Conselho Universitário) o principal instrumento para autorização do funcionamento de cursos superiores no Estado de São Paulo era o Conselho Estadual de Ensino Superior (futuro Conselho Estadual de Educação). Essa instituição evitava que um sem-número de criações de faculdades para agradar currais eleitorais saísse do papel, costume que começou no governo de Lucas Nogueira Garcez.
1958 - Lei 4.996/58 recria a Faculdade de Medicina de Campinas (havia sido criada antes, mas sem sair do papel), juntamente com outras em Catanduva, São José do Rio Preto e Botucatu. Mas, paralelamente, o governador anunciou uma comissão para analisar as condições específicas de cada cidade. A presidência da comissão foi, logo depois, confiada a Zeferino Vaz, que, em 1956, havia se pronunciado contra a instalação de um faculdade de medicina em Campinas.
1959 - A comissão criada por Jânio Quadros rejeita as pretensões de Campinas e dá parecer favorável a Botucatu, que ganha sua faculdade de Medicina.
1960 - O patologista Roberto Franco do Amaral, ao tomar posse na presidência da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, elege como prioridade número um da entidade a instalação de uma faculdade de Medicina em Campinas.
1961, dezembro - O governador Carvalho Pinto afasta Zeferino Vaz do caso da faculdade de Medicina e nomeia um seu antípoda político, o reitor da USP Antônio Barros de Ulhoa Cintra, para chefiar um novo grupo de trabalho com a missão de estudar a criação de um núcleo universitário em Campinas.
28/12/1962 - Lei Estadual 7.655/62, que criou a Universidade Estadual de Campinas (UEC) e incluiu o Instituto de Física como uma de suas futuras unidades (Artigo 28, item II, letra "a"). O governador nomeia como primeiro reitor Cantídio de Moura Campos O curso de Medicina, o primeiro da UEC, foi autorizado a funcionar provisoriamente nas dependências de um hospital ainda em construção, a Maternidade de Campinas.
13/01/1963 - Assume o primeiro reitor da UEC, Cantídio de Moura Campos. Exerceu o cargo por oito meses, com a responsabilidade principal de promover a sua instalação.
23/08/1963 - Cantídio de Moura Campos é substituído na reitoria da UEC pelo cirurgião vascular MÁRIO DEGNI, supostamente ademarista.
31/03-01/04/1964 - Golpe militar depõe o presidente João Goulart.
09/04/1964 - Invasão da UnB por tropas do Exército de Minas Gerais,[vsites.unb.br] no mesmo dia da decretação do AI-1.
Aula inaugural de instalação da Faculdade de Medicina, no Teatro Municipal Carlos Gomes (20/05/1963).
13/04/1964 - Decreto inicia a intervenção federal na UnB. O cargo de reitor é suspenso e Zeferino Vaz, então professor na Faculdade de Medicina Veterinária da USP, é nomeado reitor pro tempore. Ele seria confirmado no cargo em junho por uma eleição no Conselho Diretor.
1964, julho - Lançada a pedra fundamental da UEC num terreno doado pelo fazendeiro Caio Pinto Guimarães, numa gleba da Fazenda Santa Cândida. No ano seguinte, porém, o terreno seria rejeitado por Zeferino Vaz, que exercia as funções de reitor. Guimarães havia condicionado a construção da Cidade Universitária a um projeto já pronto do arquiteto Sérgio Bernardes. Alguns anos mais tarde, seria ali construído o campus da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
1965 - Honório Monteiro, professor de direito da USP, membro do Conselho Estadual de Educação, recomenda a extinção da UEC, argumentando que ela não existe como universidade, pois a lei exige um mínimo de cinco unidades para a autorização do funcionamento de uma universidade e a UEC só tinha uma.
1965, agosto - O Conselho Estadual de Educação, após gestões de Esther de Figueiredo Ferraz, decide que a UEC existe, ainda que em estado de organização, e propõe ao governador a constituição de uma comissão que a planejasse e organizasse. Esther e Oswaldo Miller da Silva sugeriram para a chefia da comissão o nome de Zeferino Vaz. Mas o parecer do Conselho também recomenda a extinção do cargo de reitor, já que a instituição estaria em processo de organização. Esse cargo seria atribuído ao presidente da comissão organizadora, Zeferino Vaz. O reitor Mário Degni renunciou ao cargo antes da sua exoneração.
09/09/1965 - Decreto assinado pelo governador de São Paulo cria uma comissão organizadora para a Universidade Estadual de Campinas e nomeia Zeferino Vaz seu presidente. A Comissão trabalharia até junho do ano seguinte.
13/09/1966 - Primeira reunião de Zeferino Vaz com empresários de Campinas, convocada, a pedido de Zeferino, pela seção local da Federação das Indústrias do Estado.
05/10/1966 - Lançada a pedra fundamental do campus da Unicamp em Barão Geraldo.
Cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Unicamp no campus de Barão Geraldo; abaixado, o presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco (5/10/1966).
Fonte: 35 anos Unicamp: Ciência e Tecnologia na Imprensa
19/12/1966 - Resolução CEE 46/66, que deu autorização para a instalação e o funcionamento do Instituto de Física, juntamente com os de Biologia, Matemática e Química e as Faculdades de Engenharia, Tecnologia de Alimentos, Ciências e Enfermagem.
22/12/1966 - Zeferino Vaz é nomeado reitor da Unicamp por decreto do governador Laudo Natel.
30/01/1967 - A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (criada Lei nº 3.895, de 7 de junho de 1957) é incorporada à Unicamp. Na mesma lei, era incorporada também a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Piracicaba, com o nome de Faculdade de Odontologia de Piracicaba (criada pela Lei nº 2.956, de 20 de janeiro de 1955). Pouco mais tarde, diante da reação da comunidade de Rio Claro, a anexação foi revertida. Porém, perguntados onde queriam ficar, os físicos de Rio Claro preferiram a Unicamp e acabaram se incorporando ao Instituto de Física. Entre eles estão Carlos Alfredo Argüello, Zoraide Argüello, Germano Braga Rego, Nicolau Januzzi, Eduardo Araújo Farah, Luiz Marco Brescansin, Jorge Rego Freitas, Sérgio Bianchini Bilac e Vólia Lemos. São agregados também mais dois outros professores, oriundos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA): João Martins e Raul Cavalheiro.
25/04/1967 - Primeira aula que consta no livro de registros do Instituto de Física da Unicamp, com o assunto "Introdução histórica à Óptica Clássica". O reitor pro tempore Zeferino Vaz chamou Marcelo Damy de Souza Santos para implantar o instituto. Este recrutou César Lattes, que foi para a Unicamp e levou sua linha de pesquisa e a colaboração do Brasil com o Japão na área de raios cósmicos. Seu grupo trabalhou no porão do atual Colégio Técnico de Campinas até 1970.
1967, julho - Apresentado pelo governo o Programa Estratégico de Desenvolvimento para 1968-70, que contém o primeiro programa nacional de política científica e tecnológica do Brasil.
O IFGW em 1971.
16/08/1968 - Inaugurado o primeiro edifício no campus de Barão Geraldo, que alojou provisoriamente o Instituto de Biologia (IB) e mais tarde a Administração.
10/09/1968 - A Faculdade de Filosofia, Ciências, Letras e Artes de Rio Claro é desvinculada da Unicamp, voltando a ser um Instituto Isolado de Ensino Superior. Seus professores e vários estudantes do curso de Física, entretanto, ficaram na Unicamp.
01/10/1968 - Instituição dos Centros Regionais de Pós-Graduação.
29/11/1968 - Decreto da Reforma Universitária.
13/12/1968 - Ato Institucional número 5 (AI-5), que reformou a Constituição e fechou o regime político.
1969 - O grupo de César Lattes observa o fenômeno mais energético do tipo bola de fogo já observado até hoje, chamado "Andrômeda". A descoberta reperture na imprensa nacional e internacional.
15/07/1969 - Primeira defesa de tese de doutorado do Instituto de Física da Unicamp, por Lais Pimenta de Moura, orientada por Marcelo Damy. Era sobre um método para a medida da atividade de radionuclídios.
1970, janeiro - Chegada de Rogério de Cerqueira Leite. Pouco depois, chegam José Ripper Filho e outros. Nos anos seguintes, chegarão vários ex-alunos de Sérgio Porto, que fundarão as equipes de laser, semicondutores e outras linhas de pesquisa. Entre eles, estão Nelson de Jesus Parada, José Busnardo Neto, Paulo Sakanaka e outros. Também chegam, no início da década, Carlos Rettori, Elion Vargas, Gaston Barbieri, Dimitrios Bozinis, Artemio Scalabrin e Daltro Pinatti entre outros.
1970 - Chegada de Daltro Pinatti no IFGW e fundação do grupo de baixas temperaturas.
31/03/1970 - Instalação efetiva do curso de pós-graduação do Instituto de Física da Unicamp, com a publicação no Diário Oficial do regulamento do Instituto para esses cursos.
14/08/1970 - Inaugurada a via de acesso asfaltada que liga o campus universitário a Barão Geraldo e o Instituto de Física da Unicamp.
15/08/1970 - Inauguração do novo prédio Instituto de Física, no novo campus em Barão Geraldo.
1971, agosto - A Unicamp concede o título de doutor honoris causa ao professor Gleb Wataghin, pioneiro da física no Brasil.
31/08/1971 - O nome do Instituto passa a ser Instituto de Física Gleb Wataghin.
Gleb Wataghin descerra a placa na cerimônia que deu seu nome ao Instituto da Física da Unicamp.
Fonte: 35 anos Unicamp: Ciência e Tecnologia na Imprensa
1971 - Chegada de José Ellis Ripper ao IFGW.
1971 - Rogério de Cerqueira Leite assume a direção do instituto e começa nova safra de contratação de pesquisadores, desta vez nos Estados Unidos.
23/11/1971 - Os cursos de mestrado e doutorado do IFGW são aprovados pela Comissão de Pós-Graduação do CNPq e o IFGW passa a ser classificado um dos Centros de Excelência em Pós-Graduação.
11/07/1972 - Criação da Telebrás pelo governo federal. Professores do IFGW vão conversar com seu presidente. Vendo que existiam pesquisadores dispostos a atuar na área das comunicações ópticas, a Telebrás decidiu investir inicialmente nos cientistas universitários ao invés de abrir um instituto de pesquisa próprio.
1972 - Chegada de Sérgio Porto à Unicamp. Ele vem após ter garantias do ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Veloso. Veloso aceitou satisfazer as condições especiais de trabalho que pediu: edificação própria para as pesquisas, US$ 2 milhões para aquisição de equipamentos, e uma equipe mínima inicial composta de 30 doutores selecionados por ele.
Sérgio Porto maneja um laser de argônio nos anos 1970.
1972, novembro - Zoraide Arguello produz no IFGW os primeiros cristais semicondutores da América Latina.
1973 - Chegada de Stephenson Caticha Ellis ao IFGW e início dos trabalhos com Cristalografia.
1973 - A Telebrás assina os três primeiros contratos com universidades: PUC-RJ (na área de antenas); Unicamp (Projeto de Transmissão Digital, coordenado por Rege Scarabucci); Unicamp (Projeto Sistema de Comunicação por Laser, coordenado por José Ripper Filho).
1973 - Choque do Petróleo: aumento progressivo dos preços do petróleo pelos países produtores do Oriente Médio, em retaliação à ajuda do Ocidente a Israel na sua guerra contra os árabes; o Brasil passaria a intensificar os investimentos em estudos sobre novas fontes de energia, o que influenciaria a formação de vários grupos de pesquisa no IFGW.
Equipe inicial do Projeto Fibras Ópticas.
1974, janeiro - Novo contrato com a Telebrás, que somava o Sub-Projeto Fibras Ópticas ao Projeto Sistemas de Comunicação por Laser, ainda sob coordenação de Ripper.
15/03/1974 - Toma posse da presidência da República Ernesto Geisel, que dá início à abertura política do regime.
1974 - Chegada efetiva de Sérgio Porto à Unicamp.
1974 - Chegada de Paulo Sakanaka à Unicamp e fundação do grupo de plasmas.
1975 - Chegam ao IFGW John David Rogers, que inicia os estudos em física de superfícies, e Marcus Zwanziger, que começou as investigações sobre o hidrogênio como combustível.
13/12/1975 - Primeira cirurgia oftalmológica a laser do Brasil, feita por uma equipe de físicos e médicos da qual faziam parte Sérgio Porto e outros de seu grupo.
1976 - Criação do CPqD.
1976 - Reconhecimento, pelo Ministério da Educação, do curso de Licenciatura em Física, além dos de Química, Matemática, Ciências Sociais e Ciências Biológicas da Unicamp.
11/09/1976 - Inauguração do prédio atual do Departamento de Eletrônica Quântica.
1977, abril - Puxamento da primeira fibra óptica brasileira.
Chegada dos primeiros equipamentos de fibra óptica no Departamento de Eletrônica Quântica, em 1976.
1978 - A inauguração de vários pavilhões ampliou a estrutura física da Universidade (Cirurgia Experimental, Engenharia, Física, Química, Matemática, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Centro de Computação, Codetec, Genética, Biblioteca Central e outros).
15/04/1978 - Zeferino Vaz deixa de ser reitor da Unicamp com sua aposentadoria compulsória. Passou a presidir a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp).
1979 - Início das pesquisas em conversão de energia solar em elétrica, com Ivan Chambouleyron.
1980 - Início das pesquisas com plasmas térmicos no Brasil, no IFGW, com Aruy Marotta.
Todos os sites acessados em 03/07/2011
Andrade, Ana Maria Ribeiro de. Físicos, mésons e política: a dinâmica da ciência na sociedade. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec, Museu de Astronomia e Ciências Afins, 1999.
Assessoria de Imprensa da Unicamp. IFGW perde o professor Eduardo Araújo Farah. Disponível em http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2006/10/30/ifgw-perde-o-professor-eduardo-araujo-farah
Barbieri, Cristina. Histórico das construções da Unicamp. Campinas: Siarq/Unicamp, 1999. Disponível em http://www.unicamp.br/siarq/pesquisa/historico_construcoes_unicamp.pdf
Burgos, Marcelo Baumann. Ciência na periferia: a luz síncrotron brasileira. Juiz de Fora: EDUFJF, 1999.
CENDOTEC. Cooperação franco-brasileira em catálise: já um quarto de século. Tecnologia de ponta. N. 9, pág. 1. São Paulo: Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica, outubro-novembro-dezembro de 1996. Disponível em http://www.cendotec.org.br/ffantigos/ff09t.pdf
Chaves, Alaor. Nanociência e nanotecnologia. ComCiência, SBPC/Labjor, 10/01/2002. Disponível em http://www.comciencia.br/reportagens/nanotecnologia/nano17.htm
Correio Popular, Campinas, pág. XLIII, 25/11/1973. Disponível em http://libdigi.unicamp.br/document/?down=CMUHE034031
Correio Popular. Impressões do tempo. Campinas, 04/09/2002. Disponível em http://libdigi.unicamp.br/document/?down=CMUHE037677
Cruz, Lúcia Pedroso da. Bento Quirino e Cotuca: os passos do ensino profissional em Campinas. Dissertação de mestrado. Campinas: Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 2008. Disponível em http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000435231
d’Ávila, Saul Gonçalves. A indústria petroquímica brasileira. ComCiência, SBPC/Labjor, 10/12/2002. Disponível em http://www.comciencia.br/reportagens/petroleo/pet21.shtml
Editora da Unicamp. Unicamp 35 anos: Ciência e tecnologia na imprensa. Campinas, Editora da Unicamp, 2001. Disponível em http://www.unicamp.br/siarq/pesquisa/livro_35_anos_unicamp.pdf
Fávero, Maria de Lourdes de Albuquerque. Da cátedra universitária ao departamento. Subsídios para discussão. Mimeo. Disponível em http://www.unirio.br/estatuto/Da%20Catedra%20Universitaria%20ao%20Departamento.pdf
Ferreira, Amílcar Figueira. José Pelúcio Ferreira e a Pós-Graduação no Brasil. Brasília: Paralelo 15, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, 2001.
Gardenal, Isabel. Física da Unicamp perde o pesquisador Alvin Elliot Kiel. Disponível em http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2005/06/07/fisica-da-unicamp-perde-o-pesquisador-alvin-elliot-kiel
Germano, José Willington. Estado militar e educação no Brasil (1964-1985). São Paulo: Cortez, 1993.
Gomes, Eustáquio. O Mandarim: História da infância da Unicamp. 2a. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.
Gordon, Ana Maria Pinho Leite. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (1956-2000): Um estudo de caso à luz da história da ciência, da tecnologia e da cultura brasileira. Tese de doutorado. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2003. Disponível em https://www.ipen.br/biblioteca/teses/23457.pdf (acesso em 01/10/2010).
Gremaud, Amaury Patrick; Vasconcellos, Marco Antonio Sandoval de; Toneto Júnior, Rudinei. Economia brasileira contemporânea. 5a. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
Hamburger, Amelia Imperio. Marcello Damy de Sousa Santos. Disponível em http://pion.sbfisica.org.br/pdc/index.php/por/fisicos_do_brasil_memoria/marcello_damy_de_sousa_santos
Kassab, Álvaro. Do porão ao laser. Jornal da Unicamp. Campinas, SP. N. 334, agosto de 2006. Disponível em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2006/ju334pag03.html
Lavandeira, Daniela Cristina Lot. A ação política dos cientistas: o caso da implantação do parque científico e tecnológico de Campinas. Dissertação de mestrado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, 2007. Disponível em https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/422605
Mascarenhas, Yvonne Primerano. Cristalografia no Brasil. Mimeo, 2003. Disponível em http://www.ifsc.usp.br/files/Cristalografia_no_Brasil_2005.ppt
Morel, Regina Lúcia de Moraes. Ciência e Estado: A política científica no Brasil. São Paulo: T.A. Queiroz, 1979.
Motoyama, Shozo. A Física no Brasil. In: Ferri, Mário Guimarães; Motoyama, Shozo (org.). História das ciências no Brasil. São Paulo: EPU, ed. Da Universidade de São Paulo, 1979.
Moura, Laïs Pimenta de. Método de coincidência generalizado para a medida absoluta da atividade de radionuclídeos: aplicação na determinação do coeficiente de conversão interna da transição de 279 keV do Tl-203. Tese de doutorado. Campinas: Instituto de Física Gleb Wataghin, Universidade Estadual de Campinas, 1969. Disponível em http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000195867&opt=4
Nascimento, Paulo. Crônica de um sonho: 40 anos do Instituto de Química da Unicamp. Campinas: Instituto de Química, Unicamp, 2007.
Ribeiro, J. Costa. A Física no Brasil. In: Azevedo, Fernando de (org.). As ciências no Brasil. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.
Salmeron, Roberto A. Gleb Wataghin. Estudos Avançados. Vol.16 no.44. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Jan./Abr. 2002. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142002000100020&script=sci_arttext
Santana, Walker Antonio Lins de. História do Laser no Brasil, 1959-1979: a trajetória do físico Sérgio Porto. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências, Universidade Federal da Bahia e Universidade Estadual de Feira de Santana. Salvador, 2006.
Santana, Walker Antonio Lins de; Freire Jr., Olival. Contribuição do físico brasileiro Sergio Porto para as aplicações do laser e sua introdução no Brasil. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 32, n. 3, pág. 3601 (2010). Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbef/v32n3/v32n3a15.pdf
Savignano, Verónica. Os primórdios das comunicações ópticas no Brasil: 1964-1984. Livreto distribuído no evento comemorativo dos 30 anos da fibra óptica brasileira, em 22 de maio de 2007, na Unicamp.
SBPC. Cientistas do Brasil: depoimentos. São Paulo: SBPC, 1998.
Sugimoto, Luiz. Aos 30, fibra óptica mudou as telecomunicações do país. Jornal da Unicamp. Campinas, SP. N. 359, maio de 2007.
Turtelli, Armando. O porão e as alturas em tempos pioneiros. Jornal da Unicamp, março de 2005. Disponível em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/marco2005/ju281pag17.html
Veja n. 39, pág. 42, O segredo da bola de fogo. São Paulo: Editora Abril Ltda., 04/06/1969.
Veja n. 42, pág. 49, Da bola à superbola. São Paulo: Editora Abril Ltda., 25/06/1969.
Yanoff, Myron; Duker, Jay S. Ophthalmology. Mosby Elsevier, 2a. ed. 2004.
Zawislak, Fernando. John David Rogers. Mimeo. Disponível em http://www.if.ufrgs.br/historia/if50anos/rogers_FZ_1985.pdf
Zwanziger, Marcus. Meus anos verdes no IF-UFRGS, 1960-1975. In: Cinquentenário do Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. UFRGS, maio de 2009. Disponível em http://www.if.ufrgs.br/historia/if50anos/depoimento_zwanziger_sumario.htm
Abner de Siervo
Alex Antonelli
Amir Ordacgi Caldeira
Antonio Manoel Mansanares
Aruy Marotta
Bernardo Laks
Carlos Giles
Carlos Lenz César
Carlos Luengo
Daniel Pereira
Douglas Galvão
Eduardo Miranda
Edson Shibuya
Ennio Peres da Silva
Ernesto Kemp
Eustáquio Gomes
Fernando Iikawa
Fernando Jorge da Paixão Filho
Flávio Gandra
Francisco Marques
George Kleiman
Hugo Fragnito
Iris Torriani
José Antonio Brum
José Antônio Roversi
Júlio César Hadler Neto
Kleber Pirota
Kyoko Furuya
Lisandro Cardoso
Lorena Pozzo
Lucila Cescato
Luiz Marco Brescansin
Luiz Eduardo Moreira Carvalho Oliveira
Marcelo Knobel
Marco Aurélio Pinheiro Lima
Marcus Aguiar
Maria José Brasil
Mário Noburu Tamashiro
Mauro de Carvalho
Mônica Cotta
Munemasa Machida
Newton Frateschi
Omar Teschke
Orlando Peres
Oscar Ferreira de Lima
Pascoal Pagliuso
Richard Landers
Roberto Clemente
Roberto Covolan
Roberto Luzzi
Silvio Bruni Herdade
Varlei Rodrigues
Yakov Veniaminovitch Kopelevich
Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Física Gleb Wataghin
Rua Sérgio Buarque de Holanda, 777
Cidade Universitária, Campinas - SP, 13083-859
Fone +55 19 3521-5297
Fax +55 19 3521-4147