Conjunturas favoráveis 2 e 3: O laser e o Milagre Econômico
Uma nova invenção
Enquanto isso, uma conjuntura favorável de outra ordem se desenvolvia na academia no resto do mundo. Relacionava-se ao grande crescimento da importância do laser, o objeto de estudo de Sérgio Porto e seus alunos e ex-alunos. O primeiro laser havia sido descoberto em 1958 por Charles Townes e Arthur Schawlow (1921-1999), na Bell Labs, e uma versão mais estável, utilizável em pesquisas, foi construída em 1960 por Theodore Maiman (1927-2007), no Hughes Research Laboratories, nos EUA. Primeiramente vistos como "uma solução em busca de um problema", suas aplicações multiplicaram-se rapidamente, primeiro na pesquisa científica, depois nos usos cotidianos. Logo depois da invenção de Maiman, o laser já era largamente usado em estudos físicos. Já em 1961, o próprio Sérgio Porto deu uma contribuição fundamental ao mostrar, juntamente com D. L. Wood, como fazer espectroscopia Raman com laser.
Logo, o novo artefato começou a chegar também na vida das pessoas fora da academia. A primeira cirurgia oftalmológica com laser foi feita já em 1963. Em 1974, ele passaria a fazer parte do cotidiano de homens em mulheres em geral, quando as leitoras de código de barras passaram a funcionar em supermercados.
Charles Townes
Fonte: Nobel Foundation
As fibras ópticas
Mas, para a situação brasileira, talvez os pesquisas mais importantes sobre o laser estivessem na área das comunicações ópticas. No fim dos anos 1960, quando começaram os contatos entre a Unicamp e o pessoal de Porto, davam-se passos importantes nos EUA para conseguir uma fibra óptica capaz de ser usada maciçamente para comunicações. Em 1970, conseguiu-se uma fibra com perda suficientemente pequena para viabilizar essa aplicação. Logo que começaram a chegar no IFGW, os membros da equipe de Sérgio Porto sugeriram ao governo investir em pesquisas sobre comunicações ópticas.
Um sistema de comunicações eficiente ia perfeitamente de encontro aos interesses estratégicos sobre segurança nacional do governo militar, que incluíam a centralização dos sistemas de comunicação e de geração e distribuição de energia, para a integração do país e a ocupação dos territórios pouco povoados e de fronteira. Na época, não existia uma empresa estatal que controlasse todo o processo e havia uma quantidade de usinas elétricas, empresas telefônicas etc. espalhadas pelo país, prestando serviços muitas vezes de má qualidade. O governo militar começou a reverter essa situação com a criação de empresas estatais para centralizar a administração desses setores, como a Eletrobrás e a Telebrás e logo passou a investir em pesquisas para capacitar tecnologicamente o país nessas áreas - que incluíram a sugestão dos unicampestres de fibras ópticas e lasers.
O Milagre Econômico
Uma terceira conjuntura favorável veio somar-se às das políticas públicas e da científica internacional: a financeira. O país vivia o chamado Milagre Econômico, um período de grande crescimento que se seguiu à aguda crise na economia e na política durante a presidência de João Goulart (1961-1964). Os investimentos em infra-estrutura, quase parados até 1964, puderam retornar - inclusive os necessários para a desejada integração nacional. A conjuntura internacional também estava favorável e o governo pôde fazer empréstimos. Isso duraria até 1974, quando a economia brasileira entraria em colapso na esteira da crise mundial iniciada com o Primeiro Choque do Petróleo, desencadeado em 1973 durante a guerra na Palestina.
Tudo isso, evidentemente, eram fatores favoráveis não só ao desenvolvimento do Instituto de Física, mas de toda a Unicamp - e das outras universidades por todo o país, pelo menos de suas áreas tecnológicas (ainda que faculdades de ciências humanas também fossem contempladas pelos programas governamentais de pós-graduação).