O IFGW desde 1980

Trinta anos numa casca de noz

Este texto pretende discutir as origens do IFGW até 1980. Esta seção, portanto, terá um breve resumo do que ocorreu após esse período.

Os microscópios de tunelamento, que permitem visualizar os próprios

Os microscópios de tunelamento, que permitem visualizar os próprios
átomos, causaram grande impacto na física da matéria condensada na Unicamp
e no mundo. Aqui, imagens de um nanofio de ouro se rompendo obtidas por um
microscópio desse tipo (HRTEM).
Fonte: Dissertação de mestrado de Maureen Joel Lagos Paredes (2007), IFGW.

As pesquisas continuaram a se diversificar e acompanharam os novos temas que surgiam ao redor do mundo e as inovações técnicas que possibilitaram novos tipos de investigações. Em 1981, a criação do microscópio de varredura por tunelamento eletrônico (STM, scanning tunneling microscope), por Gerd Binning e Heinrich Roher, na IBM em Zurique, abriu todo um novo campo de estudos sobre novos materiais, pois permitia distinguir os átomos individualmente. Inovações posteriores permitiram manipular átomos e moléculas. A ciência dos novos materiais feita no IFGW foi fortemente influenciada por essas inovações. As possibilidades aumentaram bastante em 1997, quando os membros do Instituto passaram a ter acesso às instalações do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), planejado e construído com participação do Instituto.

Além disso, os enormes avanços nos computadores das últimas décadas também tiveram impacto nos estudos do Instituto de Física em diversos campos. Acompanhar essas inovações nem sempre foi fácil. Destacam-se os esforços, nos anos 1970, de John David Rogers, George Kleiman e Alvin Kiel (1928-2005), que conseguiram trazer um computador VAX para o IFGW no início dos anos 1980, o que representou grande salto nas suas possibilidades computacionais. Esses esforços foram o germe do Centro de Computação do Instituto, com o nome de John David Rogers, fundado pouco depois do seu falecimento, em 1984.

Durante a década de 1980, o avanço na capacidade computacional da universidade e do IFGW provocou mudanças de rumos em algumas linhas de pesquisa - por exemplo, o Grupo de Física Atômica e Molecular, até então restrito a colisões entre elétrons e átomos, passou a estudar também com moléculas (e nos anos 2000 passou a trabalhar com pequenas moléculas orgânicas); outro grupo de colisões surgiu na mesma época (o Grupo de Propriedades Eletrônicas a Partir de Primeiros Princípios, GPEPPP). A partir de 1994, os físicos passaram a usar também os computadores do Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad) em São Paulo, criado em março daquele ano, um dos oito centros semelhantes que formam a o sistema de alto desempenho criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

Novas áreas apareceram nos anos 1980. Um Grupo de História e Teoria da Ciência foi fundado por Roberto de Andrade Martins. Vários pesquisadores teóricos dedicados a sistemas fortemente correlacionados e auto-organização instalaram-se principalmente no Departamento de Física da Matéria Condensada. Nos anos 1990, diversos grupos experimentais e teóricos (novos e antigos) passaram a dedicar-se à nanociência - o estudo de estruturas de apenas algumas dezenas de átomos. Isso foi possibilitado pelas técnicas de microscopia descritas acima, que permitiram ver e manipular átomos e moléculas individuais, pegando-os em um ponto e levando-os a outro - o que levou à abertura de uma nova área no mundo todo, a nanociência, com inúmeras aplicações, da computação à farmacologia e grande impacto na pesquisa básica. O assunto se insere na área dos novos materiais, outro grande tema das pesquisas do IFGW que vem se expandindo desde sua fundação.

A partir da década de 1990, vários grupos passaram a incluir nos seus interesses sistemas biológicos (estudos sobre fotossíntese, câncer, efeitos da radiação, efeitos de produtos químicos em membranas celulares etc.), sendo um deles, o Grupo de Biofísica (GB), inteiramente voltado ao assunto. Nesse âmbito, destaca-se o aprofundamento do envolvimento do Instituto com a Física Médica. No início da década de 2000, surgiu um Grupo de Neurofísica articulado com a Cooperação Interinstitucional de Apoio a Pesquisas sobre o Cérebro (CinAPCe) e voltado principalmente ao estudo da epilepsia. Em 2003, foi instituída na Graduação as modalidades Física Médica e Física Biomédica, ao lado dos já existentes Bacharelados em Física e em Física Aplicada e da Licenciatura em Física. De 2007 a 2011, funcionou um grupo voltado a pesquisas com radiofármacos (Grupo de Diagnóstico e Terapia com Radionuclídeos e Dosimetria das Radiações, GDTRDR).

Biofísica no IFGW. Células endoteliais bovinas obtidas

Biofísica no IFGW. Células endoteliais bovinas obtidas com a espectroscopia multifóton.
Fonte: Dissertação de mestrado de André Alexandre de Thomaz, IFGW/Unicamp (2007)

Outro aspecto relevante que se iniciou nos anos 1980 foi o envolvimento estreito do IFGW com grandes projetos e organizações científicas, como o LNLS, o Projeto Pierre Auger (sobre raios cósmicos ultraenergéticos), o Cepof, a Kyatera, o Fotonicom (voltados às comunicações ópticas) e a CinAPCe. Além disso, destaca-se também o envolvimento de diversos físicos unicampestres na formação de empresas de tecnologia de ponta. De 1983 a 2006, foram geradas 12 empresas por pesquisadores do Instituto.

O pós-Zeferino

Houve diversas transformações institucionais pelas quais a Unicamp e o Instituto de Física passaram desde os anos 1980. Em 1978, Zeferino Vaz recebeu sua aposentadoria compulsória, terminando, assim, o período considerado de implantação da Unicamp. Mas permaneceu na instituição, na diretoria da Funcamp. Logo após sua morte, em 1981, houve uma tentativa de intervenção estadual do governo de Paulo Maluf. Alguns diretores de institutos foram removidos do cargo, entre os quais o da Física, Carlos Argüello. Mas a veemência da reação da comunidade e a entrada de alguns dos destituídos na Justiça reverteu a intervenção e os afastamentos e a situação voltou à normalidade, após meses de turbulência.

O final da era Zeferino não significou que a universidade não continuasse se expandindo - em 1986, após a gestão do reitor José Aristodemo Pinotti, a área construída havia mais que dobrado. Seguiram-se também profundas reformas institucionais, inclusive no Estatuto. Isso, em relação à Unicamp como um todo; houve também reformas específicas do Instituto de Física, como a instituição da coordenação entre os cursos de Graduação no início dos anos 1990, a reforma da Graduação do fim da década e a formação do Laboratório Integrado de Ensino de Física (LIF), acessíveis a alunos do ensino médio da rede pública.

Nos últimos 20 anos, o IFGW tornou-se um centro de atração de pós-graduandos vindos de toda a América Latina. Vários professores argentinos já haviam chegado no início da década de 1980 por causa da crise econômica e política em seu país. As pesquisas teóricas e básicas cresceram, alcançando um equilíbrio com as experimentais e aplicadas, predominantes nos primeiros anos do Instituto.