A pós-graduação
Parada e a pós
Em 1970, começou a ser organizada a pós-graduação no IFGW, por Nelson de Jesus Parada, mais tarde com o apoio financeiro principalmente da Finep (mas também do CNPq e da Fapesp). Esse apoio fazia parte de um programa para fomentar esse tipo de curso no país, que começou a ser planejado e articulado já no início do governo militar. O processo culminou em outubro de 1968 com a instituição dos Centros Regionais de Pós-Graduação, articulados com a Capes, o CNPq e o Funtec. De acordo com o plano do governo, projetos de cursos seriam feitos pelas instituições de ensino superior em todo o país e, se aprovados, receberiam financiamento federal.
Os primeiros cursos a serem aprovados foram o mestrado e o doutorado no Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Paraná, já em janeiro de 1969. Os primeiros de Física a receberem a aprovação foram o mestrado e o doutorado do Centro Técnico-Científico da PUC-RJ, em março do mesmo ano. O primeiro da Unicamp foi o mestrado da Faculdade de Tecnologia de Alimentos, em julho de 1970.
Nelson de Jesus Parada, que organizou a pós-graduação no IFGW.
O mestrado e o doutorado em Física do IFGW foram aprovados em 23 de novembro de 1971, quando então o apoio financeiro essencialmente da Finep foi formalizado no âmbito do programa. Mas as pós-graduações já estavam sendo feitas havia já algum tempo. O início efetivo foi em 31 de março de 1970, quando foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo o regulamento do Instituto para esses cursos. Em 1971, foi defendida a primeira pós-graduação orientada por César Lattes (1924-2005). Em 1972, começam a serem defendidas as orientadas pela equipe de Estado Sólido.
A pré-história da pós-graduação no IFGW
A pós-graduação no IFGW só foi instituída em 1971, mas no acervo de teses e dissertações da sua biblioteca há oito defendidas em 1969 e 1970. Isso pôde acontecer porque naquela época, em que o Instituto ainda estava sendo formado, era possível fazer um doutorado com muito mais informalidade do que hoje; muitas vezes, as coisas eram combinadas apenas verbalmente.
Desse conjunto de oito doutorandos pré-1971, porém, apenas um, Zoraide Argüello, trabalhava na Unicamp. Nas outras, as pesquisas e as aulas aconteceram em outros lugares e apenas a defesa foi realizada em Campinas. Mesmo na de Zoraide, as pesquisas ocorreram na Bell Laboratories, nos EUA, onde trabalhava seu orientador, Sérgio Porto, que então já interagia bastante com o Instituto de Física.
Os outros sete doutorandos fizeram todo o trabalho no Instituto de Energia Atômica (IEA), hoje Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN), em São Paulo, e tiveram as aulas no IPEN e no Instituto de Física da USP. Foram orientados por Marcelo Damy de Souza Santos, que trabalhava lá (enquanto era também diretor do IFGW).
Quem eram essas pessoas e por que defenderam suas teses na Unicamp?
Dessas sete teses, quatro foram defendidas por membros de um dos grupos de pesquisa do IPEN, o Grupo de Espectroscopia de Nêutrons (Silvio Herdade, Laércio Vinhas, Antônio Fulfaro e Cláudio Rodrigues). As outras o foram por Laïs Pimenta de Moura, Achilles Suarez (de um grupo de dosimetria de nêutrons) e Manuel de Abreu (que trambém trabalhava com seções de choques de nêutrons, mas em outro grupo). A primeira a ser defendida o foi em 7 de maio de 1969 por Silvio Bruni Herdade (atualmente pesquisador do Instituto de Energia e Eletrotécnica - IEE -, na USP).
O que esses cientistas pesquisavam? Os estudos do Grupo de Espectrometria de Nêutrons usavam os nêutrons produzidos pelo reator nuclear do IPEN para a Física do Estado Sólido - os nêutrons eram usados como "sondas" que, ao atravessarem um material, saíam pelo outro lado carregando informações sobre a estrutura sua atômica e molecular. O grupo foi constituído justamente porque, na época, alguns pesquisadores avaliavam que um reator nuclear não seria adequado para estudar física nuclear, pois esta precisa de nêutrons com energia bastante precisa e as partículas produzidas pelos reatores apareceriam com energias demasiadamente dispersas para isso. Para esse fim, segundo esses cientistas, seria melhor usar aceleradores de partículas, como o betatron construído por Damy no IPEN, pois eles podiam produzir nêutrons com energias mais precisas. A Física do Estado Sólido, por outro lado, não precisava de energias tão específicas assim, de modo que o reator do IPEN poderia ser usado para essa área. Constituiu-se então um grupo cujo objetivo era usar os nêutrons para esse fim. Além dos pesquisadores citados, também fizeram parte da formação inicial Lia Amaral e Carlos Parente. Para adquirir know-how nas técnicas necessárias, convidaram um pesquisador do Instituto de Tecnologia de Estocolmo, K. E. Larsson. N Nereson, de Los Alamos, nos EUA, também integrou o grupo, como professor visitante.
É difícil saber por que Damy decidiu defender essas teses na Unicamp. Ele era responsável pela implantação do Instituto de Física e pensava em um departamento de Física Nuclear. Uma possibilidade plausível é ele ter usado a defesa das teses para dar mais solidez ao futuro do Instituto. Essas sete defesas, porém, não parecem ter tido consequências importantes na evolução do IFGW, pois seus doutorandos permaneceram no IPEN ou na USP e, com a saída de Damy do IFGW, a parte de física nuclear acabou não sendo implementada.