Do Ateneu Paulista ao esboço do novo campus
Com espaço para as atividades universitárias e um corpo docente já em fevereiro de 1967, a primeira aula de Física da Unicamp pôde acontecer já em 25 de abril do mesmo ano, como consta no caderno de registros do Instituto. O assunto era "Introdução histórica à Óptica Clássica". Seguiu-se, no mesmo dia, "A Óptica do ponto de vista da Física Moderna" e, nas aulas seguintes, desenvolvimentos de aspectos específicos da Óptica.
O anexo do Ateneu Paulista - Mas o prédio do Bento Quirino era pequeno demais para as novas instalações da Unicamp. Durante o segundo semestre de 1967, outros aluguéis foram sendo feitos. Para as aulas da área de Exatas, foi alugado o prédio anexo do Colégio Ateneu Paulista, no centro da cidade, na esquina da rua Dr. Quirino com a 14 de Dezembro. Até então, naquele edifício de três andares funcionavam os laboratórios da escola. O contrato de aluguel foi feito em 3 de agosto de 1967 e estipulava que a Unicamp poderia utilizá-lo por 23 meses, com prorrogação automática por mais seis.
O anexo do Colégio Ateneu Paulista, onde funcionavam as aulas das Exatas da Unicamp em 1967 e 1968
Fonte: Museu da Imagem e do Som de Campinas, apud Nascimento (2007), pág. 20
Nos dois andares de baixo funcionavam as aulas de laboratório – as de Química no térreo e as de Física no primeiro. As aulas teóricas aconteciam no segundo andar, num grande auditório de 50 metros. Estas eram dadas para as turmas de toda a área de Exatas juntas – Física, Química, Matemática e Engenharias Elétrica, Mecânica, Civil e de Alimentos. Os alunos ingressavam por meio do vestibular no curso para Exatas e só no terceiro ano optavam entre uma das áreas. Havia aulas de Matemática, Estatística, Desenho Técnico, Sociologia, Biologia, Física, Química e Estudo de Problemas Brasileiros.
Os estudantes, por sua vez, eram em sua maioria de fora de Campinas e por isso moravam em diversas repúblicas no centro da cidade, na rua Culto à Ciência e nas suas proximidades.
As primeiras construções do novo campus - Enquanto isso, eram construídos os novos prédios no campus em Barão Geraldo. Os primeiros foram dois blocos, chamados I e III, onde hoje são, respectivamente, a Diretoria Geral da Administração (DGA) e o Ciclo Básico das Engenharias (o Bloco II foi construído posteriormente). No primeiro, inaugurado em 16 de agosto de 1968, foi instalado o Instituto de Biologia, que até então funcionava em dependências da maternidade. A construção do resto do campus, porém, só teve um progresso real a partir de fins de março de 1969.
Vista de parte da Unicamp, mostrando os dois primeiros prédios construídos (os blocos I e III, à direita, e outras unidades, incluindo o IFGW
Eram necessários também grupos de pesquisa e laboratórios. Para isso - para construir as bases do Instituto de Física da Unicamp -, Zeferino chamou, como vimos, um dos maiores físicos do país, Marcelo Damy de Souza Santos (1914-2009).
Damy planejou o Instituto de acordo com o que ele percebia que seriam as tendências das pesquisas em física dali para a frente, tendo em vista também as tradições acadêmicas brasileiras. Assim, 50% do espaço seria para a Física do Estado Sólido, 25% para os raios cósmicos e 25% para a Física Nuclear, sua própria área.
As tradições acadêmicas brasileiras eram representadas pelos raios cósmicos e pela Física Nuclear, dois ramos da física no qual o Brasil já tinha realizado boas contribuições, com gente como Berhard Gross (1905-2002), Gleb Wataghin, César Lattes e o próprio Damy. A Física Nuclear, na verdade, não chegou a ser implementada, pois Damy saiu do Instituto antes disso.
Marcelo Damy de Souza Santos e Zeferino Vaz no campus com os prédios ainda sendo construídos, no início dos anos 1970
Fonte: Acervo Histórico do Arquivo Central (Siarq)
Raízes da Física do Estado Sólido no Brasil - Já a Física do Estado Sólido era uma inovação, apesar de ser um assunto quentíssimo para a pesquisa tecnológica de ponta (pois lidava com os fundamentos dos lasers, transistores e circuitos integrados). Havia muito poucas pesquisas sobre isso no Brasil, ainda que tenham se destacado precursores importantes como (novamente) Berhnard Gross e Hans Stammreich.
Uma tentativa de retomar a tradição desses precursores já tinha sido feita pelo grupo de Sérgio Porto no ITA nos anos 1950, mas as dificuldades levaram a ele e, depois, outros cientistas do seu grupo a emigrarem para os EUA. Lá, passaram a fazer pesquisas com o recém-inventado laser na mesma instituição em que ele foi criado (em 1958), a Bell Laboratories. Em 1961, Porto, junto com D. L. Wood, deu uma contribuição fundamental à área, ao realizar pela primeira vez espectroscopia Raman com o laser, possibilitando o uso do efeito Raman para as pesquisas sobre estado sólido.
Conforme se verá mais adiante, vários desses pesquisadores acabaram formando o Departamento de Física do Estado Sólido do IFGW no início dos anos 1970 - isso após um de seus alunos, Rogério Cerqueira Leite, ter construído o primeiro laser do Brasil, no ITA, em 1965.