Origens da articulação com o setor produtivo
Interação com os empresários - Outra característica de Zeferino foi fundamental para o desenvolvimento posterior do Instituto de Física: a crença em que parte da pesquisa acadêmica deveria estar estreitamente articulada com a produção industrial. Desde o início, ele fomentou essa interação. A primeira reunião sua com empresários foi em 13 de setembro de 1966. Nesse encontro, explicou-lhes o que era a nova universidade e como seria a aproximação da mesma com a indústria, solicitou o uso de oficinas por estagiários e pediu-lhes que formassem um grupo de trabalho para preparar um anteprojeto dos cursos de Engenharia Elétrica, Mecânica e Química, levando-se em conta as necessidades do setor produtivo. Várias outras reuniões se seguiram.
Essa idéia ia de encontro à concepção desenvolvimentista do governo militar que se instalou em Brasília em 1964. Interessado em melhorar e centralizar setores estratégicos, como comunicações e produção e distribuição de energia, e também afim com a idéia de que o progresso da ciência e da tecnologia é condição essencial para o desenvolvimento, o regime passou a agir tanto na frente institucional, criando órgãos como a Telebrás e a Eletrobrás, como na da independência tecnológica, financiando cursos universitários e instituições de pesquisa que formariam os cientistas e engenheiros necessários para isso.
Essa consonância de objetivos facilitaria a cooptação de cientistas de renome, gente experiente, com boa visão das linhas de pesquisa mais promissoras dentro das possibilidades do Brasil e com boa noção de como implementá-las. Por exemplo, quando Sérgio Porto (1926-1979), então já um físico conhecido internacionalmente na área de lasers, foi convidado por Zeferino para deixar seu emprego nos Estados Unidos e vir para a Unicamp, condicionou sua ida a um financiamento de 2 milhões de dólares para que pudesse construir um novo departamento (o de Eletrônica Quântica). A soma foi-lhe garantida pelo ministro do Planejamento, José dos Reis Veloso, e ele foi.
Consequências para o Instituto de Física e para Campinas - Parte do Instituto de Física seria influenciada por essa conjuntura. O viés desenvolvimentista de Zeferino e as boas possibilidades de financiamento ligadas à área tecnológica - bem como o magnetismo pessoal do reitor, "capaz de vender geladeira a esquimó dizendo que faz hambúrguer", nas palavras de José Ellis Ripper - foram capazes de cooptar uma primeira leva de pesquisadores que contribuiu para levar adiante o paradigma de pesquisa aplicada.
O resultado foi uma intensa interação com empresas, um equilíbrio entre a pesquisa básica e aplicada e o envolvimento direto do Instituto na formação de diversas indústrias de tecnologia. Entre 1983 e 2006, foram geradas 12 empresas a partir dos quadros do IFGW, segundo a agência Inova Unicamp. A atuação do Instituto, conjuntamente com outros da Unicamp, tornou Campinas um pólo de atração para outras empresas se instalarem ao redor da cidade.