Henrik Rudolph, professor da Faculty of Military Sciences (FMS) do Ministério da Defesa dos Países baixos e editor-chefe da revista Applied Surface Science, ministrou interessante Colóquio intitulado “Publicar ou Padecer?” na tarde desta quinta-feira 05 de abril no auditório do IFGW. O evento é promovido mensalmente pela Coordenadoria de Pós-graduação do Instituto.

Segundo o Prof. Marcos César de Oliveira, Coordenador da Pós-Graduação, o colóquio vai de encontro aos objetivos da Coordenadoria para a expansão dos conhecimentos e técnicas que podem ser utilizadas pelos alunos, nesse caso, na produção de artigos científicos. “Nós sempre procuramos trazer palestrantes que contribuam substancialmente para a formação de nossos alunos”, comentou o professor.

O Prof. Marco Aurélio Pinheiro Lima apresentou o palestrante e contou que foi seu colega na época em que trabalhou como professor visitante no California Institute of Technology, o Caltech, nos Estados Unidos. “Em seu colóquio o Prof. Henrik gentilmente compartilhará conosco seus conhecimentos profissionais de editor-chefe de importante revista científica, o que certamente fará diferença na hora de prepararmos um artigo para publicação”, finalizou o professor.

No início de sua apresentação Henrik mostrou através de mapas que os Países Baixos têm 30% de seu território localizado abaixo do nível do mar e que esse fato sempre foi um desafio para a sua população. Ao mesmo tempo, eles não têm tanta preocupação com o alagamento do território porque seus diques de proteção construídos ao largo de toda a costa possuem quinze metros de altura. “Aprendemos a fazer esses diques por centenas de anos e se precisarmos aumentar suas alturas, faremos novamente. É assim que se aprende com o passar dos anos, com os erros e através da ciência e tecnologia desenvolvidas”, exemplificou. Dando sequência, explicou que todos os cientistas têm um objetivo comum: querem ter seus artigos publicados nas melhores revistas e no menor tempo possível. Contou que anualmente cerca de 800 mil artigos são submetidos para publicação nas revistas científicas da editora Elsevier, e que entre 40 e 90% desses artigos são rejeitados. Para realizar esse trabalho a editora conta com 70 mil membros de conselhos editoriais, 7 mil editores, 300 mil revisores que fazem 1,6 milhões de relatórios. “Na Elsevier são 350 mil novos artigos publicados a cada ano por 30 milhões de pesquisadores em mais de 180 países, pertencentes a mais de 4,5 mil instituições. São mais de 480 milhões de downloads de artigos e 18 novas revistas a cada ano. É um trabalho grandioso e que só aumenta ano a ano”, ressaltou Henrik.

Como publicar numa revista Científica? Quais são os passos a serem dados antes de escrever um artigo? Como devo estruturar um artigo?, essas são algumas das questões que todos queriam ver respondidas.

Primeiramente deve se escolher a revista adequada. Uma das maneiras é analisar os objetivos e escopo da revista – texto descritivo da revista que mostra seus assuntos, público alvo, tipo de artigos aceitos, qual a cobertura sobre o campo de atuação etc. “Outra maneira interessante é juntar todos os artigos que se leu e aos quais se vai fazer referências no artigo a ser publicado. Se uma grande parte deles tiverem sido publicados em uma determinada revista, há grandes chances de esta ser a revista correta para a publicação do artigo que está sendo produzido. Mas não se deve fazer o caminho contrário: não se deve referir a artigos de uma revista somente porque se quer que o artigo seja publicado nessa mesma revista, porque ele pode ser rejeitado de qualquer maneira”, observou Henrik. O fator de impacto da revista também pode ser considerado no momento da escolha da revista, ou pode se considerar o aumento do fator de impacto da revista com o passar dos anos. “Muitos autores preferem publicar em revistas com fator de impacto menor, mas que seus artigos sejam lidos e referenciados por outros autores em número bem maior”, concluiu.

Durante a preparação do artigo, o autor deve ter em mente que precisa agradar o editor, os revisores e os leitores. “Todos eles devem se mostrar satisfeitos com a leitura do artigo, senão não funciona”, observou Henrik. Um bom artigo, segundo o palestrante, é aquele que tem uma mensagem clara, útil e empolgante; que é apresentado e construído de maneira lógica e que se faz compreendido facilmente pelos editores e revisores. “Editores e revisores são pessoas muito ocupadas. Façam com que poupem tempo, enviando mensagens concisas e assertivas quando precisarem se comunicar com eles”, aconselhou. Segundo Henrik, para a preparação de um deve-se ter em mãos primeiramente os dados (figuras, tabelas etc) para se inspirar e escrever sobre métodos, resultados e discussões. Na sequência devem ser escritas a conclusão e a introdução e, por último, o resumo e o título.

Revisar muito bem antes da submissão é etapa crucial, de acordo com Henrik. O ideal é que os supervisores e colegas ajudem na revisão. “É aconselhável que um colega de outra área revise o artigo. Ou até mesmo pessoas que não gostam muito de você, porque esses serão implacáveis nas críticas o que, nesse caso, é muito bom”, arrematou. Finalmente deve-se escrever uma carta de apresentação e enviar juntamente ao artigo para o editor da revista. “Tenha certeza que esta carta é uma conversa entre o autor e o editor, e que não será repassada para os revisores. Nela pode-se sugerir revisores ou dizer qual dos revisores o autor pensa ser inadequado para o artigo, devido a conflito de interesses, por exemplo”, comentou.

Depois de enviado deve-se esperar a resposta. O editor faz uma primeira triagem observando tópicos, linguagem, integridade etc. Passando por essa etapa o artigo segue geralmente para dois revisores os quais demoram algumas semanas para responderem através de seus relatórios. O editor decide se aceita ou não o artigo baseado na análise dos revisores e, se ainda restar alguma dúvida, pode pedir para um terceiro revisor realizar mais uma revisão. Após todo esse processo, o editor informa o autor sobre o resultado da submissão. Raramente o artigo é aceito sem ressalvas, é mais comum que o editor sugira melhoras e peça que o autor revise o artigo. “Quando as ressalvas são de menor ordem, o artigo revisado tem grandes chances de ser publicado. As ressalvas de maior ordem também devem ser consideradas e revistas porque ainda assim o artigo revisado tem chances de ser publicado”, observou Henrik. E se for rejeitado? O autor deve submeter o artigo a uma outra revista, mas tem que pensar que se trata e um novo trabalho, fazendo todo o processo de produção novamente e de acordo com as expectativas dos editores, revisores e leitores da nova revista escolhida.

No restante da apresentação, o palestrante versou sobre o importante trabalho de revisor de artigos a serem publicados em revistas. Disse que questões tais como ser realmente um par acadêmico do autor, não ter conflito de interesses com ele e principalmente conseguir revisar o artigo no tempo pedido pelo o editor são os principais pontos que fazem de um pesquisador um bom revisor. Citou ainda as vantagens oferecidas pelas Editoras para os revisores, tais como ferramentas para detecção de plágios, identificação de possíveis outros revisores, acesso irrestrito a tudo o que foi publicado, treinamentos, planejamento de carreira etc.

Após responder a algumas perguntas da audiência, finalizou a sua apresentação desejando a todos uma excelente jornada na produção de artigos.

A Coordenadoria de Pós-Graduação agradece o Prof. Marco Aurélio Pinheiro Lima pela excelente sugestão de colóquio.

Para saber mais:

Applied Surface Science

Elsevier

Colóquio Pós-Graduação - Publicar ou Padecer?