Algumas amigas se encontram sempre na feira livre do bairro. Aos sábados, porque é o dia que dá para ir à feira. Dalí saem conversas sobre a profissão, família, filhos e conselhos sobre relacionamentos. Saem boas risadas e ideias para cada uma ir para casa pensando no que podem contribuir para a melhora do mundo. Pois foi num clima assim informal e ao mesmo tempo de reflexão que aconteceu nesta quinta-feira, dia 08 de março, o evento “Papo de feira com as docentes do IFGW” no auditório do IFGW.

O auditório estava lotado de alunas e alunos, servidores e visitantes interessados em saber mais sobre gênero e ciências. O evento contou com a participação das professoras Alessandra Tomal, Carola Chinellato, Cris Adriano, Cristina Aguilar, Fanny Béron, Gabriela Castellano, Iris Torriani e Mônica Cotta. O Prof. Pascoal Pagliuso, diretor do Instituto, presenteou as mulheres com uma rosa. “É apenas um presente singelo, uma homenagem. Parabéns pelo seu dia!”, falou ao entregar-me a minha. Assim, foram servidos os pastéis e refrigerantes para alegria de todos.

Logo no início, A Profa. Cristina Aguilar deu as boas-vindas aos presentes. Comentou que este encontro se tratava de um momento de continuidade ao evento ocorrido neste mesmo dia, no ano passado, em homenagem a Mildred Dresselhaus (1930-2017)- cientista americana do MIT- conhecida como “A Rainha do Carbono” por suas importantes contribuições às ciências dos materiais carbonosos.

Na sequência, muitos se emocionaram ao assistirem o vídeo em homenagem ao dia Internacional da Mulher preparado pelo servidor Oswaldo Lopes que mostrava as questões de luta e superação das mulheres e que, ao final, parabenizava todas as mulheres da comunidade do IFGW.

A Profa. Mônica Cotta iniciou sua apresentação contando que fez parte da primeira versão da Comissão de Relações de Gênero da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e por isso acabou se envolvendo com o assunto. Ela participou de duas conferências. Contou um pouco da história do dia Internacional da Mulher, enfatizando que existem algumas versões históricas para esse dia. “A ONU instituiu o 08 de março como Dia Internacional da Mulher em homenagem às mulheres mortas em São Petersburgo, Rússia, quando fizeram uma greve em protesto pela falta de alimentos, pouco antes da revolução bolchevique. Anos antes desse episódio existiram outros movimentos nos Estados Unidos que eram associados a movimentos socialistas e exigiam melhores condições de trabalho para as mulheres”, explicou. Citou como exemplo a conquista do direito ao voto. Até 1990 existiam regiões da Suíça onde as mulheres não podiam votar. “Então esta não é uma luta tão antiga assim”, comentou. Em seguida, discorreu sobre o papel das mulheres na ciência ao citar exemplos de cientistas internacionalmente reconhecidas como Marie Curie, Ada Lovelace, Emy Noether e Lise Meitner. “O que está acontecendo hoje é um movimento de resgate da memória das cientistas importantes dirigido para a população em geral. Precisamos atrair os melhores talentos e recrutar as mulheres para ciência e assim trazermos visões diferentes, experiências diferentes e formas de pensar diferentes. Fomos formadas de maneira diferenciada e isso se reflete na nossa forma de fazer ciência”, observou.

Como exemplo de dados de gênero e grau de escolaridade, destaco um gráfico mostrado pela professora que foi tirado de uma pesquisa onde constam os números em porcentagem de homens e mulheres de acordo com o grau de instrução. Conforme o grau de instrução vai aumentando, vai diminuindo o número de mulheres. “A sociedade como um todo deveria fazer um esforço conjunto para que as meninas não desistam de estudar”, observou a professora. Já nas ciências, mostrou dados de dois gráficos tirados de pesquisa realizada pela Profa. Márcia Barbosa, do Instituto de Física da Univ. Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): um com os números em porcentagem de mulheres e de homens da Academia Brasileira de Ciências e um outro com os mesmos números nas Bolsas de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Nos dois casos existe avaliação de mérito associada e o número de mulheres é sempre menor. No caso das Bolsas de Produtividade em Pesquisa, nas ciências humanas, biológicas e da saúde observa-se perto de 50% para cada gênero quando se considera os níveis menores das bolsas. Quando se trata dos níveis mais elevados, o número de mulheres é menor. “Nas ciências exatas o número de mulheres é mais baixo qualquer que seja o nível das bolsas. Mas é muito bom sabermos que isso ocorre para tentarmos atrair mais mulheres para a nossa área. As mulheres precisam ter maior representação na sociedade e especialmente nas ciências”, explicou. Mas nem tudo está perdido: todos podemos ajudar a mudar a visão que sociedade tem sobre as mulheres, a sua representação na propaganda, seus estereótipos associados apenas a futilidades e beleza etc. “Devemos divulgar os movimentos que já existem como o He for She – iniciativa da ONU para a igualdade de gênero - ou a #shepersisted do movimento Nevetherless, she persisted. Existem bons vídeos Internet que ajudam as mulheres a terem uma representação menos estereotipada”, adiciona. Como última mensagem a professora disse que todos devemos aprender a reconhecer nossos erros, pois eles são parte da vivência humana, a não nos aborrecermos com as pessoas que os apontam e a fazermos auto avaliações, porque é assim que vamos aprendendo uns com os outros.

Em seguida todas as professoras se apresentaram e a sessão foi aberta para perguntas e colocações. Alguns participantes colocaram questões sobre maternidade e carreira, educação de filhos livre de conceitos machistas, participação efetiva dos pais na educação das crianças, estereótipos de gênero que a sociedade impõe, principalmente no que toca às ciências, e que devem ser evitados na educação etc. O evento cumpriu seu objetivo de abrir espaço para debates desse tipo e para compartilhar experiências e vivências, tudo de uma maneira descontraída e alegre. Papo de feira. Papo de muitas comadres e alguns compadres.

Para saber mais:

A chance das mulheres na Universidade – Revista Fapesp, ed 238, pag 40-43

He for She

Nevetherless, she persisted

Project Implicit – Harward University

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Papo de feira: pastel meeting no dia Internacional da Mulher