A Academia Mundial de Ciências (The World Academy of Sciences, https://twas.org/) anunciou que o Prof. Daniel Ugarte, do Departamento de Física Aplicada do IFGW, foi agraciado com o Prêmio TWAS 2018 em Física, devido a “seu trabalho pioneiro na caracterização de propriedades eletrônicas e estruturais de nanossistemas, incluindo contribuições seminais para o estudo de nanoestruturas de carbono e nanofios metálicos”.

Os prêmios TWAS são concedidos a cientistas que trabalharam e viveram em um país em desenvolvimento por ao menos dez anos antes de sua nomeação. As qualificações necessárias são: a) contribuição em pesquisa científica de importância excepcional para o desenvolvimento do pensamento científico; ou b) contribuição excepcional para a aplicação de ciência e tecnologia no desenvolvimento sustentável. Os prêmios TWAS são concedidos em nove áreas: Agricultura, Biologia, Química, Ciências da Terra, Engenharia, Matemática, Ciências Médicas, Física e Ciências Sociais. Os cientistas premiados devem apresentar sua pesquisa no Encontro Geral Anual da TWAS, quando receberão uma placa comemorativa e USD 15,000 em dinheiro, cada um. Este ano são 12 cientistas premiados: um da Argentina, dois do Brasil (Biologia - Luisa Lina Villa/FM-USP e Física - D. Ugarte/IFGW-UNICAMP); três da China; um do Quênia; um do Mexico; um da Africa do Sul e um da Turquia. Maiores detalhes podem ser obtidos em https://twas.org/article/winners-2018-twas-prizes-announced.

Trajetória da carreira

O Prof. Daniel Ugarte nasceu em Cosquín, Argentina em 1963. Obteve seu bacharelado em Física na Univ. Nac. Córdoba (Argentina) e seu Ph.D. na Université Paris-Sud (Orsay, França, sob supervisão de Pierre Trebbia & Christian Colliex). Depois de um pos-doutorado na Ecole. Polytechnique Federale de Lausanne (Suíça), ele se juntou à equipe do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS, Campinas, Brasil) em 1993. Lá ele projetou e implementou uma Facilidade de Microscopia Eletrônica, que começou sua operação em 1999, sob coordenação do Prof. Ugarte até 2009. Em 2004, ele mudou sua afiliação profissional para o Departamento de Física Aplicada, do Instituto de Física “Gleb Wataghin”, Univ. Estadual de Campinas (UNICAMP), Brasil, onde ele atua como Professor Titular desde 2007. Em 2014, ele realizou um sabático de 12 meses no Dept. of Materials Science and Metallurgy, University of Cambridge, UK.

Ao longo de sua carreira, suas atividades foram relacionadas ao estudo experimental de propriedades estruturais e eletrônicas de sistemas na nanoescala (nanopartículas, nanotubos, nanofios, etc.). Seu trabalho esteve associado principalmente com nanossistemas envolvendo diferentes aspectos de um projeto de pesquisa – síntese, manipulação e caracterização, nos quais sua engenhosidade motivou experimentos de microscopia eletrônica de certa forma não-rotineiros, e frequentemente desafiadores, para alcançar novos conhecimentos. Em 1992, ele descobriu um novo membro dos materiais relacionados ao fulereno quando observou a formação espontânea de nano-cebolas grafíticas quasi-esféricas durante a irradiação por elétrons de materiais carbonáceos dentro de um microscópio eletrônico. Em 1995, ele reportou a fabricaçãoo de um canhão emissor de elétrons por efeito de campo baseado em minúsculos nanotubos de carbono, o que rapidamente se tornou um campo de pesquisa muito ativo. Seu grupo tem feito contribuições significativas para o conhecimento da resposta em termos de condutância quântica para nanofios metálicos gerados por alongamento mecânico. Neste caso, combinando medidas de transporte eletrônico e imagem em resolução atômica em tempo real, ele desenvolveu uma nova abordagem para analisar e prever o comportamento da condutância. É importante enfatizar que esta pesquisa em nanofios incluiu experimentos no estado-da-arte e cálculos teóricos totalmente realizados no Brasil.

Além de suas atividades de pesquisa, o Prof. Ugarte tem estimulado a pesquisa em física experimental e de caráter multidisciplinar, em particular através de laboratórios abertos e focalizando na formação de recursos humanos ‘hands on’. Ele realizou um esforço significativo para desenvolver instrumentação específica para estudar nanoestruturas com experimentos complexos e desafiadores. Considerando o ‘upgrade’ das facilidades de microscopia eletrônica para instrumentação de fronteira (instrumentos com correção de aberração), ele devotou vários anos para o projeto e construção de um prédio com especificação de alto nível (níveis magnéticos e de vibração), adequado para microscópios mais modernos, com corretores de aberração. Este laboratório de microscopia eletrônica foi expandido e transformado em parte do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano).

Vários de seus estudantes de PhD obtiveram Prêmios de Melhor Tese em Física (SBF 2000, SBF 2003, CAPES 2011). Entre 2004 e 2007, ele foi o Coordenador de uma (NANOMAT) das quatro redes brasileiras de nanotecnologia, que incluía 23 instituições e 150 pesquisadores. Ele publicou cerca de 100 trabalhos em revistas científicas, vários deles em jornais de alto impacto (Nature, Science, Nature Nano, Phys. Rev. Lett., Nano Lett., etc.). Seus artigos receberam cerca de ~15.000 citações (Google Scholar). O Prof. Ugarte proferiu cerca de 80 palestras convidadas em conferências internacionais de prestígio, entre elas APS March Meeting, MRS Fall Meeting, Gordon Research Conference, Intern. Microscopy Congress, etc. Ele recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Guggenheim Fellowship (USA), Scopus (Brazil) e Latsis (Switzerland). Em 2012, o Prof. Ugarte foi eleito membro da Academia Brasileira de Ciências.

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