Prêmio Melhor Tese do IFGW vai para investigação de Raios Cósmicos
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Luciene Santos Telli
A tese “Search for point sources of neutrons in the data of the Pierre Auger Observatory” é a vencedora do Prêmio de Melhor Tese de Doutorado do IFGW defendida em 2023. A autora, Danelise de Oliveira Franco, desenvolveu a tese com bolsa do CNPq e sob orientação da professora Carola Dobrigkeit Chinellato, do Grupo de Raios Cósmicos do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia (DRCC). Ao todo, foram 5 teses inscritas para o prêmio. O trabalho de Danelise vai concorrer, agora, ao Prêmio CAPES de Tese 2024 e, também, ao Prêmio Tese Destaque UNICAMP, representando o IFGW.
“Foi uma imensa honra receber o Prêmio de Melhor Tese. Fiquei extremamente feliz e grata por esse reconhecimento, especialmente vindo de um Instituto que teve um papel tão fundamental na minha formação como pesquisadora”, diz a autora da tese vencedora. Ela enfatiza que sua orientadora, a professora Carola, “sempre lhe foi uma fonte de inspiração”. “A chance de interagir com ela e com tantos outros pesquisadores excelentes foi um verdadeiro privilégio”, diz Danelise. Para a pesquisadora, a escolha de sua tese representa uma oportunidade de evidenciar a área de pesquisa em raios cósmicos e astrofísica.
Danelise focou a busca por fontes de nêutrons usando dados de raios cósmicos detectados no Observatório Pierre Auger, que fica na Argentina e é a maior estrutura para detecção de raios cósmicos do mundo. O trabalho abordou uma das maiores questões em aberto na área de raios cósmicos de ultra-alta energia: a identificação das suas fontes. “Nêutrons não têm carga elétrica, sendo assim, não são defletidos (desviados) pelos campos magnéticos interestelares e suas direções de chegada à Terra apontam diretamente para a sua origem”, explica a pesquisadora. “Como nêutrons podem ser produzidos em ambientes astrofísicos próximos às fontes, a identificação de um fluxo de nêutrons de ultra-alta energia levaria à identificação de uma fonte de raios cósmicos nessa mesma faixa de energia”, resume.
A professora Carola ressalta que descobrir as fontes astrofísicas de raios cósmicos de energias ultra-altas tem sido um desafio constante em muitas buscas feitas nos anos recentes nos observatórios de raios cósmicos. “Em particular, a Colaboração Pierre Auger tem dedicado várias análises de dados obtidos no Observatório Auger a esse objetivo”, observa ela, que é membro da Colaboração desde 1994. “Uma dificuldade é que partículas cósmicas carregadas são desviadas em suas trajetórias pelos campos magnéticos que atravessam em seus caminhos até nós. Já a direção de chegada de um nêutron que chega aqui na Terra poderia nos indicar a direção de sua fonte. Apesar de serem instáveis, nêutrons de 1018 eV podem atravessar a nossa galáxia e chegar até nós antes de decair”, explica a professora.
“Quando eu propus o tema da procura por fontes pontuais de nêutrons para o doutorado da Danelise, eu já sabia que ela era uma pesquisadora dedicada e meticulosa. Eu tinha confiança de que ela seria a pessoa indicada para enfrentar o desafio de atualizar uma análise da Colaboração Auger de 2014, agora com dez anos a mais de medidas e com catálogos de objetos astrofísicos mais recentes e atualizados”, diz a professora Carola. A orientadora observa que, “embora a pesquisadora não tenha certificado nenhuma fonte de nêutrons com a significância estatística requerida para uma descoberta, ela pôde estabelecer limites superiores bastante significativos para o fluxo de nêutrons cósmicos de energias ultra-altas”.
Códigos
Danelise desenvolveu todos os códigos computacionais utilizados nas análises estatísticas de milhões de dados, utilizando os catálogos mais recentes e atualizados de fontes astrofísicas disponíveis, fato que chamou a atenção da Comissão Avaliadora do IFGW. A Comissão ressaltou que a análise foi realizada com um volume de dados bem maior e mais precisos, que foram coletados pelo Observatório ao longo de uma década, em comparação aos que haviam sido aplicados nas análises anteriores sobre o tema. Os códigos, de acesso aberto, foram disponibilizados a todos os membros da Colaboração Auger - cerca de 500 pesquisadores de 18 países.
Trajetória
A Comissão também destacou a trajetória de Danelise, que colaborou ativamente com pesquisadores de diversos países e foi coautora, na condição de membro da Colaboração Auger desde 2018, em mais de 27 artigos publicados em revista de grande prestígio internacional. Outro ponto alto foi durante seu último ano de doutorado, quando ela foi indicada para apresentar seus resultados, em nome da colaboração, na mais importante conferência internacional da área de astropartículas, a International Cosmic Ray Conference, em sua edição de 2023 em Nagoya, no Japão.
“É preciso mencionar que tal reconhecimento não é comum numa colaboração de centenas de pesquisadores. A Danelise enfrentou o desafio dessa responsabilidade e fez uma excelente apresentação de seus resultados na conferência”, observou a professora Carola.
“Orientar a Danelise durante o seu doutorado e acompanhar o seu crescimento e amadurecimento profissional foi bastante prazeroso e gratificante para mim. Em todas as nossas muitas reuniões e discussões ao longo dos anos, saíamos sempre com novas ideias de como prosseguir nas análises. Vê-la alçar voo e se aventurar para novos desafios em plagas distantes me dá a certeza de que ela irá continuar progredindo com passos seguros”, elogia a orientadora.
Prêmio Tese Destaque UNICAMP
A tese de Danelise também foi escolhida para representar o IFGW na segunda edição do Prêmio Tese Destaque UNICAMP. A Comissão de avaliação do Instituto analisou 9 teses inscritas para o Prêmio, concedendo menção honrosa ao aluno Hítalo Rodrigues Mendes, e à sua orientadora, a professora Alessandra Tomal, do Departamento de Física Aplicada, pela tese intitulada "Inclusion of charge carriers creation and transport in semiconductor detectors in the PENELOPE Monte Carlo simulation".
O Prêmio Tese Destaque UNICAMP é organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Comissão Central de Pós-Graduação (CCPG), e visa reconhecer e premiar as teses de doutorado de destaque defendidas nos Programas da Unicamp, em todas as áreas do conhecimento. São avaliadas a originalidade do trabalho, metodologia, qualidade da redação e estrutura e organização do texto.
O primeiro colocado recebe R$ 5 mil. O segundo, uma menção honrosa e R$ 3 mil. Autores, orientadores e coorientadores das teses premiadas recebem Diploma de Premiação assinado pelo reitor. O resultado será divulgado no dia 1º de julho de 2024.
Prêmio CAPES de Melhor Tese - Edição 2024
O Prêmio CAPES de Melhor Tese - Edição 2024 vai premiar as melhores teses em cada uma das 50 áreas de avaliação estabelecidas pela Agência e que fazem parte do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A CAPES utiliza, como critérios, a originalidade do trabalho, a relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, a metodologia utilizada, a qualidade da redação, a estrutura/organização do texto e a qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese. Os premiados recebem bolsa de um ano para estágio pós-doutoral, e os orientadores, R$ 3 mil. A divulgação do resultado está prevista para setembro de 2024.
Os premiados ainda concorrem a um prêmio maior - o Grande Prêmio CAPES de Tese. Serão três escolhidos, nas áreas de Humanidades, Ciências da Vida e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. O prêmio será uma bolsa para estágio pós-doutoral em instituição internacional, por até 12 meses, certificado e troféu. Os orientadores dos vencedores do Grande Prêmio receberão um recurso de R$ 9 mil para participação em congresso internacional e certificado de premiação. Recebem certificado também os coorientadores e o Programa de Pós-Graduação. A divulgação dos ganhadores será em dezembro de 2024.
Instituto vem tendo destaque nos últimos anos
O IFGW vem se destacando, nos últimos anos, no Prêmio CAPES. No ano passado, o pesquisador Sérgio Luiz Novi Júnior venceu na categoria Astronomia/Física, com a tese “Investigação da neuroplasticidade funcional no cérebro humano com espectroscopia no infravermelho próximo”. Além do Prêmio CAPES, Novi Jr. ganhou também o Grande Prêmio CAPES de Tese 2023. A tese foi orientada pelo professor Rickson Coelho Mesquita.
Já em 2022, a tese do pesquisador Carlos Alberto Stefano Filho, “Correlatos neurais da prática de imagética motora com neuro feedback”, também indicada pelo IFGW, recebeu menção honrosa da CAPES. Stefano Filho foi orientado pela professora Gabriela Castellano. Em 2020, ganhou o Prêmio a tese “Física de Neutrinos, Fenomenologia de Neutrinos e suas consequências”, defendida por Pedro Simoni Pasquini, sob orientação do professor Orlando Luis Goulart Peres.
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