História do Instituto de Física Gleb Wataghin (1962 - 1980)

O Instituto de Física Gleb Wataghin esteve entre os primeiros a serem instituídos na Unicamp. O início de sua formação está indissociavelmente ligado ao modo como a própria universidade se constituiu.

A Unicamp surgiu a partir de uma campanha em Campinas para ser construída na cidade uma faculdade de medicina. O movimento vinha pelo menos desde 1946, quando o jornalista Luso Ventura (falecido em 1975), editor-chefe do jornal campineiro "Correio Popular", começou a escrever artigos defendendo que uma instituição assim fosse fundada no local.

Após idas e vindas e alguns decretos que ficaram só no papel, a Universidade Estadual de Campinas (então "UEC") foi finalmente criada em 28 de dezembro de 1962. Sua única unidade, então, era a Faculdade de Medicina, que funcionava na maternidade, pois o campus atual ainda não havia sido construído (sua pedra fundamental seria lançada apenas quase quatro anos depois, em 5 de outubro de 1966). A lei de criação (lei 7655/1962), em seu Artigo 28, previa: “a Universidade de Campinas iniciará suas atividades didáticas no ano de 1963, com os seguintes órgãos” – e enumerava oito faculdades e institutos, entre os quais um de Física. Essas unidades, porém, só vieram a ser construídas a partir de 1966, no novo campus.

Edifício da Maternidade de Campinas

Edifício da Maternidade de Campinas, local onde se instalou inicialmente a Faculdade de Medicina. Campinas, SP. 1963
Acervo Histórico do Arquivo Central/Siarq

A Comissão de instalação das outras unidades - Do modo como foi criada, porém, a Unicamp não estava em situação totalmente regular segundo a legislação da época, pois esta exigia pelo menos quatro unidades para que a instituição pudesse ser considerada uma universidade. Diante disso, o Conselho Estadual de Educação propôs ao governador de São Paulo a criação de uma comissão para organizá-la e formar novas faculdades e institutos. Desta iniciativa sairia o Instituto de Física, entre outros.

A comissão foi criada em 9 de setembro de 1965. O cargo de reitor da Unicamp, que já tinha sido ocupado por dois professores – Cantídio de Moura Campos (1889-1972) e Mário Degni (1911-1996) – foi suspenso e o presidente da comissão acumulou a função de reitor pro tempore até que a nova universidade estivesse plenamente instalada. Seu nome era Zeferino Vaz.

O polêmico Zeferino Vaz - Zeferino (1908-1981) era um homem extremamente dinâmico e tinha experiência no ramo - já tinha criado a Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto. Mas era também polêmico. Não só porque tinha sido nomeado pelo governo federal interventor na Universidade de Brasília, em abril de 1964, quatro dias após a mesma ser invadida por tropas do Exército; mas também porque Zeferino, nos anos 1950, havia se manifestado explicitamente contra a instalação de uma faculdade de Medicina em Campinas e em 1959 uma comissão presidida por ele acabou preferindo criá-la em Botucatu (o argumento era que a cidade estava a apenas 100 km de São Paulo e era preciso descentralizar o ensino médico). As pessoas que estiveram envolvidas na campanha pela opção campineira não o viam com bons olhos.

No entanto, o novo reitor entrou de cabeça na nova atividade e, nos 12 anos em que ficou no cargo, gerenciou a formação de uma das mais importantes instituições de ensino superior do país. Além disso, com trânsito tanto na linha dura quanto na linha moderada do governo militar (1964-1985), conseguiu trazer pessoas de todo o espectro ideológico ("dos meus comunistas cuido eu", teria dito a autoridades militares), chegou mais de uma vez a ir pessoalmente às prisões do Dops para soltar estudantes encarcerados por motivos políticos e conseguiu evitar que a Unicamp sofresse intervenções federais. Tudo isso durante o período mais duro do regime, a presidência de Emílio Médici (1969-1974), enquanto instituições congêneres como a USP e a UnB convulsionavam.

Na verdade, Zeferino não era facilmente enquadrável em esquemas no estilo "bom-mau", "positivo-negativo". Várias pessoas que o conheceram testemunham que ele era uma pessoa autoritária, um "senhor de baraço e cutelo" capaz de atropelar quem se punha no seu caminho. Outras pessoas que igualmente o conheceram testemunham indignadas que isso não é verdade e que era alguém afável e compreensivo, ainda que firme. Todos concordam em que tinha grande carisma pessoal e dinamismo.

Zeferino Vaz e Gleb Wataghin durante a visita deste último à Unicamp, em 1971

Zeferino Vaz (à direita) e Gleb Wataghin durante a visita deste último à Unicamp, em 1971