Físico e projetista da NASA, Ivair Gontijo, proferiu um colóquio no auditório do Instituto, organizado pela Coordenadoria de Pós-Graduação do IFGW na tarde deste dia 22 de março.

Para o Prof. Marcos César de Oliveira, Coordenador da Pós-Graduação, a importância desse colóquio está na tentativa de se expandir os horizontes para profissional em Física. “É de muita relevância motivacional para nossos alunos quando temos a oportunidade de ouvirmos as experiências de um profissional brasileiro, que concluiu sua graduação e parte da sua pós em Física no Brasil e que está em posição de destaque na NASA”, comenta o Coordenador.

O palestrante foi apresentado pelo Professor Eduardo Miranda, contemporâneo de Ivair em seus tempos de graduação na UFMG. “Conheci o Ivair quando ele fazia Iniciação Científica em Astrofísica com um colega em comum. Anos depois eu soube que ele estava trabalhando na NASA. Fiquei muito feliz e orgulhoso em saber da notícia e agora vamos todos conhecer a sua trajetória e o seu trabalho”, observou o professor.

Ivair começou a sua apresentação com uma pergunta bem humorada em seu slide: Como você foi parar na NASA?, mostrando duas fotos antigas: uma ao lado de um boi e outra em um Jipe. “Antes de começar a graduação em Física na UFMG eu trabalhei por três anos em uma fazenda porque eu era Técnico Agrícola. Essa história de ter saído lá do interior de Minas Gerais e ter ido trabalhar na NASA está ao alcance de qualquer pessoa. O custo é alto em termos de tempo, de foco, de planos de longo prazo e de muita paciência porque nada acontece de uma hora para outra”, observou o palestrante. Para ilustrar essa viagem de Minas Gerais até a NASA, Ivair usou um filme com o globo terrestre visto do espaço e que, com um zoom, foi parar na cidade de Moema, na casa onde nasceu e passou sua infância. Em um dado momento do passeio, a audiência pode apreciar as “Veredas” vistas do alto, tão famosas pela descrição feita no livro “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa. Perto de uma delas fica a fazenda onde Ivair trabalhou. E foi contando, através do filme, sua trajetória de estudos – da graduação e mestrado na UFMG, doutorado e pósdocs na Escócia - até chegar na Califórnia, para onde se mudou em 1998 porque iria trabalhar no JPL – Jet Propulsion Laboratory – um dos laboratórios mais sofisticados da NASA. Finalizou o trajeto mostrando os edifícios e o campo de testes onde os pesquisadores simulam o terreno de Marte. “Temos uma cópia do nosso veículo que está em Marte e todas as vezes que precisamos mandar um comando novo para lá, nós testamos na cópia. Nesse terreno colocamos rochas sedimentares, rampas, areia etc para termos condições ambientais parecidas com o que sabemos existir em Marte”, explica.

Em seguida Ivair falou dos veículos que foram desenvolvidos e enviados anteriormente para Marte – Pathfinder, Spirit, Opportunity. Eles foram evoluindo em tamanho, peso, tecnologia e quantidade de instrumentos que podiam carregar. Na sequência o palestrante mostrou partes internas do foguete e da cápsula que embarcou o veículo que se encontra em Marte desde 2012 – o Curiosity.

Ivair liderou a equipe que fabricou os transmissores e receptores de micro-ondas que são componentes do radar responsável pelo controle dos retrofoguetes, os quais controlaram a descida final do veículo em Marte nas suas próprias rodas. “As outras equipes comentavam conosco que, se a nossa parte não funcionasse a contento, a missão inteira estaria perdida porque todo o projeto viraria sucata retorcida em Marte a um custo de mais de dois bilhões de dólares. Imaginem a tensão que ficamos nos momentos finais da aterrissagem”, observou. Em um dado momento da descida, um paraquedas de 21m de diâmetro se abriu por cerca de um minuto, diminuindo a velocidade do conjunto. “No momento em que o escudo frontal de calor que protege o veículo caiu, o nosso radar teve que achar o solo. Estávamos a 1,6 km de altura e a uma velocidade de 80 m/s e com um tempo de aterrissagem de quase 6 minutos”, conta Ivair. Explicou que a construção do radar foi baseada em princípios simples de Física: manda-se um pulso de micro-ondas no solo, detectando-se sua reflexão, medindo-se o tempo e calculando-se a altitude. A velocidade é medida por efeito Dopler. “Eram seis canais operando a 20 Hz, ou seja, fazendo o conjunto de medidas vinte vezes em cada segundo, realizando o controle dos retrofoguetes para que o veículo descesse a 3 km/h na vertical e sem componente de velocidade na horizontal. Ou seja, o veículo desceu sobre suas rodas e parou”, comemora.

Através de vídeos de simulação e de imagens reais feitas pelas câmeras instaladas, os participantes viajaram na viagem do Curiosity até seu pouso tranquilo na cratera marciana Gale. “As câmeras tiraram 1200 fotos de alta resolução na descida e elas foram utilizadas sincronizadamente ao que acontecia na sala de controle na Terra para a realização do filme de simulação”, explicou Ivair. O veículo pousou apenas a 1200 m do centro da elipse que fora calculada para seu pouso. O palestrante contou os percalços que ocorreram na hora do pouso por falta de comunicação com o veículo. “Dez minutos antes do pouso conseguimos restabelecer a comunicação, o que foi um tremendo alívio porque corríamos o risco de pousar sem saber como havia acontecido”, observou. Em seguida mostrou o vídeo com imagens do centro de controle da NASA, de universidades, museus, escolas onde as pessoas acompanhavam a chegada em Marte, com toda a comemoração naquela noite de 05 de agosto de 2012. “Ciência e tecnologia pode ser tão emocionante quanto uma final da Copa do Mundo. Muita gente da equipe do projeto foi às lágrimas nesse momento. Eu, como bom Mineirinho desconfiado, só fui acreditar quando vi a primeira foto tirada em solo marciano”, brincou. Depois do pouso, antes de começar a exploração propriamente dita, foram dedicados 21 dias para testes de todas as funções do veículo. Mostrou alguns problemas que estão acontecendo com o veículo, como buracos que apareceram nas rodas do veículo que estão sendo controlados por estudos de novos trajetos onde não se encontram rochas tão pontiagudas e duras.

O palestrante dedicou a última parte do colóquio para falar um pouco sobre o projeto Mars2020 no qual está trabalhando atualmente e que está em fase de implementação. O novo veículo coletará amostras de possíveis traços de material orgânico, colocará as amostras em tubos herméticos e os deixará na superfície do planeta. Uma nova fase da missão levará um pequeno foguete que coletará os tubos e os remeterá para a órbita de Marte. A terceira missão sairia em busca dessas amostras na órbita de Marte para trazê-las para a Terra. As duas últimas missões ainda não têm datas definidas para acontecerem. “Outros projetos de experimentos científicos em Marte estão sendo pensados para essas missões, como por exemplo quebrar moléculas de CO2 existentes em Marte para produção de oxigênio. Estamos pavimentando a estrada para um dia podermos mandar humanos na missão”, conclui.

Ao final Ivair pôde autografar seu livro “A caminho de Marte” para aqueles que compraram na banca instalada pela editora na saída do Auditório.

A Coordenadoria de Pós Graduação agradece o financiamento da CAPES e a Editora Sextante que intermediou a vinda de Ivair e também financiou o evento.

Para saber mais:

Curiosity

A Caminho de Marte

 

Ivair Gontijo narra sua trajetória no Colóquio da Pós-Graduação
Ivair Gontijo narra sua trajetória no Colóquio da Pós-Graduação